No dia em que uma equipa portuguesa conseguiu mesmo ganhar uma etapa da Volta ao Algarve (Amaro Antunes, da W52 FC Porto), Primoz Roglic foi o maior destaque ao garantir a camisola amarela da corrida algarvia, confirmando os bons resultados obtidos nos últimos dois anos. Mas curioso mesmo é perceber que este esloveno de 27 anos teve como momento mais alto da carreira desportiva o Campeonato do Mundo de Juniores de… saltos de esqui.
Leu bem, não é engano: nascido em Trbovlje, Roglic cresceu entre montanhas e cedo começou a entrar em competições de esqui, tendo conseguido o título em 2007 depois de, no ano anterior, já ter terminado no terceiro lugar a prova por equipas. Mas custou. E doeu: umas semanas após o título, sofreu uma grave queda que o deixou inconsciente. Temeu-se o pior, foi de helicóptero para o hospital mas acabou por perceber-se que se tinha safo de boa, traumatismos à parte claro.
Aos 22 anos, percebendo que nunca chegaria ao topo da modalidade, abandonou e dedicou-se ao outro amor: o ciclismo. Esteve dois anos na Adria Mobil, tendo dado o salto em 2015, quando ganhou o Tour do Azerbaijão e o Tour da Eslovénia. No ano passado, já pela Team Lotto-Jumbo (que veio substituir a bem conhecida Rabobank), ganhou uma etapa de contra-relógio no Giro. Nos Jogos Olímpicos, conseguiu um surpreendente 10.º lugar também no contra-relógio. E parece que o melhor está ainda para vir.
Primoz Roglic é apenas um entre muitos atletas que trocam de modalidade com sucesso. Aqui ficam outros sete casos de como se pode tocar mais do que um instrumento sem desafinar.
Johnny Weissmuller
Conhecido por ter sido o primeiro intérprete do filme “Tarzan” (além de galã de fazer parar o trânsito), o americano naturalizado dominou a natação nos anos 20 – conseguiu um total de cinco medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de 1924 e 1928 – mas, ao mesmo tempo, conseguiu ser um dos principais elementos da equipa de pólo aquático que venceu o bronze nos Jogos de 1924. Duke Kahanamoku é outro exemplo de campeão na natação… e “pai” do surf.
Fred Perry
O inglês que ganhou na década de 30 os quatro principais torneios de ténis (Open da Austrália, Roland Garros, Wimbledon e US Open) e foi durante muito tempo número 1 do mundo tinha jeito para as raquetes… de qualquer tamanho: em 1929, ainda antes de dominar o ténis, sagrou-se campeão mundial de ténis de mesa.
Wilt Chamberlain
O melhor marcador de sempre da NBA – que ainda hoje lidera também a melhor pontuação de sempre num jogo: 100 pontos – esteve seis anos numa equipa de voleibol antes de passar pelo atletismo (salto em altura e lançamento do peso, além de corrida), contando ainda com ofertas para se iniciar no boxe e no futebol americano antes de apostar no basquetebol. Michael Jordan, outro dos melhores de sempre da NBA, passou pelo beisebol.
Carl Lewis
O americano foi um dos melhores de sempre no atletismo, distinguindo-se não só pela velocidade mas também pela versatilidade – ganhou nove medalhas de ouro e uma de prata nos Jogos Olímpicos de 1984, 1988, 1992 e 1996, nos 100 metros, 200 metros, 4×100 metros e salto em comprimento. Ainda assim, não resumia a vida desportiva às pistas e, em 1984, foi escolhido no draft pelos Chicago Bulls (basquetebol) e pelos Dallas Cowboys (futebol americano), não tendo contudo chegado a estrear-se por qualquer uma das equipas.
Lance Armstrong
O (provavelmente) mais odiado ex-desportista depois dos escândalos que envolveram a utilização de substâncias dopantes, entre outros casos (e que lhe retiraram as sete Voltas a França em bicicleta que conquistara entre 1999 e 2005), começou a carreira de desportista no triatlo, onde conseguiu mesmo vencer as provas nacionais de sprint em 1989 e 1990.
Manny Pacquiao
O pequeno filipino é um dos lutadores de boxe mais mediáticos da atualidade e, além de político (com cargo de senador), músico, ator e realizador, joga basquetebol no campeonato do seu país, sendo membro honorário dos Boston Celtics desde 2010.
Lolo Jones
A atleta americana de 60 metros e 100 metros obstáculos, que passou a ter os holofotes sobre si depois de assumir antes dos Jogos Olímpicos de 2012 a sua virgindade, cansou-se de falhar nos momentos decisivos das grandes competições de atletismo e arriscou uma carreira no bobsled, tendo mesmo marcado presença nos Jogos de Inverno de 2014 já depois de ter ganho uma medalha no Campeonato do Mundo.