Ajoelhada num dos sofás da Sala Oval, ainda com os sapatos calçados e em pose descontraída, Kellyanne Conway tira fotos e consulta o telemóvel. Ao fundo da sala está um sorridente Donald Trump, rodeado por vários dirigentes de escolas e universidades americanas negras, alguns sem esconderem uma expressão de surpresa. O que está errado nesta imagem, afinal?

A foto, tirada ontem pela agência AFP, está a causar controvérsia pelo que muitos consideram uma pose demasiado descontraída da conselheira do presidente norte-americano num evento oficial da Casa Branca. O ‘couchgate’ (‘o caso do sofá’), como já lhe chamam, tornou-se viral, com os americanos a debaterem-se entre as críticas a Conway (que acusam de arrogância e desrespeito pelas regras da Casa Branca) e os que a apoiam (por considerarem que até Obama foi fotografado a brincar no chão da Sala Oval e não foi alvo do mesmo tom crítico).

Em entrevista à Fox News, ao final da noite, Kellyanne Conway explicou o que se passou naquele momento, realçando que nunca foi sua intenção desrespeitar a Sala Oval. “Pediram-me para tirar a foto. Tínhamos uma sala cheia. Nunca tivemos tantas pessoas na Sala Oval nesta administração juntando homens e mulheres ao mesmo tempo para tirar uma fotografia”, explica a conselheira. “Não tinha, literalmente, mais espaço. Os jornalistas já tinham entrado. Alguns pediram-me para tirar fotografias e reenviar para eles e foi o que eu fiz. Só que o fiz naquele ângulo. Pr

“Se [Susan] Rice ou [Valerie] Jarrett se tivessem sentado assim na Sala Oval, os conservadores teriam andado aos gritos durante semanas”, escreveu Bret Stephens, colunista do The Wall Street Journal, no Twitter. “Ocorrem-me tantas coisas nesta imagem que não… não posso”, comentou, também no Twitter, a realizadora Ava Duvernay, tentando justificar a fotografia. Também o escritor e advogado Theodore Johnson teve dificuldade em encontrar as palalras certas:. “Nestas fotos estão todos os comentários sobre a raçae o respeito que podem existir”. Mas também há quem tente desvalorizar a polémica, como Chris Cilliza, do Washington Post: “Estava no sofá a tentar tirar uma foto. Não é revelador de nada”, escreveu. “Chegámos a um ponto em que a política, até ao incidente mais mundano, tem de estar associado a um simbolismo nefasto.”

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O certo é que a polémica, mais uma de Kellyanne Conway, se tornou viral nas últimas 24 horas e a conselheira do Presidente norte-americano já é alvo de memes e várias brincadeiras nas redes sociais.

Como este em que é colocada sobre a mesa da última ceia de Jesus Cristo e dos Apóstolos: “em cima da mesa não, Kellyanne”.

Em que surge “adaptada” na personagem de Rick James.

https://twitter.com/barstoolsports/status/836749105191866370

Ou é apanhada a caçar Pokemons na Sala Oval.

A pose informal da conselheira num dos gabinetes mais respeitados da América foi considerada uma “falta de respeito”, mas muitos recordam que este é um estilo que já era promovido por Donald Trump nos escritórios das suas empresas e que parece manter-se na Casa Branca – onde figuras como o chefe de gabinete, Reince Priebus, ou o seu principal conselheiro, Steve Bannon, têm livre trânsito. Uma Sala Oval de “portas sempre abertas”.

Não é de facto a primeira vez que q Sala Oval é palco de comportamentos menos ortodoxos. Obama foi muitas vezes fotografado de gatas no tapete com selo presidencial a brincar com bebés e crianças filhos do pessoal da Casa Branca e com os pés sobre a mesa – aliás, muitas dessas imagens estão agora a ser recuperadas para responder aos críticos de Conway.

https://twitter.com/GigiTracyXO/status/836538199283482624

Os defensores de Kellyanne Conway não se limitam a recordar as imagens mais recentes de Obama e Biden na Sala Oval, estão também a recuperar o caso de Bill Clinton e da estagiária Monica Lewinsky (que terá ocorrido no mesmo espaço), das brincadeiras do filho de John Kennedy e de outras imagens que continuam a povoar o ‘couchgate’.

[notícia atualizada às 15:00 com a reação de Kellyanne Conway em declarações à Fox News]