Tudo começou quando Jose Moran, há quatro anos e meio operário da fábrica da Tesla em Freemont, na Califórnia, decidiu publicar um post (na íntegra aqui) dedicado às condições de trabalho impostas pela marca de Palo Alto. Nas suas palavras, o ambiente laboral é marcado por um baixo moral, lesões frequentes, promoções injustas, salários baixos e excesso de horas de trabalho. Terminando com um apelo à constituição de um sindicato na única fábrica de automóveis operada pela Tesla.

A resposta de Elon Musk não se fez esperar. Como sempre através do Twitter, o CEO da Tesla afirmou: “O nosso entendimento é que esta pessoa foi paga pela UAW [n.d.r.: United Automobile Workers, o sindicato que representa os trabalhadores das fábricas das indústrias automóvel, aeroespacial e agrícola dos EUA, Canadá e Porto Rico] para se juntar à Tesla e promover a agitação à volta da criação de um sindicato. Não trabalha, de facto, para nós, mas para a UAW.”

Jose Moran

O empresário foi mesmo mais longe, e acusou a UAW de ser responsável pelo encerramento da New United Motor Manufacturing, a joint-venture formada pela General Motors (GM) e pela Toyota que operou esta mesma fábrica, entre 1984 e 2010. Mais uma vez no Twitter, Musk declarou:

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Sinceramente, considero este ataque moralmente ultrajante. A Tesla é a última marca de automóveis que resta na Califórnia, porque os custos são tão elevados.”

Por seu turno, a UAW, que representa os trabalhadores da GM, Ford e Fiat Chrylser Automobiles nas suas fábricas espalhadas pelo território norte-americano, apressou-se a desmentir tais alegações. Diz que Moran não é pago pela UAW e que espera que a Tesla apresente desculpas ao funcionário. Simultaneamente, confirma que tanto Moran como outros operários da marca abordaram o sindicato, e garante que este está pronto a recebê-los de braços abertos.

Recorde-se que, já por mais de uma vez, Elon Musk alertou os accionistas da Tesla para os riscos de aumentarem os custos de produção, e poderem ocorrer paragens na produção, caso se formasse um sindicato na sua fábrica de Freemont, em que trabalham mais de 6.000 pessoas, cerca de 5.000 das quais operários. O que não seriam boas notícias numa altura em que se prepara o arranque da produção do Model 3, o modelo que poderá, enfim, permitir à Tesla ser mais do que uma marca de nicho.

A fábrica da Tesla em Freemont é a única detida por um construtor norte-americano cujos trabalhadores não são representados pela UAW

Por outro lado, este episódio torna evidente que a UAW tem falhado na sua tentativa de organizar os trabalhadores das marcas japonesas, alemãs ou coreanas instaladas nos EUA, de forma a também os representar. Sendo que, no caso da Tesla, o sindicato afirma que as suas pretensões nesse sentido foram suspensas, nos primeiros anos após a criação da marca, quando a empresa ainda beneficiava do estatuto de startup. Certo é que a fábrica de Freemont é a única detida por um construtor norte-americano cujos trabalhadores não são representados pela UAW.

Quanto a Jose Moran, arrisca-se a ser o elo mais fraco neste processo. Isto a ser verdade que os trabalhadores da fábrica ganham entre 17-21 dólares por hora (abaixo do necessário para viver dignamente na dispendiosa região da Baía de São Francisco), trabalham seis dias por semana e 12 horas por dia, e sofrem frequentemente de lesões infligidas pela maquinaria que têm que operar na linha de montagem.

Por saber está, ainda, da veracidade da alegação de que os trabalhadores têm receio de se pronunciarem sobre este tema devido aos acordos de confidencialidade que assinaram – algo que Musk refuta por completo, afirmando que os ditos mais não visam do que impedir que informação acerca de novos produtos chegue ao exterior, antes do respectivo anúncio ou lançamento comercial.