O bastonário da Ordem dos Engenheiros disse esta terça-feira à agência Lusa que a visita à central nuclear espanhola de Almaraz estava agendada há um mês e que a entidade portuguesa foi informada do cancelamento da visita sem qualquer justificação.

“Isto era uma visita que estava combinada e acordada há cerca de um mês. E tinha sido agendada para esta terça-feira por mútua conveniência. Ontem [na segunda-feira], quando vínhamos a caminho, já perto de Trujillo, fomos informados de que a visita tinha sido cancelada, sem qualquer justificação”, explicou Carlos Mineiro Aires.

O bastonário adiantou que, como já se encontrava em Espanha e próximo de Almaraz, a comitiva composta por 10 engenheiros portugueses manteve a intenção de, simbolicamente, se deslocar esta terça-feira, junto da central, o que veio a acontecer de acordo com a própria agenda combinada com os responsáveis espanhóis.

“Na sequência disso, apareceu uma viatura da Guarda Civil, com dois agentes da autoridade, que nos identificou a todos, não sei bem porquê. Acho que é um procedimento normal, não vamos contestar”, frisou.

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A entidade gestora da central nuclear de Almaraz explicou que cancelou a visita de um grupo da Ordem dos Engenheiros portuguesa porque esta entidade alterou os objetivos inicialmente estabelecidos para a deslocação.

Fonte da central de Almaraz disse à agência Lusa que “há dezenas de visitas anualmente de cortesia e de caráter técnico” geral, para explicar às mais diversas entidades “o que é e como funciona uma unidade nuclear de produção de eletricidade”.

Segundo a mesma fonte, a Ordem dos Engenheiros Portugueses pretendia “investigar” as condições de prolongamento da central e a construção do aterro nuclear “e isso não era o tema da visita”.

Contudo, Carlos Mineiro Aires sublinha que toda esta situação acaba por ser má, porque presta um mau serviço à engenharia, à relação entre os dois povos e também por parte de empresas que gerem infraestruturas que têm interesses em Portugal e transfronteiriços.

Adianta que aquilo que estava em causa era precisamente uma ordem tão importante como a dos engenheiros pretender, além de visitar a central, ter respostas a questões muito simples: “Há ou não intenção e vai ser construído o depósito de resíduos e essa construção implica ou não uma intenção do prolongamento a vida da central e da sua exploração”.

O bastonário esclarece que quando se conjuga esta situação com tudo o que se tem passado e que é público, nomeadamente as questões que o Governo português tem colocado a Espanha e a falta de resposta que tem havido, “se se somar isto tudo (…), a Ordem só pode ficar com uma opinião geral má em relação ao resultado de tudo isto”.

Carlos Mineiro Aires sustenta que, das duas, uma: “Ou o resultado do processo é claro e não há nada a esconder ou então quando cancelam a visita e, no fundo, quando barram a entrada, não querem falar [com a Ordem] é porque possivelmente haverá outras coisas que não estão interessados em comunicar”.

Esclarece também que tudo isto não são suposições e adianta que o facto de à última hora “terem dado o dito por não dito”, impedindo a visita à central nuclear “terão motivos fortes para o fazer, mas isso agora competirá à administração da central dizer o que entender em relação a isso”, conclui.

O bastonário diz que pela parte da Ordem dos Engenheiros Portugueses tudo foi feito e adiantou que sai de Almaraz sem ter as respostas, mas também com uma certeza: “Os portugueses perceberam que há uma Ordem e uma profissão que é a dos engenheiros, preocupada com a situação [Almaraz] e que tentou obter os devidos esclarecimentos”.