É a primeira vez que a mulher do candidato da direita às presidenciais, François Fillon, fala sobre as suspeita de o marido lhe ter pago, na altura em que era primeiro-ministro (2007-2012), vários milhares de euros, do erário público, por um trabalho de assessoria que nunca terá realizado. Numa entrevista ao francês Journal du Dimanche (JDD), publicada este domingo, dia em que Fillon fará um importante comício da campanha, Penelope Fillon garante que desempenhou “tarefas muito variadas” e que nunca o emprego foi “fictício”. Diz ainda que sempre instou o marido a “ir até ao fim” e a não desistir da corrida eleitoral, apesar das crescentes pressões, dos republicanos inclusive, nesse sentido.

“Ele precisava de alguém que desempenhasse as mais diversas tarefas [de assessoria], se não fosse a mim, ele teria sempre pago a alguém para o fazer, por isso decidimos que essa pessoa seria eu”, disse, quebrando o silêncio sobre as acusações que a envolvem a ela mas também aos filhos, que teriam igualmente desempenhados cargos de assessoria parlamentar fictícios durante o mandato de Fillon.

Penelope garante que se ocupava da correspondência e de outras tarefas maioritariamente relacionadas com a região de Sarthe, círculo pelo qual Fillon tinha sido eleito, como fazer revista de imprensa local ou ajudar na preparação de discursos. Para o provar garante ter mensagens trocadas com colaboradores por email e outros documentos, que, diz, já estão na posse das autoridades responsáveis pela investigação.

O momento é crítico para François Fillon, que luta pela sobrevivência na corrida eleitoral e que, desde que o escândalo rebentou, se tem mantido firme na ideia de não desistir da campanha — nem quando as autoridades francesas anunciaram que iriam investigar o caso e a PGR abriu um inquérito judicial. Este sábado, por exemplo, as suas residências (nomeadamente a sua casa de campo) foram alvo de buscas. Este domingo, o candidato conservador que chegou a ser apontado como o único capaz de derrotar Marine Le Pen numa segunda volta eleitoral vai fazer um importante comício em Paris, junto à Torre Eiffel, podendo anunciar se se mantém ou afasta da campanha. A primeira volta é a 23 de abril, a segunda a 7 de maio.

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Procuradoria francesa abre inquérito judicial contra François Fillon

Na mesma entrevista, que Penelope Fillon decidiu dar, na presença do seu advogado, para “pôr fim aos rumores insanos” que têm afetado a campanha do marido, diz que sempre instou o François Fillon o a seguir em frente e a não desistir das eleições. “Disse-lhe que devia continuar até ao fim. Digo-lhe isso todos os dias”, afirma, sublinhando no entanto que a decisão é do marido.

O escândalo rebentou no final de janeiro, e Fillon chegou a pedir desculpa por ter empregado membros da família, apesar de ter garantido sempre que o fez dentro dos trâmites legais. Penelope receberia, nestas funções, e até 2013, um salário médio mensal de 3677 euros líquidos.

O caso tem dominado toda a campanha e levou mesmo o partido Os Republicanos a agendar para segunda-feira à noite uma reunião da comissão política que vai “avaliar a situação”. Certo é que vários membros do partido já lhe retiraram o apoio e várias vozes têm-se levantado a defender o afastamento do candidato, numa altura em que faltam precisamente sete semanas para a primeira volta eleitoral, havendo o indício de que antes de ser o partido a fazê-lo pode ser mesmo François Fillon a anunciar essa decisão no comício marcado para esta noite de domingo.

No sábado à tarde, num evento de campanha, Fillon devia ter levantado mais pormenores sobre o seu programa eleitoral, mas centrou antes a sua intervenção nos temas da liberdade, da resistência francesa, citando nomes como Voltaire ou Joana d’Arc. As últimas sondagens sugerem que Fillon poderá ser eliminado à primeira volta, e que o adversário de Le Pen na segunda será o independente Emmanuel Macron.

Questionada sobre a perda de apoios dentro do partido, Penelope Fillon descreveu a política como um “mundo terrível” e garantiu que, “ao contrário de outros”, “jamais” deixará o marido.