A economia portuguesa acelerou na parte final do ano, crescendo 1,4% no ano passado, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), mais que o esperado pelo Governo na sua última previsão feita em outubro, mas 0,4 pontos percentuais abaixo do que esperava no final do ano passado.
A atividade económica abrandou no último trimestre do ano, em comparação com o resultado inesperado do terceiro trimestre (quando havia crescido 0,8%), mas ainda assim a economia cresceu 0,6% no último trimestre do ano face aos três meses imediatamente anteriores, permitindo fechar o ano duas décimas acima do esperado, de acordo com a estimativa rápida do PIB dada a conhecer esta terça-feira pela INE.
A economia terá crescido graças a um aumento da procura interna, que, ao contrário do que aconteceu no terceiro trimestre, contribuiu para o crescimento do PIB. Este aumento da procura interna vem do investimento, e não do consumo privado como a época poderia sugerir. No entanto, o aumento das importações fez com que o contributo da procura externa líquida para o PIB fosse negativo, impedindo assim a economia de crescer mais.
“O contributo da procura interna para a variação em cadeia do PIB passou de negativo no terceiro trimestre para positivo, traduzindo, principalmente, a evolução do Investimento. Em sentido contrário, a procura externa líquida passou a registar um contributo negativo, observando-se um forte aumento das importações totais”, explica o INE.
Depois do resultado conseguido no terceiro trimestre, este é o melhor desempenho conseguido desde o segundo trimestre de 2015, e, juntamente com a aceleração do terceiro trimestre, acaba por permitir chegar a um resultado melhor que o esperado pelo Governo na parte final do ano.
As mais recentes previsões oficiais do Governo foram dadas a conhecer em outubro, na relatório do Orçamento do Estado para 2017, e apontavam para que a economia crescesse 1,2%. No entanto, esta já foi uma revisão em baixa face à expetativa que o Governo tinha tanto em fevereiro do ano passado quando deu a conhecer o orçamento para 2016, reafirmada na atualização do Programa de Estabilidade enviada à Comissão Europeia em abril, onde a previsão de crescimento era de 1,8%.
Com este resultado, se não sofrer qualquer revisão quando o INE publicar o destaque das contas nacionais trimestrais no próximo dia 1 de março, a economia fecha o ano melhor que o esperado pelo Governo, e mais próximo das previsões das organizações internacionais tanto no início de 2016 como no final, mas aquém do resultado obtido em 2015, quando a economia cresceu 1,6%, um resultado que, nas previsões atuais, deve continuar a ser melhor que o deste ano.
FMI foi quem ficou mais perto
Na eterna luta para ver quem fica mais perto de acertar nas previsões, o FMI voltou a ser quem mais perto ficou. Também foi o que mais previsões fez, permitindo ajustar as suas previsões à medida que o ano ia passando.
Ainda assim, no início do ano o FMI, em contraste claro com o Governo, previa que a economia portuguesa não crescesse os 1,8% estimados por Mário Centeno, mas apenas 1,3%. No dia 4 de fevereiro, um dia antes de o Governo apresentar a sua proposta de Orçamento do Estado para 2016 no Parlamento, depois de um período de duras negociações com a Comissão Europeia, o FMI reviu em alta as suas previsões para 1,4%, exatamente o resultado que acabaria por se verificar.
No entanto, o FMI acabaria por rever as suas previsões ao longo do ano e quase sempre no mesmo sentido: em baixa. No final de junho e de setembro o FMI disse que não esperava que a economia portuguesa crescesse mais que 1%. Em novembro ajustou estas previsões para 1,3%, ficando uma décima abaixo do resultado final de 1,4%.
Já a Comissão Europeia parece ter sido, das instituições internacionais, a que mais longe do resultado esteve. No início do ano passado, Bruxelas esperava menos crescimento que o Governo mas mais que o FMI (1,6%). Quando reviu as previsões em maio ainda baixou mais uma décima, mas em novembro o corte foi o maior de todas as instituições: a economia só cresceria 0,9%.
No final acabou por ficar mais perto, uma vez que divulgou previsões atualizadas esta segunda-feira, um dia antes de se conhecer o resultado do INE, e passou a prever o mesmo que o FMI prevê desde novembro, que a economia crescesse 1,3%. Ou seja, com previsões feitas um dia antes do resultado, ficou uma décima aquém.
A OCDE, que ainda há pouco esteve em Portugal a dar a conhecer a sua avaliação da economia portuguesa, é, entre estas, a organização que menos previsões faz. Ainda assim, no início do ano passado tinha previsão de 1,6%, e acabou por rever essa previsão, por duas vezes, em baixa, terminando com a mais recente previsão de 1,2%.