Foi na noite de 13 de junho de 2016, quando regressava a casa vindo de uma discoteca em Milão, que Fabiano Antoniani, mais conhecido por DJ Fabo, perdeu o controlo do seu carro. O acidente deixou-o tetraplégico e cego. Antoniani iniciou então uma campanha pelo direito a uma morte medicamente assistida, ilegal em Itália, a única forma de escapar à dor e à “longa noite” em que se tinha transformado a sua vida.

Nos meses que se seguiram, DJ Fabo tentou de tudo. Contactou o Partido Radical italiano, o Presidente Sergio Mattarella — a quem enviou um vídeo em que lhe pedia que o deixasse morrer porque vivia “num pesadelo que não tem fim” — e os meios de comunicação, reabrindo uma discussão antiga em Itália. Mas em vão. Sem mais opções, atravessou os Alpes até à Suíça, onde morreu na segunda-feira numa clínica em Zurique. Com ele estava a mãe e a namorada, Valeria Imbrogno. “Estou finalmente na Suíça e, infelizmente, cheguei aqui sozinho e não com a ajuda do meu país“, afirmou numa gravação divulgada pouco tempo antes da sua morte, citada pelo El País.

“Não consigo suportar a dor mental e física. Vivo em casa da minha mãe em Milão com uma pessoa que me ajuda e a minha namorada que passa o máximo de tempo que consegue comigo. Levam-me à rua muitas vezes, mas eu não quero. Os meus dias são repletos de sofrimento e desespero, enquanto tento procurar um sentido para a minha vida. Estou determinado em acabar com esta agonia”, cita o The Sun.

Na mesma mensagem, Antoniani dirigiu um agradecimento especial ao ex-deputado europeu Marco Cappato, um dos principais defensores da legalização da eutanásia e do suicídio assistido em Itália. “Quero agradecer a uma pessoa que foi capaz de me arrancar deste inferno de dor, de dor, de dor. Chama-se Marco Cappato e vou agradecer-lhe até à morte”, disse o DJ.

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Cappato acompanhou de perto o caso de Fabiano Antoniani que, de acordo com El País, terá pedido ao ex-deputado que o acompanhasse até à Suíça. Foi ele, aliás, que confirmou a morte do DJ Fabo através do Twitter: “Fabo morreu às 11h40. Escolheu seguir as regras de um país que não é o seu“, escreveu na rede social.

A eutanásia e o suicídio assistido não são permitidos em Itália. Nos últimos anos, contudo, alguns casos mais polémicos têm dividido a opinião pública e levantado algumas questões legais. Depois de três adiamentos, será finalmente discutido no Parlamento italiano, a 6 de março, um projeto de lei sobre o testamento vital (documento onde é possível manifestar o tipo de tratamento ou cuidados de saúde que um indivíduo pretende ou não receber quando não for capaz de expressar a sua vontade), que ajudará a esclarecer a questão.

Em Portugal, a discussão voltou ao Parlamento no final de janeiro. Na altura, os partidos mostraram-se interessados em analisar a questão, mas sem pressa para legislar.