Possivelmente, o leitor olha para um automóvel de várias formas, pois se há modelos que são de carácter eminentemente prático, outros podem ser encarados como objectos de prazer, e até há os que, para a maioria, não passam de um sonho. Já as pessoas que têm por missão intervir em caso de acidente rodoviário, como os bombeiros, (também) tendem a olhar para um automóvel de todas essas maneiras. A que acrescentam mais uma perspectiva: se fosse necessário socorrer alguém, como deveriam proceder, mediante o modelo em causa? É que quando o pior não se pode evitar, importa que os danos sejam o mais contidos possível. Daí que quem está encarregue de prestar socorro às vítimas de um acidente de viação deva ter a melhor preparação possível para desempenhar a sua função.

Preparação essa que depende, em boa parte, tanto da formação como do treino. Daí o exercício recentemente levado a cabo pelos bombeiros de Nuremberga, na Alemanha, e que consistia num simulacro o mais real possível de uma manobra de desencarceramento – ou não fosse a rapidez da assistência um elemento fundamental para salvar a vida, ou minorar os danos corporais, de eventuais feridos de um sinistro rodoviário.

Poderá, a alguns, parecer estranho que para protagonista desta manobra tenha sido escolhido um Porsche Panamera E-Hybrid, modelo que, em Portugal, é proposto a partir de 115 mil euros, e que mesmo para os padrões germânicos está longe de poder ser considerado um automóvel acessível. Mas, para o fim pretendido, era dos que melhor cumpria os requisitos necessários: potente e veloz o quanto baste para se ver envolvido num acidente num troço de auto-estrada sem limite de velocidade, que resultasse brutal o suficiente para que os respectivos ocupantes acabassem presos no seu habitáculo; e já dotado de uma evoluída motorização híbrida, tecnologia cada dia mais disseminada, mas que coloca as equipas de resgate perante novos desafios, devido às altas tensões a que trabalha a respectiva componente eléctrica – que exigem especial cuidado no desencarceramento, para protecção tanto dos ocupantes como dos próprios bombeiros.

É por isso que, actualmente, os serviços de socorro dispõem já dos chamados manuais de resgate, compostos por diagramas, gráficos e outras informações pertinentes destinadas a fazer saber aos intervenientes onde se encontram os componentes mais importantes do veículo, e quais os bombeiros deverão evitar antes de cortar a carroçaria para permitir o auxílio às vítimas. Incluindo-se aqui não só os tais componentes eléctricos de alta tensão (e as descargas eléctricas que estes podem originar), como o circuito de alimentação do motor (para evitar derrames de combustível), e os próprios airbags e pré-tensores, cuja detonação extemporânea decerto em nada ajuda numa manobra com este grau de dificuldade.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR