“Estamos muito otimistas com Portugal. É um centro que está a amadurecer, mas que ainda está no começo da trajetória tecnológica. Mas existe muito talento, grandes universidades, como a do Porto e a de Lisboa, que produzem engenheiros excelentes, além de fundadores ambiciosos”. As palavras são de Carolina Brochado, sócia da Atomico, a capital de risco que, na semana passada, anunciou deter o maior fundo de investimento em startups da Europa, num valor superior a 722 milhões de euros.

As startups portuguesas estão “na mira” deste fundo. “Temos muita confiança no ecossistema tecnológico da Europa. Há vários centros que já estão avançados como Londres, Berlim e vários centros tecnológicos emergentes, como por exemplo, Lisboa”, admitiu ao Observador Carolina Brochado, que é responsável pelo mercado ibérico.

A Atomico é uma das capitais de risco que em 2015 investiu na Uniplaces, a startup portuguesa que levantou a maior ronda de investimento Série A até á data – cerca de 22 milhões de euros. Na operação, estiveram também envolvidas as capitais de risco portuguesas Caixa Capital e Shilling Capital Partners, bem como a britânica Octopus Ventures. O primeiro e, até agora, único investimento do fundo britânico em Portugal.

[A Uniplaces] é um investimento significativo para nós. É uma empresa que vemos como uma das nossas líderes. Estamos à procura de empresas que tenham um produto e queiram escalar a nível global. E foi isso que nós vimos na Uniplaces”, explicou.

Com o fundo lançado na semana passada, a empresa criada por Niklas Zennstrom, cofundador do Skype, quer investir em startups europeias que estejam preparadas para escalar a nível global e, nota Carolina Brochado, “resolver o défice de financiamento” que diz existir na Europa. Em 2016, explicou a responsável, as startups portuguesas captaram 51 milhões de euros em capital de risco. Em 2012, esse valor fixava-se nos 3 milhões, acrescentou.

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É uma onda que vai continuar a crescer. Mas Portugal ainda não viu o ciclo vicioso que já existe noutros lugares como Londres e Estocolmo, onde houve grandes exits (momento em que uma startup sai da esfera dos investidores de capital de risco para ser adquirida por outra ou entrar em bolsa), sucessos atrás de sucessos. Quando Portugal tiver a primeira safra de empresas vendidas, vai ser criado talento que vai voltar para o ecossistema e criar novas empresas. Vai ser injetado capital que vai atrair mais capital de fora”, considera a também responsável pelas operações no mercado ibérico.

Carolina Brochado explica que em rondas de investimento Série B (para fases um pouco mais maduras das empresas), os empreendedores europeus têm 14 vezes menos capital do que os norte-americanos. “Quando as empresas têm o produto pronto e precisam de capital mais significativo para escalar têm dificuldades. Queremos, a partir da série A, ter um fundo grande que possa ajudar as empresas a escalar”, explica.

De acordo com a Atomico, no ano passado, os empreendedores europeus levantaram 13,2 mil milhões de euros em mais de 2.400 rondas de investimento. Cerca de 4,7 milhões de profissionais geraram mais de 94 mil milhões de euros em fusões e aquisições tecnológicas, na Europa, num mercado que assistiu a mais de 30 ofertas públicas de aquisição, no último ano, sem que a amplitude e qualidade dos fundos acompanhasse o processo. Com mais de 1.700 rondas seed (investimento semente numa fase inicial) e séries A nos últimos 12 meses, a taxa de conversão para outros estágios ainda é baixa, lê-se no comunicado enviado pelo Atomico.

A Atomico foi fundada em 2006 e tem como foco empresas europeias que estejam prontas para a internacionalização. Os investimentos deste fundo incluem empresas como a Bitmovin, Farmdrop, GoEuro, Job and Talent, Klarna, Lilium Aviation, Pipedrive, Scandit, Supercell, The Climate Corporation e a Uniplaces.