Pode haver um caso de “cadeira-vazia” na comissão de inquérito à Caixa Geral de Depósitos: o PSD ameaça retirar-se da comissão, tal como fez esta quinta-feira o presidente do órgão, José Matos Correia. O vice-presidente da bancada do PSD, Hugo Soares, anunciou esta quinta-feira à saída da comissão de coordenadores do inquérito parlamentar que “vai ponderar qual é a sua posição política de futuro relativamente a esta comissão de inquérito“. Até terça-feira, o PSD dirá se fica ou sai.

Hugo Soares deu até a entender que o partido está mais inclinado a sair, alertando que “o que se passa é demasiado grave para não ter consequências e para que não se tire ilações”. Quanto ao CDS, que até agora tem estado sempre de acordo com o PSD, fica até ao fim.

O dirigente da bancada do PSD denuncia que a esquerda tem operado “um atropelo democrático” na comissão, que considera ser também um “boicote ao funcionamento das instituições democráticas”. Hugo Soares adverte que “as palavras têm peso, têm significado e têm sentido”, sugerindo que o PSD pode passar das palavras aos atos. Para já, não nomeia presidente e adia a decisão cinco dias.

Já o CDS garante que fica até ao fim. O coordenador dos centristas na comissão, João Almeida, explica que o CDS “não abandona os lugares a que tem direito pelo funcionamento normal da democracia”. E acrescenta: “Não abandonamos comissões. Nunca o faremos porque seria um desrespeito pelos mandatos que exercemos em nome dos portugueses“.

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O CDS adverte, no entanto, que o que se tem passado na comissão de inquérito “não prestigia o Parlamento”, denunciando “atropelos à normalidade democrática”. João Almeida pede a todos os partidos que “ponderem aquilo que seja a continuidade dos trabalhos da comissão”, no sentido de deixarem de existir atropelos às intenções dos requerentes.

O presidente em exercício da comissão, Paulo Trigo Pereira foi o primeiro a falar à saída da reunião de coordenadores para anunciar que foi agendada nova reunião para terça-feira, esperando que os partidos requerentes, “que têm a responsabilidade de nomear um novo presidente”, o façam rapidamente para que seja retomado o normal funcionamento da comissão. O deputado do PS avisou que aceita conduzir os trabalhos “interinamente”, mas não está disponível a ficar no cargo muito tempo, nem “até ao final desta comissão, que será a 26 de março”.

O coordenador dos deputados do PS, João Paulo Correia, lamentou que o PSD tenha criado “mais um incidente” e garantiu que os socialistas continuam “empenhadíssimos” em cumprir o objeto da comissão. O deputado do PS espera que “o trabalho seja retomado quanto antes” para que possam seguir os trabalhos da comissão.

Também o deputado do PCP, Miguel Tiago, considerou que a vontade do “apuramento da verdade esbarrou na tentativa do PSD de transformar estar comissão de inquérito num circo e contra a Caixa Geral de Depósitos”. O Bloco de Esquerda, através do deputado Moisés Ferreira, acusou PSD e CDS de não quererem “discutir o objeto da comissão de inquérito” e de optar por alimentar um “folhetim e novela” e de “deixar a comissão em suspenso, sem poder trabalhar.”

Ao que o Observador apurou o PSD está, neste momento, a estudar todas as possibilidades: ou fica na comissão e nomeia novo presidente; ou sai da comissão; ou constitui uma nova comissão de inquérito. Pode ainda criar uma situação de impasse, não nomeando novo presidente e esperar pelo fim do mandato da comissão, que termina dentro de pouco mais de um mês. Os coordenadores do inquérito à Caixa Geral de Depósitos reuniram-se na tarde de quinta-feira, após o deputado José Matos Correia se ter demitido de presidente desta comissão parlamentar durante a manhã.