Foram cerca de nove mil as pessoas que se reuniram no sábado em torno do avião presidencial, no Aeroporto Internacional de Orlando-Melbourne, na Flórida, para ouvir Donald Trump. Houve ovações, gritos, choros e desmaios (foram assistidas no local mais de 40 pessoas). Houve quem tivesse vindo de longe e quem esperasse várias horas na fila. No primeiro comício de Trump desde as eleições presidenciais, não houve espaço para opositores. Esses ficaram do outro lado da estrada.

Donald Trump saiu do Boeing 747 ao som da banda sonora do filme “Air Force One”. A esta, seguiu-se o hino nacional, cantado em uníssono pelos presentes. Muitos limpavam as lágrimas da cara, como relata o jornal The Times. “Estou aqui porque quero estar entre os meus amigos e entre a minha gente”, começou por dizer, perante uma multidão emocionada. “Quero estar numa sala repleta de trabalhadores, americanos patriotas que adoram o seu país, que saúdam a bandeira e que rezam por um futuro melhor.”

Durante o discurso, Trump falou de planos “arrojados” para lidar com os imigrantes ilegais e tirá-los “todos daqui”, dando como exemplo alguns dos países onde a entrada descontrolada de refugiados causou problemas sérios — a Alemanha, França, Bélgica e Suécia, onde, de acordo com Donald Trump, terá acontecido um atentado na noite de sexta-feira. Um incidente que terá inventado para justificar o endurecimento das medidas anti-imigração. Na Flórida, o Presidente dos EUA falou ainda nos seus planos para o aumento da taxa de empregabilidade e o desenvolvimento da indústria, que passará a produzir produtos “com aquelas letras bonitas ‘Made in America'”. Haverá “empregos como nunca houve”, prometeu ainda, citado pelo Times.

Entre o público, eram muitos os que se reviam nas palavras do Presidente, ecoando as afirmações feitas por ele durante o primeiro mês na Casa Branca. Ao Washington Post, foram vários os que admitiram não entender porque é que os meios de comunicação insistem em pintar um quadro negro e se recusam a ver os sucessos da administração Trump. “Eles estão a atirar pedras porque estão a ser uns bebés em relação a isto”, disse ao jornal Patricia Melani, que culpou os media por fazerem circular notícias “falsas”. “Existe tanto ódio em relação ao homem. Não entendo”, afirmou. Uma opinião partilhada por muitas das nove mil pessoas que se deslocaram até ao Aeroporto de Orlando-Melbourne.

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De acordo com o The Washington Post, eram constantes os gritos de “A CNN não presta” ou “Digam a verdade!”, dirigidos aos jornalistas presentes. Trump tem criticado constantemente os órgãos de comunicação norte-americanos, especialmente a CNN, acusando o canal de televisão de inventar notícias. “O problema dos média é que querem continuar a inventar histórias para que ele pareça mau. Isso não resulta”, defendeu por sua vez Tony Lopez, citado pelo jornal norte-americano.

Gene Huber, um fã incondicional do Presidente, foi convidado a subir ao palco. “Deixem-no subir”, pediu Trump aos serviços secretos. “Não estou preocupado com ele. Só estou preocupado que ele tente beijar-me.” Donald Trump disse que reconheceu Huber porque já o tinha visto várias vezes na televisão a dizer “as melhores coisas” sobre si. De acordo com o The Times, Gene Huber esperou na fila desde as quatro da manhã para conseguir um lugar à frente da multidão.

Do outro lado da rua, algumas centenas de pessoas manifestavam-se contra o Presidente. A maioria segurava cartazes, muitos deles com referências às alegadas ligações de Trump com a Rússia e Putin. “Trump Traidor”, “Marioneta de Putin” e “Não é o Mein Fuhrer”, eram algumas das frases. Outros pediam o afastamento do Presidente, alegando que não serve para o cargo que ocupam, enquanto Robert Welsh, vice-presidente da câmara de South Miami, segurava um amplificador com a música “Back in the U.S.S.R”, dos Beatles.

Os dois grupos foram trocando ofensas entre si. Segundo o Washington Post, e entre apoios e protestos, acusavam-se mutuamente de terem sido pagos para estar ali. No meio, estava Trump. Questionada pelo jornal sobre se haveria a possibilidade de os norte-americanos se voltarem a unir, Tammy Mussler, uma apoiante do Presidente dos Estados Unidos, disse não ter a certeza. “Acho que a única coisa que nos vai voltar a unir é talvez o regresso do Senhor.”