Um ruidoso protesto e tentativas para travar o cordão policial que escolta os funcionários da Polis Litoral Ria Formosa marcou hoje, no núcleo dos Hangares, a última tomada de posse administrativa de casas a demolir nas ilhas-barreiras. Os funcionários da Polis chegaram àquele núcleo do concelho algarvio de Olhão pelas 08h30 e iniciaram o percurso de várias centenas de metros até à primeira das 17 habitações sinalizadas para demolição no núcleo com os cerca de 150 manifestantes a tentar impedir o progresso dos 40 elementos da Polícia Marítima que protegiam a equipa da Polis.

Os ânimos exaltaram-se à chegada à primeira habitação – os manifestantes bloquearam as escadas de acesso à construção e obrigaram a Polícia Marítima a retroceder e a reorganizar-se para depois os técnicos iniciarem a marcação. Com palavras de ordem “é uma vergonha” e “estão a tirar-nos a nossa vida”, os manifestantes seguiram em ruidoso protesto o cordão que vai avançando lentamente. José Lezinho, da Associação de Moradores dos Hangares (ilha da Culatra), explicou à Lusa que, apesar das reuniões de sensibilização que teve com os populares, a emoção acabou por falar mais alto na hora da intervenção da Polis.

“O nosso receio era que isto descambasse. A Polícia Marítima está a fazer o trabalho dela, mas não é fácil viver com esta situação porque o coração acaba por falar mais alto”, referiu.

Inicialmente, a Sociedade Polis Litoral Ria Formosa tinha sinalizado 23 construções para a tomada de posse administrativa de hoje, mas a apresentação de seis providências cautelares só permite a tomada de posse de 17 construções, explicou à Lusa o presidente da sociedade Polis, José Pacheco. Na semana passada, a Polis tomou posse de 29 construções no núcleo do Farol e não de 34, como previsto, por haver cinco com providências cautelares, mas os moradores queixaram-se de ter sido concretizada a posse de construções que estavam protegidas por aquele mecanismo legal.

José Pacheco estimou que as demolições avancem no terreno dentro de um mês, explicando que a obra ainda tem que ser consignada ao empreiteiro, que terá depois que realizar alguns procedimentos de natureza ambiental, nomeadamente a retirada de telhas de amianto de alguns edifícios, o que requer uma licença. Ao todo, em ambos os núcleos, estão sinalizadas 60 construções consideradas ilegais para demolição, embora ainda haja providências cautelares sem decisão do tribunal e casos que estão a ser reavaliados pelo ministério.

Em abril do ano passado, de acordo com os planos da Polis, eram 200 as construções que deveriam ter esse destino, número que em outubro passou para 80 e que agora se cifra em 60, concluiu. Depois do dia desta quinta-feira o processo de tomadas de posse nas ilhas-barreira deverá ficar concluído, pelo menos para já, uma vez que a situação só será reavaliada dentro de três anos, em todos os núcleos da ria Formosa.

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