Olhamos para a lista telefónica, vamos à letra J e lá está, Juande Ramos. O espanhol é daqueles treinadores que parece mesmo fazer parte do imaginário do Sporting. Ao nível de José Pekerman, por exemplo, que orienta a seleção da Colômbia. Ou de Marcelo Bielsa, que se encontra agora no Lille. Seja em período eleitoral (2011) ou na ressaca da saída de um técnico (Paulo Bento ou Paulo Sérgio), lá surge o nome naquilo a que se chama “short list”. E lá começam as chamadas. Chega a triagem e cai. Agora, e em caso de triunfo de Pedro Madeira Rodrigues a 4 de março, será de vez.

Aos 62 anos, o antigo médio que deixou cedo os relvados em virtude de uma lesão no joelho está sem clube, após uma passagem relâmpago pelo Málaga entre maio e dezembro de 2016 (cinco vitórias, seis empates e sete derrotas em 18 jogos). Antes, entre 2010 e 2014, o espanhol passou pelo Dnipro, da Ucrânia, tendo conseguido um segundo lugar do campeonato de 2013/14 (76 vitórias em 135 encontros). Mas foi no Sevilha, a partir de 2005, que Juande Ramos conseguiu os principais feitos.

Após passagens por Ilicitano, Alcoyano, Levante, Logroñés, Barcelona B, Lleida, Rayo Vallecano (onde subiu à 1.ª Divisão), Betis, Espanyol e Málaga, numa carreira sempre a subir a pulso a nível de escalões e relevância das equipas, Juande Ramos fez furor e tornou-se um treinador da moda na Europa na cidade andaluz, conquistando duas Taças UEFA, uma Supertaça Europeia, uma Taça do Rei e uma Supertaça de Espanha entre 2005 e 2007. Em outubro, arriscou a primeira aventura no estrangeiro, no Tottenham, mas nem a vitória na Taça da Liga impediu que saísse um ano depois.

O espanhol não esteve muito tempo parado e voltou pela porta grande: pouco mais de um mês depois, substituiu Schuster no comando do Real Madrid até ao final dessa época de 2008/09. Em setembro de 2009, Juande Ramos rendeu Zico no CSKA Moscovo mas, apenas 47 dias passados, saiu por mútuo acordo. Seguiu-se a Ucrânia.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Atento aos pormenores extra-futebol – quando chegou ao Tottenham e viu um buffet para os jogadores como se fosse um casamento, como descreveu ao “The Guardian”, quis desde logo alterar os hábitos alimentares dos jogadores –, Ramos é conhecido por ser um treinador próximo dos jogadores. Na última experiência, pelo Málaga, fez questão de deixar uma emotiva carta de despedida, explicando que a pressão que a equipa enfrentava em cada jogo, mesmo estando dentro dos objetivos para a época, em nada beneficiava o rendimento coletivo e individual.

Uma dança que já começa a ser habitual

O anúncio de treinadores tem sido uma tónica das últimas eleições do Sporting, sobretudo a partir de 2009 – no sufrágio anterior, em 2006, Filipe Soares Franco e Sérgio Abrantes Mendes mostravam total confiança em Paulo Bento, discutindo-se apenas a equipa que iria acompanhar o treinador a nível de departamento de futebol. Antes, é preciso recuar quase ao final da década de 80 para ver eleições com mais do que um candidato, mas nessa altura o que se falava era de jogadores – alguém se esquece das “unhas do leão” de Jorge Gonçalves?

Nesse ano de 2009, enquanto José Eduardo Bettencourt apostava em Paulo Bento “forever”, Paulo Pereira Cristóvão garantiu acordo com Sven-Goran Eriksson em caso de triunfo. Em 2011, aí sim, houve nomes para todos os gostos: Godinho Lopes nunca assumiu quem seria o seu técnico mas nunca negou a hipótese Domingos, que estava na altura no Sp. Braga; Bruno de Carvalho apresentou Marco van Basten na sede da sua campanha, em Alvalade; Dias Ferreira, que contava com Futre para o futebol verde e branco, conseguiu um acordo com Frank Rijkaard; Pedro Baltazar tinha Zico como técnico em caso de triunfo; e Abrantes Mendes falou com Dunga. Por fim, em 2013, Bruno de Carvalho e José Couceiro nunca abdicaram do discurso de confiança no técnico da altura, Jesualdo Ferreira, mesmo sabendo que poderia sair no final da época (como viria a acontecer, chegando Leonardo Jardim).