“Hidden Figures”, um dos filmes nomeados para a edição dos Óscares de 2017, conta a história verídica de três mulheres afro-americanas cujas aptidões matemáticas ajudaram a colocar o primeiro astronauta americano em órbita, nos anos 1960. A BBC recorda que a luta das mulheres negras por um lugar no “espaço” é muito mais antiga. Conheça as personagens do filme e outras mulheres afro-americanas notáveis da NASA.

As mulheres negras da NASA

Quando os Estados Unidos entraram na Segunda Guerra Mundial — com os homens a partir para os campos de batalha — as mulheres foram “chamadas” ao trabalho. A Casa Branca emitiu uma ordem executiva que permitiu aos negros trabalhar no setor da defesa pela primeira vez. Foi então que o Comité Consultivo Nacional de Aeronáutica (NACA) começou a recrutar mulheres afro-americanas para a pesquisa e cálculo matemático.

Depois da guerra, as mulheres foram enviadas de volta para casa. À exceção do que aconteceu na NASA. “No negócio da computação isso não aconteceu. De facto, a NASA começou a contratar mais mulheres, em grande parte devido à quantidade de trabalho que havia“, conta o historiador da NASA, Bill Barry. É que, na época, uma pessoa com capacidades de computação era um “recurso valioso”, tanto que as mulheres podiam regressar ao trabalho depois de terem filhos.

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Mas o percurso profissional das mulheres afro-americanas não foi fácil. A segregação era uma realidade na NASA, exigida pela lei da Virginia. Prova disso é que, entre os anos 1940 e 1950, as mulheres estavam divididas em dois pólos: o “East Computing” para as mulheres brancas e o “West Computing” onde trabalhavam as negras.

Miriam Mann

Miriam Daniel Mann nasceu em 1907, meio século depois do fim da escravatura. Teve três filhos — de seis, sete e oito anos — e tirou uma licenciatura em Química. Na altura, as oportunidades de emprego eram escassas para as mulheres casadas e com filhos, sobretudo para as as afro-americanas.

No período da guerra, ouviu falar do recrutamento da NASA através do marido, um professor universitário. Inscreveu-se, prestou exame e tornou-se na primeira mulher negra a trabalhar enquanto “computador humano”, nas instalações de pesquisa aeronáutica da NASA em Langley, Virginia. A filha, Miriam Mann Harris, revelou em 2011 um exemplo da segregação que a mãe sofreu:

Trouxe o primeiro sinal ‘de cor’ para casa, mas havia um substituto no dia seguinte. Novos sinais surgiram na porta da casa-de-banho como ‘raparigas de cor’ “, contou.

Dorothy Vaughan

Nos anos 1950, foi a vez de Dorothy Vaughan se juntar à NASA como supervisora da “West Computing”, uma das personagens do filme. Christine Darden trabalhou com Dorothy e garantiu que, “no momento em que seguias as suas indicações, tinhas a solução” para qualquer cálculo matemático.

Christine Darden

Christine entrou para a NASA na década seguinte, em 1967, quando já não havia divisão entre as mulheres, que passaram a integrar secções específicas de engenharia. Christine apaixonou-se pela matemática na adolescência, mas quando informou o pai da sua intenção de ingressar na universidade, este não apoiou a ideia.

O meu pai insistiu para que tirasse a licenciatura em educação porque durante aquele tempo as mulheres negras geralmente não conseguiam muitos trabalhos em matemática. Ele disse-me que eu tinha de ser capaz de ensinar para puder ter um emprego.

Determinada a seguir o seu sonho, Christine teve aulas extra de matemática e tirou um mestrado enquanto lecionava. Prestou provas para a NASA e tornou-se programadora informática: informava o computador de cada passo a dar, perfurando buracos num cartão que entrava na máquina.

Mas o que Christine queria, mesmo, era ser engenheira. Quando, em 1972, o financiamento do programa espacial foi reduzido, Christine temeu que ela estivesse prestes a ser despedida.

Isso deu-me o incentivo para me dirigir a um chefe de topo e perguntar-lhe porque é que os homens foram designados para secções de engenharia para realizar os seus próprios projetos e as mulheres foram atribuídas em pólos ao computador para fazer cálculo, apoiando-os.

Funcionou. Christine foi integrada numa equipa de engenharia onde estudou formas de tornar os aviões mais rápidos e diminuir o ruído a velocidades elevadas. Christine reformou-se em 2007, como executiva sénior, e publicou mais de 50 artigos.

Além de Dorothy, “Hidden Figures” conta a história de Katherine Johnson, que ajudou a elaborar as trajetórias para lançar o primeiro astronauta americano para a órbita da Terra, e de Mary Jackson, que, assim como Christine, lutou por um lugar de engenheira.

Estas são histórias de mulheres de sucesso que pode ver no filme “Hidden Figures”, com três nomeações para os Óscares nas categorias de melhor filme, melhor atriz secundária (Octavia Spencer) e melhor argumento adaptado. A cerimónia realiza-se a 27 de fevereiro.