Cientistas do Instituto Mosaic – Observatório Multidisciplinar para o Estudo do Clima do Ártico – estão a planear repetir uma expedição organizada no século XIX no Ártico, aquela que foi a maior da história e que resultou em inovadoras descobertas científicas, sobretudo a nível climático, conta o The Guardian. Agora, e mais de um século depois da missão conduzida pelo explorador norueguês Fridtjof Nansen, os investigadores pretendem analisar e dar resposta a uma das questões mais importantes que se coloca em relação a esta região do planeta: por que razão o Ártico está a aquecer mais rapidamente do que em qualquer outro lugar na Terra.

Com começo previsto no verão de 2019 e uma duração de cerca de um ano, a equipa de cientistas, munida de equipamento avançado e protegida dos ursos polares por guardas armados, vai dispersar-se ao longo da mais alta região do planeta coberta de gelo para tomar medidas e fazer relatórios que nunca foram possíveis antes.

O plano é viajar a partir do ano de 2019, quando o gelo marinho é mais fino e a sua extensão é muito menor. Nós conseguimos traçar caminho com o nosso Polar Stern [navio instrumentalizado para quebrar o gelo] no gelo fino do mar Siberiano Oriental do Ártico. Depois disso, vamos parar os motores e deixar o Polar Stern à deriva no mar gelado”, revelou Markus Rex, professor e um dos líderes da missão.

A partir daqui, e com a ajuda de redes de pesquisa, os investigadores irão analisar mais aprofundadamente o rápido aquecimento do Ártico e as consequências que isso poderá ter para o vórtice polar (ciclones de grande escala que se formam nos polos geográficos, na região da troposfera e da estratosfera). Com isto, e com uma possível alteração desse vórtice, prevê-se a redução do contraste entre baixas e altas temperaturas e fortes ventos circulares em torno do pólo norte, o que aumenta a probabilidade da existência de focos de ar frios e, consequentemente, de períodos de frio extremo em alguns locais da Europa e na costa leste dos EUA.

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Então, e como forma de analisar as razões do aumento das temperaturas do Ártico, a equipa de cientistas vai libertar centenas de balões de hélio com sensores no seu interior que permitem uma medição atmosférica exata das partículas de água presentes nas nuvens, um fenómeno completamente inovador e nunca antes utilizado. De acordo com o The Guardian, e além da investigação do aumento das temperaturas, vai ainda ser examinada a vida existente nos lagos formados pelo gelo do mar nos meses mais quentes da primavera e do verão.

O projeto, ainda em fase de desenvolvimento, é visto como uma grande aposta na inovação e na descoberta e muitos consideram-no bastante comprometedor. “O Fram [nome da expedição realizada no século XIX] foi muito inovadora naquela época e acredito que a missão do Mosaic será também inovadora à sua maneira. Vai ser um passo muito importante para o futuro e daqui em diante”, admitiu Matthew Shupe, cientista da Universidade do Colorado.

O mapa abaixo, do Mosaic Observatory, indica o trajeto previsto para a missão, entre Outubro de 2019 e Outubro de 2020, assinalando com diferentes cores a intensidade do gelo durante a rota.