A ex-procuradora-adjunta Teresa Sanchez, que trabalhava com o procurador do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), Orlando Figueira, à data do arquivamento dos processos-crimes que envolviam o vice-presidente angolano, fez declarações que incriminam o magistrado, dizendo que discordou da decisão, conforme noticia o Público, com base no despacho da acusação de corrupção de Manuel Vicente.

Como Observador tinha explicado num especial sobre a acusação de corrupção contra Manuel Vicente, o despacho de arquivamento teve a oposição da procuradora adjunta Teresa Sanchez, que coadjuvava Orlando Figueira nos inquéritos sobre Angola mas que não chegou a assinar aquele arquivamento, por entender que, se se arquivava as suspeitas contra Vicente, devia tomar-se a mesma decisão para os indícios sobre ‘Kopelipa’ e ‘Dino’. Isto porque a proveniência do dinheiro, em parte, era a mesma.

Certo é que sobre as suspeitas relacionadas com estes outros casos, de ‘Kopelipa’ e ‘Dino’, Orlando Figueira nunca proferiu nenhum despacho. O arquivamento do inquérito aberto contra estes responsáveis angolanos só veio a ser decretado a 26 janeiro de 2015 por outro procurador — e três anos depois de Manuel Vicente.

Teresa Sanchez, que assumia funções como procuradora-adjunta, sendo subordinada de Orlando Figueira, é agora uma das testemunhas da acusação. Ouvida pelo Ministério Público, explica como Orlando Figueira agia de forma diferenciada nos casos que envolviam Angola. Nesses casos era ele próprio a elaborar os despachos e a acompanhar de perto os processos, mesmo quando estava de férias, enquanto nos restantes casos delegava as tarefas, sendo habitualmente a procuradora-adjunta a preparar os despachos que depois, no final, precisavam só da assinatura do procurador-geral.

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“Contrariamente ao que sucedia nos restantes inquéritos, naqueles que envolviam personalidades e entidades angolanas, porque assim entendia, o arguido Orlando Figueira mantinha um acompanhamento muito intenso dos mesmos, não delegando tarefas e elaborando pessoalmente os despachos que depois apresentava a Teresa Sanchez, para que os assinasse também”, lê-se na acusação, relatando o testemunho da procuradora.

Segundo o despacho, houve mesmo uma situação em que Teresa Sanchez assinou um despacho onde solicitava vários documentos ao advogado de Manuel Vicente, Paulo Blanco, mas Orlando Figueira, quando soube do sucedido, “mostrou-se desagradado” e disse que “as diligências mencionadas nesse despacho não tinham qualquer utilidade e que não deveriam ter sido determinadas”.

O que levou à acusação de corrupção contra Manuel Vicente?