Pedro Madeira Rodrigues partia em desvantagem para este debate – por ser o único momento de confronto de ideias entre as duas listas e por ser o desafiante, tinha de jogar tudo. E isso foi percetível na forma como preparou o debate, procurando piscar o olho a algumas franjas do eleitorado verde e branco no estilo, na forma e no conteúdo. Para melhor perceber a visão do candidato da lista A e algumas das ideias que ficaram nas entrelinhas para o entendedor sportinguista perceber, o Observador sintetiza em sete tópicos as estratégias utilizadas por Pedro Madeira Rodrigues na caça ao voto.

Perfil diferente de liderança

Quase na parte final do debate, Madeira Rodrigues falou um pouco sobre uma carreira profissional iniciada aos 18 anos com grande sucesso sobretudo na área da gestão. Mas antes e depois tinha colocado a tónica do discurso na diferença de posturas – falou de uma AG onde saiu mais cedo pelo “tom ordinário” usado pelo atual presidente, relembrou as críticas e processos a sócios, enfatizou aquilo que descreve como “o isolamento do Sporting no futebol português”, recordou os episódios relatados pela imprensa em Chaves, acusou o rival de egocentrismo. Em “léxico sportinguês”, quis ir buscar votos aos associados mais velhos, que se possam rever mais numa figura menos exposta e mais discreta. E aqui é bom recordar que o clube de Alvalade não funciona pelo método “uma pessoa, um voto”, dando muito mais aos associados com maior antiguidade de filiação.

“Soundbite” de Rui Santos

Classificar os jogadores contratados como bons ou maus nunca passará de um exercício analítico e com quase tantas opiniões como pessoas. O que para uns é péssimo, para outros pode não ser assim tão mau. Ou mesmo bom. Madeira Rodrigues apostava forte na parte do futebol e, para mostrar como a política de contratação de atletas funcionou mal nos últimos quatro anos, utilizou uma frase que pelo menos fez parar quem ouvia o debate – “segundo o Rui Santos, falhámos 85% das contratações, eu quero acertar 85% das contratações”. Admitiu que Slimani tinha sido um dos bons exemplos mas voltou a falar de Markovic nos falhanços, mas sempre tendo como chapéu de chuva a análise feita pelo jornalista e comentador da SIC.

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Aposta nos nomes dos campeões

Laszlo Bölöni e Delfim, apresentados ontem como reforços da estrutura do futebol de Pedro Madeira Rodrigues, foram triunfos usados de forma repetida na conversa. Objetivos? Ir buscar a geração dos 30-40 anos que ainda se recorda dos anos de 2000 e 2002, quando o Sporting foi campeão; mostrar que sabe da importância de figuras algumas vezes esquecidas mas determinantes para o sucesso (daí a referência a Manolo Vidal, um dos homens fortes do futebol leonino nos últimos títulos); e apresentar ideias consolidadas em relação à pasta ao mesmo tempo que questionava Bruno de Carvalho sobre o que faria na próxima época.

Ricciardi, o inimigo

Muito se falou de Jorge Jesus, é um facto. Mas isso não foi uma surpresa – era altamente expectável. O que não era tão previsível a nível de ataques mais diretos? A insistência na figura de José Maria Ricciardi, membro da Comissão de Honra de Bruno de Carvalho que esteve ligado a vários executivos hoje criticados que antecederam o atual presidente. “Há alguns sportinguistas que não quero congregar e Ricciardi é um deles”, chegou mesmo a dizer, deixando no ar que o antigo líder do BESI estaria a tentar perpetuar os seus interesses no clube com o atual líder.

Quem é Costa Aguiar?

Foi uma das perguntas que mais burburinho criou: “Quem é Costa Aguiar, que recebeu tanto dinheiro de comissão de Bruno César?”. Ao atirar um nome para cima da mesa, Madeira Rodrigues tentou mostrar que fazia críticas com conhecimento de causa, ao mesmo tempo que introduziu no debate o tema das comissões a agentes nas transferências (um tiro que saiu pela culatra, porque Bruno de Carvalho estava preparado para isso). Notou-se também, em algumas frases soltas em resposta ao candidato da lista B, que procurou jogar “inside informations”

O Médio Oriente e os investidores

Madeira Rodrigues aprendeu com os erros de muitos candidatos do passado e evidenciou sempre que não dá um passo em falso. Assina com Bölöni e Delfim? Anuncia com uma imagem. Esteve reunido no Médio Oriente com possíveis investidores? Envia uma imagem. Refere que a Academia está em nome do BCP e não do Sporting? Garante que tem o papel e deixa cair aquela frase de “até pensava que seria em nome de Millenium BCP mas não, é só BCP”. Foi com essa base que explicou que essas receitas, a entrarem, serão apenas sob a forma de patrocínios ou namings e não na SAD, onde quer manter a maioria.

Ser Sporting ou anti-Benfica

Mais uma vez, Madeira Rodrigues voltou a referir que Bruno de Carvalho fala e preocupa-se em demasia com o rival quando devia era estar mais preocupado em falar de Sporting. A ideia tinha outro objetivo nas entrelinhas: ao colocar em cima da mesa os encarnados, deixou de forma implícita a recordação que, além de não haver vitórias dos leões no mandato de Bruno de Carvalho, os rivais é que andam sempre em festa. Correu o risco de levar uma resposta pronta do seu adversário (que recordou uma entrevista esta semana onde Madeira Rodrigues referiu ser… anti-Benfica), mas tocou num ponto que fere aqueles sportinguistas “à antiga”.