Foi acusado dos crimes de prevaricação, desvio de capitais, fraude, tráfico de influência e delitos contra o tesouro, e, por isso, foi na semana passada condenado a seis anos e três meses de prisão. A mulher, a infanta Cristina, irmã do atual rei de Espanha e filha do rei Juan Carlos, foi absolvida no caso Nóos, tendo de pagar uma multa por ter beneficiado dos crimes do marido — sem culpa provada. Mas o destino efetivo de Iñaki Urdangarin, 49 anos, cunhado do rei Felipe VI, pode não passar pela cadeia. A decisão foi conhecida hoje de manhã: Iñaki terá de pagar 200 mil euros para evitar prisão imediata. O marido da Infanta Cristina pode ainda recorrer da decisão. O seu futuro está por isso condicionado a recursos e novas decisões do tribunal.

Espanha. Cunhado do Rei fica em liberdade obrigado a apresentações periódicas a um juiz

Um destino que poucos esperavam para Urdangarin, um medalhado atleta olímpico, jogador de andebol, que em 1997 casou com a filha do rei de Espanha, então duquesa de Palma de Maiorca. De lá para cá, muito aconteceu, tendo a reviravolta acontecido em 2006 quando o jornal El Mundo denunciou um pagamento suspeito de uma instituição pública ao Instituto Nóos, empresa de fachada liderada por Iñaki Urdangarin. A investigação começaria oficialmente cinco anos depois, em 2011, quando foram encontradas as primeiras evidências contra Urdangarin e a infanta Cristina, e a acusação formal viria apenas em 2014.

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Se acha que sabe tudo sobre Urdangarin e o caso Nóos, que culminou na condenação de um membro da família real espanhola, confira aqui cinco factos essenciais sobre o perfil do cunhado do rei Felipe de Espanha.

Inaki Urdangarin, foi capitão da seleção de Andebol de Espanha em 2000, ano em que a equipa ganhou a medalha de bronze nos Olímpicos de Sidney. Já tinha ganho o bronze pela seleção em Atlanta, em 1996.

Do Barcelona aos Olímpicos

Jogador de andebol desde os 18 anos, alinhou sempre pelo Barcelona e pela seleção espanhola. Participou nos Jogos Olímpicos de 1992, 1996, e 2000, e foi capitão da equipa em 2000.

Medalha de bronze em Atlanta, em 1996, viria a repetir o bronze em Sidney, em 2000, ano em que descalçou as botas e pôs fim à carreira, dedicando-se às empresas e às suas obrigações enquanto membro da família real espanhola. Foi, aliás, nos Jogos de Atlanta, em 1996, que conheceu a infanta Cristina e o casamento aconteceu um ano depois. Quando, em 2000, saiu do andebol, com 32 anos, já caminhavam para o segundo filho.

Urdangarin é ainda hoje considerado um dos mais bem sucedidos jogadores de andebol de Espanha, tendo ganho mais de 40 troféus. E o Barcelona, apesar dos protestos de alguns sócios, nunca quis retirar a camisola número 7 com o nome de Iñaki Urdangarin do local de honra da arena Palau Blaugran, onde está ao lado do leque de melhores jogadores que passaram pelo clube.

Casaram-se em 1997 e tiveram quatro filhos. Em 2005, na foto, com o quarto filho nos braços (a primeira menina).

Investigação dura, e dura e durou…

O empresário e antigo jogador de andebol foi acusado de tirar partido das suas ligações à família real para ganhar contratos públicos e desviar dinheiro através do instituto Nóos, do qual era gestor com o sócio Diego Torres, também condenado a oito anos e seis meses de prisão e a uma multa superior a 1,7 milhões de euros.

O caso remonta a 2006, altura em que o jornal El Mundo denunciou um pagamento suspeito feito por uma instituição pública ao Instituto Nóos, empresa de fachada liderada por Iñaki Urdangarin. Mas a investigação começaria oficialmente cinco anos depois, em 2011, quando foram encontradas as primeiras evidências contra Urdangarin e a infanta Cristina, e a acusação formal viria apenas em 2014. A filha do Rei e o marido foram acusados de fraude fiscal e de branqueamento de capital, depois de o caso ter contribuído, durante quase dez anos, para a perda de credibilidade da Casa Real.

Em causa estava o desvio de dinheiros públicos para Urdangarin — Cristina foi implicada por ter beneficiado do dinheiro desviado — através do Instituto Nóos, uma suposta fundação desportiva sem fins lucrativos. Urdangarin e o seu sócio Diego Torres terão cobrado mais de seis milhões de euros aos governos regionais de Valência e das Ilhas Baleares, para realizarem eventos públicos com um custo substancialmente inferior (cerca de dois milhões de euros). O restante era desviado para as empresas privadas de Urdangarin e de Torres.

É aqui que entra a Casa Real: uma das empresas privadas para onde era desviado o dinheiro era a Aizoon, que era propriedade dos duques de Palma de Maiorca, Cristina e Urdangarin, cada um com 50% do capital. O dinheiro que entrava na Aizoon vindo do Instituto Nóos era depois utilizado para fins particulares pelos duques, em movimentos declarados como parte da atividade empresarial de Cristina e Urdangarin.

Só na passada sexta-feira é que foi conhecida a acusação: seis anos e três meses de prisão, mais uma multa de 512 mil euros, para o cunhado do rei. A infanta Cristina foi absolvida, tendo de pagar uma multa de 265.088 euros por ter beneficiado dos crimes cometidos pelo marido.

Da perda do título de “duque” ao exílio da família

Quando se casaram, a 4 de outubro de 1997, com Iñaki Urdangarin, o Rei Juan Carlos concedeu à infanta Cristina o título de Duquesa de Palma de Maiorca, sendo que Iñaki Urdangarin passaria a ser Duque de Palma. Mas com o caso Nóos a ganhar proporções incontroláveis para a Casa Real, em 2015 deu-se o primeiro grande sinal de rutura: Felipe VI retirou os títulos de duques à irmã e ao cunhado, ficando nas mãos da própria infanta Cristina a decisão de renunciar ou não à linha de sucessão.

Mas a perda dos títulos não foi a única consequência. Assim que surgiram as primeiras alegações acerca do envolvimento do marido num caso de crime fiscal, a infanta Cristina decidiu levar a família para Washington D.C., primeiro, e para Genebra, depois. O exílio foi opção da família, para fugir aos holofotes da imprensa espanhola, mas agora, independentemente das medidas cautelares que venham a ser aplicadas ao marido, a irmã do rei já escolheu o seu próprio destino: Lisboa.

Isto porque a fundação Aga Khan, para a qual Cristina trabalha em Genebra, se instalou agora em Lisboa. A ideia é também a infanta ficar mais perto do marido agora que a justiça o condenou a seis anos e três meses de prisão.

Em 2010, no casamento da princesa Victoria da Suécia.

Barcelona nunca renegou o atleta

Desde o afastamento do jogador, em 2000, o clube de andebol nunca deixou de apoiar o antigo capitão mesmo no auge do caso judicial. Na semana passada, conhecida a condenação o clube decidiu homenagear o ex-jogador colocando a camisola 7 ao lado de outras da chamada “Dream Team”. Isto apesar da reprovação de alguns sócios do clube, que há muito consideram que o seu comportamento cívico não se coadunava com a homenagem sistemática do clube ao antigo jogador.

Segundo a imprensa espanhola, as várias direções do clube sempre consideraram que os méritos desportivos do atleta eram independentes das acusações judiciais que estava a ser sujeito.

O Barcelona não, mas a família real…

Face o alvoroço que se gerou em Espanha perante o primeiro caso de corrupção que envolveu, diretamente, a coroa, Juan Carlos afirmou: “a justiça é igual para todos”. Esta frase foi dita na mensagem de Natal do rei, em 2014, duas semanas depois de a casa real ter decidido afastar Iñaki Urdangarin dos atos oficiais. Juan Carlos afirmou, desta forma, que a sua filha, acusada de cooperação nos crimes do marido, deveria ter um julgamento igual ao de qualquer outro espanhol.

Se o clube não o fez, com a família que o acolheu, que por sinal é a família real, já não foi bem assim. Logo em 2011, quando a investigação arrancou, o Rei Juan Carlos fez questão de sublinhar, na mensagem de Natal, que Espanha “é um Estado de direito”, pelo que “qualquer ação censurável deverá ser julgada e sancionada segundo a lei”. Uma indicação de que a Casa Real não protegeria a infanta Cristina, independentemente do resultado do julgamento. Em 2014, já foi o novo Rei, Felipe VI, irmão de Cristina, a ver-se a braços com a notícia da acusação, numa altura em que aumentava a pressão no país para que a infanta renunciasse à sua posição dentro da Casa Real (ou seja, que saísse da linha de sucessão, em que ocupava o sexto lugar).

Mesmo sem a renúncia, o afastamento entre Cristina e a Casa Real começou logo a fazer-se sentir. A infanta Cristina não participou em quaisquer cerimónias oficiais e ficou afastada de toda a atividade institucional logo desde o início da investigação, em 2011. Na cerimónia de coroação do Rei Felipe VI, por exemplo, foi logo notada a ausência da irmã mais nova, que foi propositadamente afastada das cerimónias. As relações entre Cristina e o pai, o Rei Juan Carl0s, esfriaram de imediato e apenas a mãe, a Rainha Sofia, se manteve em contacto com a filha.

[artigo atualizado hoje, às 10h40, com a decisão do tribunal, comunicada hoje, de condicionar a prisão efetiva de Iñaki Urdangarin a uma fiança de 200 mil euros]