Sebastião cá voltasse
Se a moleza se cansasse
Se o Eusébio ‘inda jogasse
Ai que fintas que ele faria um dia…

Se o imposto não subisse
Se o emprego não fugisse
Se o presidente sorrisse
Outro galo cantaria um dia…

Se cá nevasse fazia-se cá ski…
Se cá nevasse fazia-se cá ski…
Se cá nevasse fazia-se…fazia-se…

Há sempre um “se” no caminho
Que me deixa as mãos tão presas
Se eu cortasse o “se” daninho
Talvez me livrasse das incertezas…

Se cá nevasse fazia-se cá ski…
Se cá nevasse fazia-se cá ski…
Se cá nevasse fazia-se…fazia-se…”
Se cá nevasse fazia-se cá ski…
Se cá nevasse fazia-se cá ski…
Se cá nevasse fazia-se…fazia-se…”

Se cá nevasse, bem bom. E lá fora? Slovenia. Quando se fala da Eslovénia, há um nome incontornável: Zlatko Zahovic. Isso só acontece para quem só vê futebol. E futebol. E, vá, mais futebol. Se alargarmos o leque, o futebol é uma migalha minúscula. Veja-se a lista dos prémios para os melhores desportistas do ano desde a independência em 1991: nem um futebolista, masculino ou feminino, entre nadadores, pugilistas, remadores, hoquistas, judocas, atletas de corrida e esquiadores. Entre todos esses, um nome destaca-se dos demais. É o de Tina Maze, seis vezes vencedora em 11 anos, de 2005 a 2015.

Recordista de medalhas da Eslovénia nos Jogos Olímpicos de Inverno, com dois ouros em Sochi-2014 e duas pratas em Vancouver-2010, Maze faz-se campeã mundial em cinco categorias antes de se retirar das pistas há coisa de um mês, precisamente em Maribor, onde dera o primeiro ar de sua graça, em 1999, com a tenra idade de 15 anos. No fim-de-semana de todas as decisões do Mundial em St Moritz (Suíça), com transmissão em direto na Eurosport, conseguimos 11 (o número do futebol, lá estamos nós a bater nessa tecla) minutos de conversa telefónica com a artista eslovena, agora comentadora.

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Alguma vez visitaste Portugal?
Ainda não, infelizmente. A minha irmã é que foi aí e ficou encantada com a paisagem, a ligação mar-terra e a comida. O mais perto que estive foi Espanha e Andorra.

Qual é a tua primeira memória desportiva?
Tinha uns três anos e pratiquei esqui pela primeira vez, atrás da minha casa [Tina nasce em Slovenj Gradec, uma zona montanhosa perto da fronteira com a Áustria]

“The first fall of snow is not only an event, it is a magical event.” Concordas?
Of cooooourse, a primeira queda deixa-te uma marca para sempre. Atenção, a segunda, a terceira, a quarta e etc. também [larga um sorriso espontâneo]. Há algo de mágico na neve, como o esperar pelo primeiro dia. Sabes, aquela sensação de acordar com o desejo de ver um manto branco à nossa volta.

Poissss, não sei.
Aí há sítios com neve?

Há a Serra da Estrela, por exemplo. Só que o resto do país não é assim.
Sem neve?

Quem vive junto à costa, contenta-se (e de que maneira) com o mar.
Nem imagino a minha vida sem neve. Nos meus tempos de miúda, Novembro era o mês em que começava a nevar com regularidade. Vivia-se esse momento com alegria e expectativa. E a neve transmite-nos boas sensações, seja de manhã, à tarde ou à noite. É sempre romântico.

O mar também puxa o romantismo.
Ahhhhh, mas a neve tem outro encanto.

Desisto.
Ahahahahah.

Quem é o ídolo? E porquê?
Ídolo, ídolo [puxa pela cabeça] Diria Tomba, Alberto Tomba. Já o admirava antes de o conhecer pessoalmente, porque era fisicamente forte e artístico nos movimentos. Ganhou muito [três ouros olímpicos e ainda dois Mundiais]. Quando nos cruzámos, conheci o lado pessoal do Tomba, um homem divertido, muito divertido, boa companhia e tranquilíssimo.

Escolheu um homem como modelo?
Desde pequena que admiro imenso a croata Janica Kostelic, mas as mulheres são muito complicadas, muito complexas no esqui. Os homens são mais diretos e práticos na abordagem das pistas e na resolução dos problemas imediatos. Daí que prefira um homem.

O esqui é pura adrenalina. Qual é a sensação de ganhar ou perder por um milésimo de segundo?
Olha, não concordo com a pura adrenalina. Talvez no slalom. De resto, é preciso estar muito atento e na melhor forma possível. E, às vezes, nem assim. Por isso é que se perde por menos de um segundo. É a vida, nem me incomoda por aí além. Cedo me habituei a essa realidade e até houve momentos em que me ri com determinados resultados, como em 2014, nos Jogos Olímpicos Sochi, onde dividi o ouro [com a suíça Dominique Gisin, ambas com o tempo 1:41.57].

Cresceste em Crna, então Jugoslávia, agora Eslovénia. Como viveste essa separação geopolítica?
Era tão nova, não me lembro de nada. A verdade é que ganhei uma corrida na Croácia [outra república da Jugoslávia] e o apoio popular foi extraordinário. Parecia que estava a jogar em casa.

Tocas piano desde pequena e já tiveste um hit musical, com My Way Is My Decision. Se escolhesses uma música para definir a tua carreira, qual seria?
Uyyyyyy, essa é boa. Uma música que integre a minha complexidade infinita? Curioso, sabes? Há dias alguém me perguntou isso e fiquei a pensar no assunto até encontrar a resposta certa: Try, da Pink.