Um grupo de cientistas da Universidade de Cambridge conseguiu criar embriões artificiais de ratos a partir de células estaminais colocadas numa caixa de Petri em laboratório. Os embriões foram criados utilizando células-tronco embrionárias que, no início do desenvolvimento, podem dar origem a qualquer tipo de células e, consequentemente, a qualquer órgão. Este feito torna mais possível o desenvolvimento de vida artificial humana em laboratório e permite investigar melhor os problemas de infertilidade.

A criação de embriões artificiais de rato foi conseguida em três passos. Primeiro, os cientistas recolheram células estaminais da placenta do rato e células-tronco embrionárias, que são pluripotentes porque podem dar origem a todos os tecidos do organismo. Uma dessas células estaminais é circundada por um aglomerado de células-tronco e colocada numa cultura rica em nutrientes. Nunca antes os cientistas tinham juntado as duas células em laboratório. Depois, as células foram-se desenvolvendo: as células estaminais deram origem à placenta e as células-tronco originaram o embrião. Ao fim de quatro dias e meio, os embriões assemelhavam-se a embriões normais de ratos e as células já se estavam a diferenciar para criar os diferentes tecidos e órgãos do corpo.

O facto de as células estaminais da placenta do rato e célula-tronco embrionárias terem sido postas em contacto provou que elas podem comunicar e organizarem-se sozinhas sem a intervenção dos cientistas. Esta é a primeira vez que os cientistas conseguiram criar um embrião sem usar os óvulos das fêmeas. Até agora, os cientistas já tinham conseguido criar animais em laboratório sem utilizar o espermatozoide (é o caso da clonagem da ovelha Dolly, que foi criada sem uma célula sexual masculina), mas nunca antes tinha sido possível criar animais sem recurso à célula sexual feminina. Este embrião nasceu sem utilizar nenhum óvulo ou espermatozoide.

Técnicas como esta já estão a revelar algumas respostas que os cientistas ainda não tinham sobre a reprodução. Por exemplo, já sabíamos que os embriões de mamíferos começavam como uma esfera de células que depois se alongava e formava uma cavidade central a partir da quase desenvolvia a mesoderme, a camada de células que origina os ossos e os músculos. Com esta novidade em laboratório, os cientistas já percebem melhor como se forma a mesoderme. Em experiências futuras esperam descobrir como é que a ectoderme origina a pele e o sistema nervoso central e como é que a endoderme cria os órgãos internos. E isso pode ser possível, acreditam os cientistas britânicos, adicionando células estaminais que possam dar origem à vesícula vitelina, responsável por armazenar substâncias nutritivas para o embrião.

Tal como estes embriões de rato foram criados em laboratório, o mesmo pode ser possível em embriões humanos, mas não sem levantar algumas questões éticas. Os cientistas podem fazer experiências em embriões criados através de tratamentos de fertilização in vitro, mas são escassos e devem ser destruídos após 14 dias. Esta técnica, acreditam os cientistas, podem ultrapassar os limites éticos e mesmo assim trazer muitas respostas com experiências realizadas nesse espaço de tempo.

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