A startup bracarense Youcanevent fechou uma parceria para organizar três eventos da TechMeetups – organização que tem como objetivo criar uma rede global de comunidades tecnológicas – em Nova Iorque, Barcelona e Lisboa. Pelos eventos, vão passar cerca de duas mil pessoas e há cerca de 35 pessoas envolvidas na organização. Os fornecedores, o espaço, o catering, a decoração, o entretenimento, os serviços gráficos e os transportes dos eventos que querem unir a comunidade tecnológica mundial ficam em mãos portuguesas. O evento português ocorre a 6 de abril, na Microsoft Portugal.

“Queremos realizar um evento de qualidade para toda a comunidade tech, seja em Nova Iorque, Barcelona ou Lisboa, de forma a envolver as melhores startups, os melhores talentos e empresas de Tecnologias de Informação (IT) a nível nacional. Em segundo lugar, queremos fazer networking e dar a conhecer a Youcanevent a essas empresas. Em terceiro lugar, queremos reforçar a nossa posição internacional e nacional como startup a operar na indústria do entretenimento e eventos”, explica António Trincão, 25 anos, ao Observador.

A Youcanevent surgiu com cerca de 20 mil euros que os fundadores António Trincão, 25 anos, e João Raminhos, 28 anos, investiram no projeto. Sete meses depois da fundação, os empreendedores estão a negociar com investidores norte-americanos uma ronda de investimento em capital de risco, já sustentada em números: nos últimos três meses, a empresa atingiu uma faturação de 12.500 euros, valor que deve crescer para 71 mil nos próximos três.

“Vamos montar a nossa sede em Los Angeles e Nova Iorque, porque, a nível de eventos e entretenimento, são as maiores cidades a nível mundial. E queremos estar lá”, explica António Trincão. Mas sem esquecer Portugal, garante.

A Youcanevent existe desde agosto de 2016, mas dado “o crescente número de pedidos”, além do escritório que tem em Portugal, conta também com um representante em Nova Iorque, outro em Barcelona e uma rede interna de cerca de 4 mil fornecedores, que providenciam quase 30 mil serviços, em 33 cidades, de Londres a Copenhaga, Paris, mas que ainda não está online. “A nossa plataforma ainda não está preparada para dar essa resposta”, sublinha António.

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Da Azeituna a 20 bolinhos de bacalhau

A ideia nasceu entre quatro amigos que estudavam na Universidade do Minho. António Trincão estava a estudar Negócios Internacionais mas não acabou o curso, assim como João Raminhos, 28 anos, que estava a estudar Química. “A dedicação foi mais para a Azeituna”, tuna académica da universidade, confessa António. Durante os cinco anos em que pertenceram à associação, o cofundador da Youcanevent conta que passaram pelas mesmas dificuldades que um fundador enfrenta quando se lança num negócio próprio.

“Era exatamente como uma startup. Não havia dinheiro, era preciso arranjar parceiros, fazer o máximo custando o mínimo, tínhamos de gerir equipa, stress”, sublinha.

Quando chegaram ao fim daquele “ciclo”, João propôs arrancar com um negócio em conjunto. “Estávamos tão habituados a trabalhar juntos que fazia sentido. Na altura, o João sugeriu criarmos uma empresa de casamentos low-cost [de baixo custo], só que era muito banal. Se fosse para avançar com um negocio próprio, tinha de ser para o mundo e completamente disruptivo”, conta António.

Em fevereiro de 2015 começaram a trabalhar na WIC – Will Interpersonal Corporation – uma plataforma online onde cada cliente podia comprar serviços para eventos. “Os fornecedores vendiam, por exemplo, 20 bolinhos de bacalhau. Cada cliente podia comprar online, diretamente ao fornecedor, os 20 bolinhos de bacalhau, para o evento”, explica. Mas não resultou.

No final de julho de 2015, “a melhor coisa aconteceu”. Chegaram à Startup Lisboa. António ligou a João Vasconcelos (atual secretário de Estado da Indústria que, à data, era diretor da incubadora) explicou-lhe a ideia, falou-lhe dos fornecedores e da rede nacional que estava pronta a trabalhar.

“Ele disse-me ‘tens o serviço, tens a plataforma, tens clientes. Siga, anda para Lisboa'”, conta. E assim foi. No dia seguinte estavam a entrar na Startup Lisboa.

Com o impulso alcançado em Lisboa, a atenção começou a voltar-se para o mercado internacional. No final de 2015, rumaram aos Estados Unidos, para tentar a expansão da WIC. Tentaram entrar em vários programas de aceleração mas acabaram por não ficar em nenhum. “Se calhar até foi bom, porque podíamos não estar aqui hoje”, nota António.

No percurso de uma startup, há sempre entradas e saídas, avanços e recuos. Em janeiro de 2016, a WIC deu uma “reviravolta”. “Fomos percebendo que a nossa plataforma se tinha de adaptar ao cliente e não o cliente à nossa ideia”, refere António. E começaram a preparar um produto diferente.

“Foi uma das fases mais difíceis da nossa startup (nessa altura, dois dos membros fundadores abandonaram o projeto). Eu e o João tivemos que segurar a equipa e criar a estrutura, outra vez em Portugal, à distância”, conta.

António e João acabaram por conseguir “reerguer” a empresa. O marketplace deixou de existir, dando lugar a uma plataforma que “casa” fornecedores, na área dos eventos, com clientes de qualquer parte do mundo. Nessa altura, o slogan da WIC, que era “you can event”, passou a nome da empresa.

“Como startup, fornecemos os serviços, casamos os fornecedores de eventos para clientes em qualquer parte do mundo. Temos um tipo de serviço novo – o local event planner – a pessoa que organiza e gere o evento no dia, que põe tudo em ação”, explica António. Este serviço foi agora contratado pela HackerX (empresa de recrutamento), com quem vão arrancar com uma parceria com vários local event planners pelo mundo todo.

Nesta fase inicial, os local event planners estão ligados à Youcanevent mas à medida que o serviço for crescendo, a startup quer criar tutoriais, formações virtuais para permitir a qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo, ser um local event planner (como um motorista da Uber se licencia para ser habilitado a conduzir o carro).

Na plataforma há um formulário de contacto onde cada pessoa pode deixar o seu pedido. “O cliente pode falar diretamente com os fornecedores ou connosco. É a mesma coisa, o preço é o mesmo”, esclarece António. São depois apresentadas sugestões e é enviada uma lista de fornecedores que seriam necessários para organizar a festa.