São pouco mais de oito minutos de humor demolidor para o assessor de imprensa da Casa Branca. Apenas uma semana depois de estrear a caricatura de Sean Spicer, a atriz Melissa McCarthy volta ao palco do programa Saturday Night Live (SNL) para repetir a imitação, numa nova recriação de briefing para os jornalistas em que Spicer surge ainda mais zangado, mais hostil e mais excêntrico que no programa anterior em que a rábula se estreou.

Tal como na estreia, o novo sketch não deixou de fora nenhuma das polémicas da última semana com a administração Trump. Desde a repetida gaffe da conselheira do Presidente, Kellyanne Conway, sobre um inexistente ataque terrorista em Atlanta, até à promoção de produtos de uma marca de Ivanka Trump, todos mereceram destaque na sátira de McCarthy.

O tratamento ‘Spicy’, como lhe chama a revista Vanity Fair, teve o seu ponto máximo quando a atriz, atrás do púlpito, levantou a perna e exibiu um estampado sapato de salto alto – numa alusão à marca da filha do presidente Trump -, no que muito consideram o ataque mais feroz à figura de Sean Spicer, por ser uma farpa direta à sua masculinidade.

O sketch de McCarthy recuperou ainda boa parte das ideias que fizeram o sucesso do vídeo de estreia. Não faltaram insultos aos media e ataques com objetos e água, o púlpito móvel lançado violentamente contra os jornalistas, as explicações infantis com recurso a bonecos e outros adereços – e, claro, as pastilhas elásticas que ‘Spicey’ se gaba de devorar.

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O próprio contou numa entrevista que engole 35 por dia só numa manhã e, na semana passada, quando lhe pediram para comentar a primeira caricatura que fizeram de si no SNL, o controverso assessor não resistiu a comentar a questão: “Teve piada, sim, mas é melhor ela abrandar o consumo de pastilhas…”, recomendou à atriz.

McCarthy recebeu o recado. E, para o programa de sábado à noite, trocou o punhado de pastilhas com que atafulhou a boca por… uma só pastilha. A questão é que a pastilha era maior do uma tablete de chocolate gigante, o que não fez diminuir o tom satírico à volta desta pequena excentricidade do assessor da Casa Branca.

Embora alguns media avancem que Sean Spicer tenha gostado de se ver caricaturado, Trump, pelo contrário, terá ficado irritado por ver o seu assessor de imprensa retratado por uma mulher, como conta a Vanity Fair. O desconforto na Casa Branca terá mesmo levado o Presidente a pedir justificações a quem o contratou e a pedir que procurem um novo assessor – não para o substituir, mas para reforçar a sua equipa de comunicação e afastá-lo um pouco dos holofotes.

O tribunal de Trump e a perseguição de Conway

O sucesso da primeira rábula sobre Sean Spicer na semana passada não contagiou apenas as redes sociais: inflamou também as audiências do próprio programa. De acordo com dados da Variety divulgados pela Page Six, o programa em que estreou o vídeo com Melissa McCarthy, teve uma audiência de 2,5 no público entre os 18 e os 49 anos. Números que o tornam num dos programas mais vistos nos 22 anos de história do SNL (nesse dia só foi batido pela série da CBS ‘A teoria do Big Bang’).

A produção do programa, que é hoje visto por uma média de 10,6 milhões de pessoas, voltou a arriscar em McCarthy e no efeito ‘Spicy’, não se importando de deixar os espetadores à espera da habitual caricatura de Trump. Esta semana, o sketch de Alec Baldwin ficou guardado para o final do programa em que o ator foi anfitrião pela 17ª vez. A sátira é uma resposta direta ao aviso que o Presidente norte-americano deixara no Twitter quando a justiça negou o seu recurso para fechar de novo as fronteiras a um grupo de países maioritariamente muçulmanos.

“See you in court” – ou ‘vemo-nos em tribunal’ – foi o desafio perfeito para equipa do SNL que não hesitou em recriar uma cena de outro programa, ‘People’s Court’ – uma espécie de ‘O Juiz decide’ na antiga versão portuguesa, para levar o presidente à barra pelo lado da acusação. Um “programa de TV” para um “presidente de TV” em que Trump enfrentou três juízes que não lhe fizeram a vontade.

As rábulas do SNL não se ficam por Trump nem por ‘Spicey’. No mesmo programa, também a conselheira Kellyanne Conway é caricaturada pela atriz Kate McKinnon, que recria uma cena do thriller ‘Atração Fatal’. Neste caso, a personagem simula a perseguição a um executivo do canal de televisão CNN, invadindo o seu apartamento em Nova Iorque.