Durante quase uma década, o caso Nóos abalou a credibilidade da Casa Real espanhola. O rei Juan Carlos cortou relações com a filha, a infanta Cristina, e o seu sucessor e irmão, Felipe VI, retirou-lhe o direito a utilizar o título de Duquesa de Palma. A infanta e o marido, Iñaki Urdangarin, abandonaram o país. Exilaram-se primeiro em Washington, depois em Genebra e agora a infanta deverá mudar-se para Lisboa. A sentença foi lida esta sexta-feira: Cristina foi absolvida e Urdangarin condenado a seis anos e três meses de prisão. Conheça os principais detalhes do caso que dividiu a Coroa de Espanha.

Tudo começou em 2006, com a publicação de uma manchete do El Mundo a denunciar alegados pagamentos irregulares entre o governo das Ilhas Baleares e o Instituto Nóos, uma suposta empresa sem fins lucrativos, presidida por Iñaki Urdangarin. No entanto, só cinco anos depois, em 2011, é que a justiça espanhola começou a investigar o caso, quando foram descobertas mais evidências de que Urdangarin estaria a desviar fundos públicos para as suas empresas privadas.

O Instituto Nóos, explica a imprensa espanhola, era uma empresa de fachada que Diego Torres fundou em 1999 e que só começou a ter atividade real quando Iñaki Urdangarin se juntou à firma. Enquanto membro da Casa Real (por ser marido da infanta Cristina, filha do Rei Juan Carlos), Urdangarin aproveitou para obter contratos com entidades públicas para o Instituto Nóos, levando a empresa a ter lucros de 17 milhões de euros em apenas dois anos.

As suspeitas apareceram quando o Instituto Nóos começou contratualizou com os governos regionais das Baleares e de Valência a realização de eventos que teriam custos reais bem inferiores, de cerca de dois milhões. O dinheiro obtido através destes contratos era depois enviado a partir do Instituto Nóos para empresas privadas dos dois sócios da firma, Urdangarin e Torres.

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É aqui que entra a Casa Real, uma vez que o dinheiro foi desviado para a Aizoon, uma empresa que era propriedade dos duques de Palma de Maiorca, Cristina e Urdangarin, cada um com 50% do capital. O dinheiro era depois utilizado pela infanta Cristina e pelo seu marido para fins pessoais, mas sempre declarado como parte da atividade empresarial da Aizoon.

Em 2014, Cristina e Urdangarin foram formalmente acusados de fraude fiscal e de branqueamento de capitais. Por esta altura, já os duques viviam foram do país e a credibilidade da Casa Real estava muito diminuída. Começava um longo caminho na justiça, que viria a acentuar-se no início de 2016, com o arranque do julgamento, que se prolongou durante o ano.

As relações entre a infanta e a Casa Real deterioraram-se desde então. O seu pai, o rei Juan Carlos, afastou cada vez mais a filha, que foi até impedida de participar nas cerimónias de coroação do sucessor, o seu irmão Felipe VI. A gota de água para a rutura com a Casa Real foi a retirada, no ano passado, do título de Duquesa de Palma, por parte do irmão, Felipe VI.

Esta sexta-feira, Iñaki Urdangarin foi condenado a seis anos e três meses de prisão, e a uma multa de 512 mil euros. O sócio de Urdangarin, Diego Torres, foi condenado a 8 anos e 6 meses de prisão e ainda ao pagamento de uma multa de 1,7 mihões de euros. A infanta Cristina acabou por ser absolvida, tendo apenas de pagar uma multa de 265.088 euros por ter beneficiado dos crimes cometidos pelo marido sem conhecer a origem criminosa do dinheiro.