A associação de lesados do BES ABESD anunciou este sábado que vai interpor ações judiciais contra o Banco de Portugal, afirmando que este teve informação que lhe permitia atuar mais cedo no caso BES, assim como ações contra outras entidades.

Em declarações à Lusa, o presidente da Associação de Defesa dos Clientes Bancários (ABESD), Luís Janeiro, adiantou que a associação vai processar “brevemente” o Banco de Portugal, mas não só, também outras entidades públicas, entre elas poderes políticos, e privadas, nomeadamente bancos e consultoras.

Mas o foco da associação, que representa cerca de 120 lesados nacionais e emigrantes do Banco Espírito Santo (BES)/Grupo Espírito Santo (GES), recai principalmente sobre o Banco de Portugal, destacando que os “novos factos” divulgados esta semana pela reportagem da SIC Assalto ao Castelo mostram que “os clientes dos balcões nacionais do BES e das sucursais financeiras exteriores do banco foram manipulados e enganados aquando das suas aplicações” (‘misselling’).

“O Banco de Portugal estava consciente da situação real do BES e da forma como estava a ser feito o financiamento do grupo financeiro e não atuou em devido tempo, permitindo que os clientes assumissem um risco que desconheciam que resultou na perda das suas poupanças”, lê-se ainda num comunicado que a associação também divulgou hoje.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Luís Janeiro sublinhou que “o Banco de Portugal é o eixo central e o núcleo deste problema” e lembrou que nos últimos meses antes do colapso do banco vários foram ainda os associados da ABESD que investiram em papel comercial e viram as suas poupanças serem aplicadas em instituições falidas e com contas falsificadas, “sob o aval de aceitação” do regulador bancário.

“Eu represento aforradores. O governador do Banco de Portugal tinha todos os poderes, de acordo com a lei, para ter afastado o Dr. Ricardo Salgado e não o fez com prejuízo efetivo, ao mesmo tempo que dava a instrução à estrutura para vender mais porcaria”, disse Luís Janeiro.

A ABESD irá ainda pedir reuniões a todos os grupos parlamentares, ao gabinete do primeiro-ministro e ao Presidente da República, para esclarecer que consequências poderão resultar da nova informação divulgada e “que contradiz as declarações que o governador do Banco de Portugal prestou na comissão de inquérito do caso BES/GES”.

Na noite de 03 de agosto de 2014, o Banco de Portugal anunciou a aplicação ao BES de uma medida de resolução.

A descoberta de fraudes, os prejuízos do BES de 3,6 mil milhões de euros, no primeiro semestre de 2014, os maiores da história da banca em Portugal, e o incumprimento de regras exigidas pelos reguladores e supervisores para operar no setor bancário levaram ao fim da instituição centenária fundada pela família Espírito Santo.