Foi encontrado enquanto manuscrito em 2014, por Jo Hanks, editor na Penguin Random House Children’s. Feitas as contas, a descoberta aconteceu mais de cem anos após o conto ter sido escrito originalmente. Agora, a partir de dia 21 de fevereiro, A História da Gata das Botas está nas livrarias numa edição portuguesa. As ilustrações foram feitas por Quentin Blake.

“A História da Gata das Botas”, de Beatrix Potter, com ilustrações de Quentin Blake (Asa)

Hanks encontrou os escritos através de uma referência a uma carta, numa biografia da escritora, que Beatrix Potter teria enviado ao seu editor em 1914, onde falava sobre “uma gatinha preta de pura raça e bem-comportada, que leva uma vida completamente dupla”. Em entrevista à CNN, no aniversário dos 150 anos da escritora, Hanks contou que “havia algo sobre uma gatinha chamada Kitty, mas eu não sabia até onde a escritora tinha ido ou se tinha intenção de publicar.” Numa visita aos arquivos do Museu Victoria and Albert, em Londres, onde se encontra boa parte do espólio de Beatrix Potter, Jo achou três manuscritos em cadernos escolares.

Na altura, Potter escreveu o texto e começou a trabalhar nas ilustrações quando “começaram as interrupções”, conta numa carta, também encontrada no arquivo. Essas interrupções (Primeira Guerra Mundial, o seu casamento e uma doença) fizeram com que o livro tivesse ficado incompleto. A única ilustração a cores que Beatrix fez foi da protagonista da história, a gatinha, que usava uma casaco tweed, uma camisola, um laço e carregava uma espingarda ao ombro, menciona a CNN.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Uma das ilustrações para o novo livro

Antes do conto ser apresentado aos leitores, as ilustrações tinham de ser terminadas para dar vida à história. Hanks revelou que a opção óbvia era Quentin Blake, um conhecido ilustrador de livros infantis. Blake escolheu não ver a ilustração original até terminar o seu trabalho mas revelou que gostou do conto imediatamente.

Segundo Jo Hanks, “a história é verdadeiramente do melhor de Beatrix Potter”, lê-se no comunicado enviado pela ASA, a editora da obra em português. É feita de duplas identidades, vilões e personagens conhecidas de outros contos, como o Senhor Raposa, a Dona Rute, a Senhora Gata Malhadinha e, ainda, o Pedrito Coelho que, apesar de mais velho e lento, também aparece neste livro, acrescenta Jo, no comunicado.

[A adaptação do clássico de Beatrix Potter na BBC]

Helen Beatrix Potter nasceu em Kensington, Londres, no dia 28 de julho de 1886 e morreu a 22 de dezembro de 1943, aos 77 anos. Foi autora de vários livros para crianças, sendo o mais popular A História do Pedrito Coelho, que vendeu mais de 45 milhões de exemplares em todo o mundo desde a sua publicação original, em 1902. No total, escreveu e ilustrou cerca de 30 livros, incluindo sequelas como A História do Esquilo Nutkin.

Além de escritora, Potter ilustrava os seus próprios contos, não sendo apenas nos conteúdos que se manifestavam os seus gostos. A vida do campo e a Natureza determinaram também alguns esforços financeiros por parte da autora, como a compra de uma quinta, a Hill Top, que atualmente é conhecida como a “casa de Beatrix Potter”.

Beatrix Potter à porta de casa

Em York está ainda sediada a Beatrix Potter Society, uma organização sem fins lucrativos que se dedica à curadoria e ao estudo do trabalho da escritora. Em entrevista ao Observador em julho passado, a presidente da organização, Rowena Godfrey, contou que a autora “criou sozinha a sua própria carreira quando os pais esperavam que ficasse em casa, mas não era uma feminista” e acrescenta uma frase que relembra que Potter escreveu à época — “Sou uma conservadora nata e acredito que um casamento feliz é a coroa da vida de uma mulher”. Beatrix casou-se aos 47 anos com William Heelis.