Os dois têm mais em comum do se julga. A latitude de um e de outro é diferente, sim. Cardozo é paraguaio e Mitroglou grego. Mas ambos são pontas-de-lança — Cardozo mais de área e Mitroglou mais fino de pés (o golo recente ao Braga é disso prova) –, ambos “calmeirões”, ambos de canhota sempre pronta a chutar e, sobretudo, ambos com faro pelo golo.

Não se cruzaram na Luz. Mas esta noite, diante do Estoril, Mitroglou fez-nos recordar Cardozo – que, curiosamente, até joga por ora na Grécia e no Olympiacos que outrora foi pouso de Kostas. Não tanto pelos dois golos que fez na Amoreira, na meia-final da Taça de Portugal. Não. A memória é outra: é que desde Cardozo em 2011/12 que ninguém no Benfica (não, nem mesmo Jonas) “molhava a sopa” tão consecutivamente: seis (leia-se: seis) jogos de seguida a marcar.

E Cardozo até foi mais longe: começou a marcar ao Otelul, na Liga dos Campeões, a 7 de dezembro de 2011, e só parou oito jogos mais tarde, a 28 de janeiro, diante do Feirense. Tudo somado, duas mão-cheia de golos para o “Tacuara”. E Mitroglou? Esse, começou diante do Nacional, a 5 de fevereiro, e nesta terça-feira de Carnaval continuou o “corso” de golos. Ao todo, em seis jogos, nove.

O recorde do “Tacuara” (que não é coisa rara; antes, Manniche — o dinamarquês — e Saviola também haviam conseguido marcar de enfiada em seis jogos) não está distante, mas a média até favorece o grego.

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Quanto ao jogo, foi “morno”, quase sempre assim na primeira parte, mas até começou quentinho, quentinho. Logo aos cinco minutos, apenas eles, Luís Ribeiro e Rafa, num tête-à-tête. O remate de Rafa foi frontal, com tempo para tudo, com espaço para tudo e mais um par de botas, mesmo na pequena área. Não tinha como falhar, o avançado. Escolheu o lado esquerdo para rematar. E até rematou forte e com colocação. Mas Ribeiro adivinhou-lhe a intenção, esticou-se todo e desviou para canto. Tudo começou na direita, com um cruzamento de Nélson Semedo que à primeira foi cortado pela defesa do Estoril, mas que à segunda (a bola regressou caprichosamente ao lateral benfiquista) chegou mesmo aos pés de Rafa, isolado. O resto é história. Sem golo.

O jogo amoleceria depois. Até que chegámos aos cinco minutos loucos. Aos 36’, o cruzamento de Živković, à esquerda e para o segundo poste, só tinha um destinatário — e não seria certamente João Afonso nem Gonçalo Brandão, pois (de tão “curvado” que o cruzamento foi) nenhum deles chegou à bola. O destino era Mitroglou, lá longe, que escapou ao fora-de-jogo e “só” teve que encostar. O grego é o goleador-mor desta edição da Taça: oito golos.

Depois, aos 41’, Eduardo Teixeira “colou” a bola na canhota, driblou Eliseu primeiro, Filipe Augusto depois — e este, Augusto, até se lesionaria (sozinho, diga-se) após ser driblado –, entrou na área… mas de tanto driblar e mais driblar, perderia a bola. Esta ainda sobraria na direita para o lateral Dankler, que a cruzou prontamente. Eliseu desviou a bola com o braço, penalty assinalado e cartão amarelo para o lateral benfiquista. Na conversão, Júlio César escolheu o lado esquerdo, Kléber rematou para o centro da baliza e deixou tudo na mesma: 1-1 no Estoril-Benfica.

Déjà vu? Sim. Um frente a frente entre Rafa e Luís Ribeiro aos 56′. E o guarda-redes do Estoril voltou a levar a melhor. O cruzamento, tal como da primeira vez, foi de Nélson Semedo, Gonçalo Brandão “adormeceu” e Rafa recebeu a bola sem oposição, voltou-se para a baliza e… “aqui vai disto!” Um remate forte, frontal, desta vez para o lado direito, com Ribeiro a fechar o ângulo e a desviar para canto.

O Benfica queria mais do que um empate. Queria jogar a segunda-mão na Luz, em Abril, com a eliminatória “no bolso”. E foi por menos de um palmo que aos 75’ não o conseguiu. Cervi arrancou pela esquerda, deixou Dankler para trás, cruzou recuado, Mitroglou desviou de primeira, mas o desvio do grego ainda tocaria em João Afonso e saiu ao lado do poste direito à guarda de Luís Ribeiro.

O treinador do Estoril, um espanhol com “pinta” de Guardiola, Gómez Carmona, deitou então trancas à porta: saiu Licá e entrou o central Oumar Diakhité. Isto a um minuto apenas dos noventa. Aos noventa propriamente ditos, teve a porta arrombada pelo suspeito do costume. O golo conta, 2-1 para o Benfica, mas não deveria contar: é irregular: Mitrolgou está em fora-de-jogo. Eliseu desmarca Cervi dentro da área num passe de calcanhar, o argentino cruza rasteiro para Mitroglou e este, sem centrais por perto e com Luís Ribeiro por terra, contornou o guarda-redes do Estoril e encostou.

O Ano Novo fez-lhe bem. Começou a época de mal com as balizas (faltava-lhe talvez o parceiro Jonas para o servir como na época anterior), mas em 2017 este grego está louco por elas: 12 jogos, 15 golos.