O presidente do júri do World Press Photo 2017, Stuart Franklin, revelou num artigo de opinião publicado no The Guardian que não votou a favor da imagem vencedora, “An Assassination in Turkey”, que mostra o homem que matou o embaixador russo na Turquia, Andrei Karlov, em dezembro do ano passado.

A imagem, captada pelo fotojornalista da Associated Press (AP) Burhan Özbilici, faz parte de uma série que também conquistou a categoria “Notícias de Última Hora”, que ilustra os momentos anteriores e posteriores à morte do embaixador russo às mãos do polícia Mevlüt Mert Altintas. Num comunicado emitido pelo World Press Photo com a lista de vencedores, uma das juradas, Mary F. Calvet, afirmou que não foi fácil escolher o grande vencedor deste ano.

“Foi uma decisão muito difícil”, disse Calvert. “É uma imagem explosiva que mostra verdadeiramente o ódio dos nossos tempos.”

Apesar de admitir que não existe dúvida quanto ao impacto da fotografia de Burhan Özbilici , Stuart Franklin defendeu que esta só devia ter ganho na categoria de “Notícias de Última Hora”, admitindo tendo votado contra na votação de melhor foto do ano. “Votei contra. Desculpa Bruhan”, admitiu. “É a imagem de um assassinato, com o assassino e o morto na mesma fotografia, e oralmente é tão problemático como publicar um terrorista a decapitar a vítima.”

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Franklin, que presidiu ao júri da 60ª edição do World Press Photo, sustentou ainda que “esta imagem de terror não deveria ser a fotografia do ano”. “Colocar esta fotografia num pedestal tão alto é um convite àqueles que contemplam a espetacularidade destes palcos: reafirma a associação do martírio e publicidade”, considerou ainda.

Apesar de ter elogiado o trabalho do fotógrafo e de ter admitido que este merece reconhecimento, Stuart Franklin recordou que o debate sobre esta questão não é novo e que o seu voto contra se deveu ao facto de recear que os grandes prémios amplifiquem as mensagens de terroristas pela publicidade adicional. “Burhan Özbilici, um funcionário da Associated Press num país onde a liberdade de expressão é constantemente atacada, tinha uma única hipótese. Desempenhou o seu trabalho de forma heroica”, disse, salientando porém que essa não é a questão.

“O que é controverso é que uma imagem que mostra um homicídio premeditado, ocorrido numa conferência de imprensa para maximizar a publicidade, seja a fotografia do ano do World Press Photo.”

Esta é a terceira vez que a cobertura de um assassinato vence o World Press Photo. A imagem mais conhecida foi captada por Eddie Adams em 1968 e mostra os momentos que precederam a execução de Nguyễn Văn Lém, um guerrilheiro vietcong, por Nguyễn Ngọc Loa. A imagem foi ainda galardoada com um Pulitzer. A terceira fotografia, tirada por Yasushi Nagao em 1960, mostra o homicídio de Inejiro Asanuma, líder do Partido Socialista Japonês, pelo jovem Otoya Yamaguchi. Além do World Press Photo, a imagem venceu também o prémio Pulitzer em 1961.

A fotografia vencedora deste ano foi escolhida entre 80.408 fotografias submetidas a competição por 5.034 fotógrafos, de 125 países diferentes. O júri, constituído por fotógrafos de várias nacionalidades, premiou 45 fotógrafos, de 25 países, distribuídos por oito categorias.