A humilhação sofrida pelo Barcelona em Paris, na primeira mão dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões, está a marcar a atualidade do dia em termos internacionais. Será o fim do Barça como conhecemos? Foi apenas uma noite que pareceu não ter fim ou o início de várias noites de desassossego para os adeptos blaugrana? Haverá alguma possibilidade de reviravolta?

Uma volta rápida pelos jornais internacionais responde a tudo isso. E, ao mesmo tempo, faz o seu contraditório. Perceba em sete pontos os pecados catalães na noite de sonho do PSG (e não estão todos enumerados, porque amanhã a saga promete continuar).

A transpiração por trás de uma noite inspirada

Olhando apenas para a veia mais romântica do futebol, este poderia ser apenas um jogo “à Barcelona”: mais posse de bola (57%), maior percentagem de eficácia de passe (90% em 580 tentados), menos faltas (apenas 11). No entanto, o banho foi mesmo dado pelos visitados em tudo o resto – mais remates tentados (16-6) e enquadrados (10-1), mais bolas recuperadas (48-37) e mais quilómetros percorridos (113.3-105.1). E foram esses 8.200 metros de diferença que catapultaram as análises sobre a eventual falta de atitude demonstrada pelos catalães.

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Quando o MSN está desligado

No futebol o coletivo deve potenciar as individualidades mas as individualidades também podem maquilhar um mau jogo do coletivo. Essa é uma das vantagens deste Barcelona: quem tem Messi, Suárez e Neymar arrisca-se a ganhar, mesmo quando não merece. Em Paris, tudo se apagou e o argentino foi exemplo paradigmático desse eclipse – não tocou uma única vez na bola na área do PSG em 90 minutos.

Iniesta é um deus do futebol, mas não faz todos os milagres

A forte entrada de Enzo Pérez sobre Iniesta na deslocação do Barcelona a Valencia, em outubro, ligou os alarmes do universo catalão – estaria o “pequeno grande” médio arrumado para o resto da temporada? O pior cenário não se confirmou, o capitão voltou passados dois meses mas… apenas por força de expressão: o número 8 do Barça, o verdadeiro pêndulo do jogo blaugrana, a par de Busquets, continua longe do seu melhor e a equipa ressente-se disso.

Di María, Draxler e uma versão ainda atual do MSN: o M(I)RC

Di María sempre foi um jogador talhado para brilhar nas alturas certas e essa saga começou há quase dez anos, quando marcou o golo decisivo na final do torneio olímpico de futebol em Pequim. Contra o Barcelona, o antigo jogador de Benfica, Real Madrid e Manchester United voltou a destacar-se, bisando com dois remates de fora da área sem hipóteses para Ter Stegen. E, se de um lado, o argentino gritava mata, Draxler, reforço de inverno do PSG, dizia esfola: aproveitando uma clara falha no plantel blaugrana (lateral direito, situação que piorou com a grave lesão contraída por Aleix Vidal), o alemão fez o que quis e foi um perigo constante para a defesa catalã. Além dos mágicos, não faltaram os assistentes do costume: Matuidi e Rabiot a segurarem o meio-campo, Cavani a fazer a diferença na área.

Quem te conhece, teu inimigo é

Unai Emery notabilizou-se ao serviço do Sevilha pelas três Ligas Europa consecutivas que conquistou entre 2014 e 2016 e foi provavelmente essa parte do currículo que mais impressionou os proprietários do PSG na hora de encontrar um substituto para Laurent Blanc. No entanto, as coisas não correram de feição nos primeiros tempos e, em termos internos, chegou mesmo a colocar-se em causa a opção face ao atraso para o líder da Ligue 1 (primeiro o Nice, agora o Mónaco de Leonardo Jardim). Voltaram as provas europeias, regressaram as noites de sonho de Emery. E a forma como o PSG abafou os pontos fortes do Barça potenciando as suas fragilidades, tem dedo do treinador, que defrontou dezenas de vezes os catalães entre Valencia (2008-12) e Sevilha (2013-16).

Balneário partido?

De acordo com o programa “El Partidazo de COPE”, os jogadores mais importantes estarão desiludidos com Luis Enrique, considerando que o técnico não tem aquele toque de Midas para transformar os piores resultados nas melhores redenções. E já se sabe para que lado costuma partir a corda quando fica esticada entre treinador e atletas…

Uma história que terá de ser reescrita

Desde 1955, ano em que começou a ser disputada a Taça dos Clubes Campeões Europeus, entretanto rebatizada de Liga dos Campeões, nunca uma equipa conseguiu reverter uma desvantagem de quatro golos trazida da primeira mão. E até se baixarmos a fasquia para três, isso aconteceu somente uma vez: em 2003/04, e depois de ter perdido por 4-1 em San Siro frente ao AC Milan, o Deportivo venceu na Corunha por 4-0 e apurou-se para as meias-finais, onde perderia contra o FC Porto de Mourinho futuro campeão europeu. Atrás do Real Madrid no campeonato e sem Champions, sobra apenas a Taça do Rei.