Bruno de Carvalho parte como atual presidente para o ato eleitoral do Sporting a 4 de março numa altura onde, pelo menos em termos públicos, o quotidiano do clube está bem mais estabilizado do que nos últimos anos. Por isso, focou-se sobretudo na defesa do trabalho feito ao longo do mandato, ao mesmo tempo que tentou passar a imagem que o adversário não teria o conhecimento aprofundado dos leões que deveria possuir. Para melhor perceber a visão do candidato da lista B e algumas das ideias que ficaram nas entrelinhas para o entendedor sportinguista perceber, o Observador sintetiza em sete tópicos as estratégias utilizadas por Bruno de Carvalho na caça ao voto.

Mostrar o trabalho feito

Bruno de Carvalho levou para o debate desta quinta-feira uma série de gráficos de linhas e de barras retirados dos relatórios e contas do Sporting e da SAD para evidenciar, na prática, o que de bom foi feito. Falou em números – redução do passivo em 88 milhões de euros, crescimento dos capitais próprios, quatro das dez maiores vendas de sempre dos leões, duplicação das receitas advindas dos direitos televisivos, evolução dos proveitos a nível de bilhética etc. No fundo, fez uma resenha de dados publicamente conhecidos para “pedir” um voto de confiança.

Colocar o Sporting nos centros de decisão

Percebendo que Madeira Rodrigues iria enfatizar o corte de relações com FC Porto e Benfica e as constantes guerras do Sporting contra vários clubes e instituições, Bruno de Carvalho jogou em antecipação e defendeu que o Sporting faz parte da direção da Liga, esteve presente em todos os grupos de trabalho do órgão e que viu 90% das propostas apresentadas ao longo do tempo serem aprovadas pelo Conselho de Arbitragem, por exemplo. Em paralelo, recordou os encontros com os líderes da FIFA, da UEFA e do governo, entre outras entidades, no sentido de apresentar um dossier com propostas para a melhoria do futebol.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Defender a estabilidade diretiva…

Bruno de Carvalho fez questão de recordar uma das bandeiras para esta eleição, algo em que se empenhou pessoalmente para passar uma mensagem para fora – garantir a continuidade das equipas de trabalho do conselho diretivo (que se vai manter quase igual, à exceção da saída de Artur Torres Pereira), da assembleia geral (a única entrada é Eduarda Proença de Carvalho, que pertencia à lista de Carlos Severino nas últimas eleições) e do conselho fiscal, que apesar de ter sido apurado através do método de Hondt entre três listas em 2013, vai permanecer intacto à exceção de Bacelar Gouveia (que abdicou por razões profissionais), revela a estabilidade desejada.

… e garantir a estabilidade no futebol

Jorge Jesus foi figura central do debate, como seria de esperar. E Bruno de Carvalho defendeu não só o treinador como todo o trabalho que tem sido feito a nível de futebol profissional e de formação, deixando outro sinal de estabilidade e mostrando que as saídas de Leonardo Jardim e Marco Silva após um ano em Alvalade não são para repetir no futuro. Mesmo perante todas as críticas de Pedro Madeira Rodrigues ao trabalho e à postura do técnico, o candidato da lista B limitou-se apenas a garantir que a atual estrutura do futebol é para continuar (“no ano passado não ganhámos por azar e mais outras coisas, este ano não está a correr bem mas ainda não acabou”, disse).

Justificar os “reforços” de Madeira Rodrigues

Antecipando a colocação em cima da mesa de nomes como Vítor Ferreira, Mário Saldanha ou Rui Morgado, que fizeram parte do seu elenco nas eleições de 2013, Bruno de Carvalho tinha preparada a explicação para a saída desses elementos e foi mais longe, recordando os processos de José Pedro Rodrigues, candidato a vogal para o património da lista A, e Delfim, team manager de Madeira Rodrigues, contra o Sporting. O atual presidente falou ainda de Ricardo Pina Cabral e Vítor Espadinha, que o criticou de forma abrupta e aberta nas redes sociais.

O pavilhão João Rocha e a Doyen

Só foi falado quase no final do debate mas acaba por ter um peso incrível nesta eleição: 14 anos depois da demolição da antiga Nave de Alvalade, o Sporting voltará muito em breve, talvez no próximo mês, a ter uma casa própria para as modalidades num projeto denominado de “Cidade Sporting”, que procurará voltar a trazer os adeptos às imediações do estádio sem ser apenas em dia de jogo do futebol. Madeira Rodrigues ainda tentou explicar que Soares Franco e José Eduardo Bettencourt também já tinham iniciado esses projetos, mas a verdade é que só agora se tornou uma realidade à vista de todos. Em paralelo, Bruno de Carvalho afiançou também que a questão legal com a Doyen está salvaguardada porque a verba a pagar à empresa está cativa na UEFA.

A aposta no ecletismo do clube

Desde que chegou à presidência do Sporting, em 2013, que Bruno de Carvalho afirma e reafirma que, caso Godinho Lopes se tivesse mantido como líder do clube, hoje poderia não haver modalidades além do futebol. Por isso, o candidato da lista B destacou a passagem de 35 modalidades que podiam ter deixado de existir para 50 que existem e ainda vão conseguindo ganhar os títulos que faltam ao futebol. Em atalho de foice, falou ainda dos regressos do hóquei em patins e do ciclismo (a que se pode juntar o voleibol, sendo que Madeira Rodrigues prefere apostar na reativação do basquetebol com uma parceria com os Boston Celtics), do desporto adaptado e do projeto olímpico. Algo que, para o simpatizante do Sporting, pode nem ter muito peso. Mas que tem para os sócios. E são esses que vão decidir o próximo presidente do Sporting no dia 4 de março.