Sejamos práticos: havia alguma razão para o Sporting não arrancar no Estoril uma boa exibição? Não. Vejamos: está naquela situação sem pressão na tabela classificativa onde olhar para cima não aquece mas dar uma vista de olhos para baixo também não arrefece; vinha de duas vitórias sofridas mas que aumentaram o balão de confiança da equipa; apresenta finalmente um onze estabilizado, seja pelas alterações na defesa ou pela aposta continuada em Alan Ruíz; jogando fora é como se estivesse em casa, pela moldura humana anormal mas quem sabe que o título é uma miragem. E podíamos continuar a dar exemplos, atrás de exemplos. Só faltava Adrien. E o só está a mais na frase – pesou de tal forma que anulou quase toda a argumentação supracitada no primeiro tempo.

Ficha de jogo

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Estoril-Sporting, 0-2

23.ª jornada da Primeira Liga

Estádio António Coimbra da Mota, no Estoril

Árbitro: Rui Costa (AF Porto)

Estoril: Luís Ribeiro; Joel, João Afonso, Diakhité, Ailton; Afonso Taira, Eduardo, Yarchuk (Bazelyuk, 82’); Licá, Matheus Índio (Tocatins, 73’) e Bruno Gomes (Kléber, 46’)

Treinador: Pedro Carmona

Suplentes não utilizados: Thierry, Gonçalo Brandão, Dankler e Diogo Amado

Sporting: Rui Patrício; Schelotto, Coates, Paulo Oliveira, Jefferson; João Palhinha, William Carvalho; Gelson Martins (Podence, 90+2’), Bryan Ruíz, Alan Ruíz (Bruno César, 81’) e Bas Dost (Castaignos, 90+2’)

Treinador: Jorge Jesus

Suplentes não utilizados: Beto, Rúben Semedo, Francisco Geraldes e Joel Campbell

Golos: Bryan Ruíz (22’) e Bas Dost (86’)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Diakhité (85’)

Foi a ausência do capitão que encheu as páginas dos desportivos durante a semana: quem iria substituir Adrien no onze? Quatro hipóteses: a previsível, Palhinha, com a respetiva subida de William para ‘8’; a natural, Francisco Geraldes, que conhece bem aquelas zonas do terrenos; as adaptações, Bryan Ruíz e Bruno César, que passaram por lá durante a pré-temporada e em alguns jogos oficiais. Jorge Jesus foi pela primeira hipótese – e a curiosidade passou mesmo a ser sobre o rendimento de William.

Não foi bom, nem foi mau. Aliás, foi um bocado como a exibição dos leões durante o primeiro tempo – bem a defender, poucos expressivos a atacar. William não é um jogador que explore espaços entre linhas e a sua meia-distância deixa muito a desejar, mas tem mais argumentos na recuperação de bolas e na visão de jogo, arriscando os passes longos. Tudo “assim-assim”, com algumas falhas posicionais à mistura. Como o jogo em si, acrescente-se.

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Em 45 minutos, o Sporting teve uma oportunidade flagrante – transformada por Bryan Ruíz, à boca da baliza após desvio de Schelotto – e duas bolas de golo ao lado, de Bas Dost na área e de William à entrada da mesma. Já o Estoril, entre os remates de meia-distância tentados, obrigou uma vez Patrício a defesa mais apertada, através de Matheus Índio. A primeira parte foi isto e nada mais. Chegou o intervalo. E a redenção dos leões.

Lendo o que se tinha passado na primeira parte, Jorge Jesus mexeu sem mexer. Expliquemos: Alan Ruíz começou a vir buscar jogo mais atrás para retirar superioridade ao meio-campo do Estoril; Palhinha conseguiu fazer algumas zonas de pressão mais à frente para retirar espaço ao meio-campo do Estoril; e o ala sem bola, fosse Gelson Martins ou Bryan Ruíz, jogou mais por dentro para retirar referências ao Estoril, entre defesa e meio-campo. Com isso, William melhorou. E Palhinha melhorou. E Alan Ruíz melhorou. Subiu o individual, melhorou o coletivo. E essa subuida só não teve reflexo no resultado porque Dost (56′) e Gelson (70′) falharam o impossível.

As entradas de Kléber e, mais tarde, Tocatins deram outra qualidade ao Estoril, mas a verdade é que se Rui Patrício teve um jogo muito tranquilo na primeira parte, na segunda podia mesmo ter aproveitado alguns momentos para ter dois dedos de conversa com os muitos adeptos na bancada atrás de si. A verdade é que, com Paulo Oliveira e Jefferson, a defesa dos leões estabilizou. E isso, numa equipa de Jesus, é mais de meio caminho andado para a vitória. Essa, no entanto, acabaria por chegar já perto do final, de grande penalidade, pelo inevitável Bas Dost, que reforçou o primeiro lugar na lista dos melhores marcadores com 18 golos.

18

Bas Dost aproveitou a ausência de Adrien para transformar uma grande penalidade (o capitão é o número 1 da hierarquia de marcadores) e reforçar a liderança entre os melhores marcadores da Primeira Liga com 18 golos, mais cinco do Mitroglou (Benfica) e André Silva (FC Porto)

Não há duas sem três e o Sporting conseguiu somar o terceiro triunfo consecutivo na Primeira Liga. Ainda assim, o mais correto mesmo é dizer que não há duas sem os três, porque foi essa mexida posicional ao intervalo que abriu caminho de vez a uma vitória que mantém os leões a dez pontos do Benfica e, agora, a seis do FC Porto, que joga amanhã no Bessa com o Boavista. E tudo sem Adrien, o capitão omnipresente que fez falta sem o fazer.