O pretexto para a entrevista era o seu novo livro. Mas George W. Bush acabou por aceder em avaliar o primeiro mês de Donald Trump na Casa Branca – e não o fez sem críticas, ainda que discretas, às medidas que o atual Presidente tem tomado em relação à imigração, à Rússia e aos media.

O republicano e antigo presidente norte-americano foi o convidado esta segunda-feira, 27, do programa matinal Today Show, da NBC, para falar sobre o seu novo livro, Portraits of Courage: A Commander in Chief’s Tribute to America’s Warriors [Retratos de Coragem: o Tributo de um Comandante-Chefe aos Guerreiros da América].

Embora de forma velada, sem atacar ostensivamente o sucessor de Obama na Casa Branca – contra quem o seu irmão Jeb Bush concorreu nas primárias -, George W. Bush (que ocupou o cargo entre 2001 e 2009) criticou a forma de governação e algumas das medidas do atual presidente. E dirigiu as críticas em especial às polémicas medidas de imigração e à guerra com os jornalistas, que Trump classifica de “inimigos do povo” e de produzirem “notícias falsas”.

Sobre as notícias que têm dado conta das alegadas relações entre conselheiros próximos de Trump e responsáveis do governo de Moscovo, durante a campanha eleitoral (e que já levaram à demissão de Michael Flynn do cargo de conselheiro de Segurança Nacional), George W. Bush não se alongou: “Todos precisamos de respostas”. Já no que toca ao controverso veto à imigração de cidadãos de sete países de maioria muçulmana (Irão, Iraque, Líbia, Somália, Sudão, Síria e Iémen) e refugiados, atualmente suspenso por ordem judicial, W. Bush também fez questão de se demarcar do atual inquilino da Casa Branca:

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Sou apologista de uma política de imigração acolhedora e que obedece à lei.”

Bush foi mais incisivo quando convidado a analisar as últimas notícias sobre a guerra aberta de Trump contra a imprensa, que escalou recentemente com a proibição de entrada dos repórteres do New York Times, da CNN, do Los Angeles Times e do Politico no briefing diário da Casa Branca, e com o anúncio de Trump de que não irá participar no tradicional jantar de correspondentes estrangeiros da Casa Branca. Ainda assim, não atacou diretamente o atual presidente, preferindo recordar a sua própria experiência:

Sempre considerei os media um elemento essencial da democracia. O poder pode ser muito viciante e também pode ser corrosivo. É importante que a imprensa chame às responsabilidades as pessoas que abusam do poder.”

“Uma das coisas em que gastei muito tempo foi a tentar convencer uma pessoa como Vladimir Putin, por exemplo, a aceitar o conceito de imprensa independente. E é um bocado difícil dizer aos outros que devem ter uma imprensa livre e independente se nós próprios não estamos dispostos a ter uma”, completou o ex-presidente, antes de retomar o assunto da entrevista: pintura a óleo.

Foi com essa técnica que pintou os 64 retratos (e quatro murais) de veteranos e militares ainda no activo que agora publica em livro, com 192 páginas, edições de capa dura e deluxe, e introduções da mulher, Laura, e de Peter Pace, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas norte-americanas que, em 2007, foi notícia por considerar, em entrevista, a homossexualidade “imoral”. Para acompanhar cada uma das pinturas, George W. Bush escreveu pequenos textos sobre os retratados – grande parte deles são soldados feridos em combate que conheceu através da Fundação Bush.