Há quatro semanas à frente da Casa Branca, Donald Trump não poupa nas críticas: ora aos media ora à anterior administração de Barack Obama. Numa conferência de imprensa em que anunciou o nome do secretário do Trabalho, Alexander Acosta, o primeiro hispânico a integrar a sua equipa, o presidente norte-americano fez duras críticas à imprensa, voltando a acusar os jornalistas de produzirem “notícias falsas”, e queixou-se da “herança” que recebeu: “Uma confusão”.

As críticas ao primeiro mês de mandato têm sido muitas e audíveis, mas é com críticas que Donald Trump responde. Numa longa conferência de imprensa na Casa Branca, o presidente norte-americano fez um retrato negro daquilo que encontrou no país e no mundo quando se sentou na Sala Oval. “Para ser honesto, eu herdei uma confusão, em casa e no estrangeiro, uma confusão”, disse, afirmando que os “postos de trabalho estão a fugir do país, com as empresas a fixarem-se no México e noutros países”.

Mas Trump quis deixar claro que iria tratar do assunto e resolver “os problemas”. “Vamos tratar de tudo, só queria que soubessem que herdei uma confusão”, repetiu, citado pelo New York Times. E desdobrou-se de seguida em auto-elogios. “Acho que nunca houve um Presidente eleito que fez em tão pouco tempo aquilo que nós fizemos”, disse, acrescentando que “ainda nem começamos o maior trabalho”. Esse, disse, virá “para a semana”.

Numa altura em que ainda se discute em tribunal a ordem executiva que assinou no início do mandato para proibir a entrada no país de cidadãos de sete países de maioria muçulmana, Trump garante que não fica por aqui. Apesar das fortes críticas às restrições anti-imigração, o presidente norte-americano anunciou que se prepara para assinar uma nova ordem executiva para “compreensivamente proteger o nosso país”. Já na semana passada tinha dito que iria tomar uma atitude em relação a essa questão o mais tardar na próxima segunda-feira. Resta saber o que fará e em que consistirá o próximo decreto-lei.

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Mas os seus auto-elogios incluíram alguns erros factuais. A dada altura, Donald Trump garantiu que a sua vitória em número de votos do Colégio Eleitoral, na eleição do passado dia 8 de novembro, tinha sido “a maior vitória desde Ronald Reagan”. Mas depressa um jornalista o questionou sobre essa afirmação, uma vez que não é factualmente verdade: Barack Obama, Bill Clinton e George Bush tiveram mais votos do que Donald Trump. Perante a questão, o atual presidente limitou-se a chutar para canto: “Foi a informação que me deram”, disse, culpando assim os assessores pelo erro de informação.

Ainda a respeito de informação, Trump não terminaria a conferência de imprensa sem mais recados e críticas aos media, que acusa de propagarem “fake news”, ou seja, notícias falsas, nomeadamente sobre os alegados contactos que a sua campanha teve com a Rússia no processo eleitoral que o elegeu.

Segundo Trump, alguns meios de comunicação não falam para o público, mas para atender a interesses privados. E as críticas foram duras: “A imprensa ficou tão desonesta que, se não falarmos sobre isso, não estaremos a fazer um bom serviço ao povo americano”, disse. “O nível de desonestidade está fora de controlo”, acrescentou, culpando os media das “fugas de informação” que levaram, disse, à renúncia do seu conselheiro para a segurança nacional, Michael Flynn.

Mas aqui a culpa vai também para os próprios serviços secretos norte-americanos, que Trump acusa de terem “passado de forma ilegal” informação secreta para os media. No Twitter, as críticas e acusações têm sido recorrentes.

Em causa está uma notícia do The New York Times, que acusava os serviços de inteligência de intercetaram chamadas e terem registos telefónicos que mostram que membros da campanha de Trump “mantiveram contactos repetidos com membros da comunidade de serviços de informação da Rússia no ano que precedeu as eleições”. Trump diz que são “notícias falsas” e desconfia mesmo dos próprios serviços secretos, suspeitando que tenham sido as agências a passar a “informação falsa”.