Num cenário cor-de-rosa que representa a “estética lavanda e o capitalismo rosa”, com a palavra “New” (“novo”) escrita ao contrário, encontramos um grupo de adolescentes que conversam sobre temas e problemas sociais que enfrentam, como o bullying, a descoberta da sexualidade, a pedofilia ou o aborto.

No meio de música, dança e conversas entre pares descobre-se a história destes jovens, que apesar de ter sido escrito no século XIX, ainda se mantém atual. É o “Despertar da Primavera, uma Tragédia de Juventude”, encenação e interpretação do Teatro Praga, a convite do CCB. A peça, escrita em 1891 por Frank Wedekind.

“O espectáculo surgiu de um desafio lançado pelo Fernando Luís Sampaio, programador do CCB”, contou André e. Teodósio, que pertence ao coletivo Teatro Praga. “O Fernando sabe que é atípico no nosso trabalho fazermos textos de teatro mas este programa consiste numa temporada dedicada aos grandes clássicos da dramaturgia europeia e decidiu propor-nos esta peça, que já foi feita em Portugal. Apesar de ser atípico, aceitámos o desafio e começámos a pensar que espectáculo iríamos fazer a partir do texto. Contudo, esta peça não é só o texto. Nós não fazemos uma versão contemporânea, nem reatualizamos o texto do século XIX, fazemos um espectáculo com o texto lá dentro”.

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A história desta peça parte de “uma narrativa clássica, no sentido em que associa o ato de revolução ou da novidade a uma faixa etária, que são os novos, neste caso.” Na peça há um grupo de jovens que tem de lidar com diferentes problemas sociais, “alguns que ainda hoje são problemáticos, outros nem tanto”, disse André, que acrescentou:

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“Não é algo muito divergente de qualquer narrativa ou filme atual. Há um grupo de jovens e esse grupo é representado num determinado contexto, numa determinada sociedade e tem como objetivo a denúncia de problemáticas sociais que estão próximas de uma faixa etária”.

Quando o alemão Frank Wedekind escreveu esta peça, o dramaturgo tinha vindo do cabaré. “As cenas têm uma particularidade que, apesar de ter um seguimento narrativo, não tem uma sequência narrativa clara”. A tradução feita por José Maria Vieira Mendes, também do Teatro Praga, tem uma linguística própria. “Quando as personagens falam, por exemplo, tem arqueísmos misturados com estrangeirismos misturados com palavras que não existem e adjetivos transformados em verbos”, explica André.

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“É um espectáculo que trabalha a partir dessas premissas de identidade ou de clichés da adolescência e tenta contrair para o mesmo espaço todos os tempos, desde século XIX até ao futuro, na língua, nos figurinos e até na maneira de atuar. Como se conseguisse ver o mundo todo num tempo só,” conta Teodósio: “Há um sentido, ao longo da história, que pode ser apreendido do que se vê, mas ele não é dado.”

Com esta peça “estamos a capitalizar um estilo de pensar não-dominante. O público pode encontrar uma certa liberdade para pensar fora dos interesses do texto, que não é só sobre a adolescência, é uma apreensão que tem vários contextos. Esta lavagem rosa tem uma certa liberdade e é uma capitalização dessa liberdade. Não é um grito revolucionário, é um contexto muito diverso. O nosso é aqui, no teatro. É a capitalização dessa liberdade já conquistada diariamente pelas pessoas fora deste espaço”, resume André.

“Despertar da Primavera, uma Tragédia de Juventude” estará em exibição no CCB, em Lisboa, nos dias 24, 25 e 27 de fevereiro, às 21h. No dia 26, será às 17h. O bilhete custa entra 15€ e 18€.