O ministro francês da Economia e Finanças defendeu esta terça-feira em Lisboa que Portugal é um país “destinado por natureza” a integrar o grupo da frente de uma União Europeia a duas velocidades.

“Estou convicto de que Portugal, pela sua História, pela política, pelos compromissos do seu Governo, é um país destinado por natureza a integrar o grupo da frente” da União Europeia (UE), afirmou Michel Sapin, numa conferência de imprensa conjunta com o seu homólogo português, Mário Centeno, no Ministério das Finanças, em Lisboa.

Mário Centeno foi o primeiro a falar, para destacar a “parceria sólida” entre os dois países, a importância do investimento francês em Portugal, que já ultrapassou o de chineses e britânicos, e também os contributos de Portugal para o “sucesso” da França, nomeadamente através do trabalho dos emigrantes.

Esta ligação, acrescentou o ministro português, “deve servir” para criar uma Europa mais forte, mais unida e um projeto mais sustentável, mas mostrou não ser do interesse de Portugal a existência de uma Europa onde os Estados-membros progridem a ritmos diferentes.

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“Não acreditamos numa Europa a duas velocidades. Acreditamos numa Europa construída a uma boa velocidade e onde alguns países podem trabalhar mais proximamente e em conjunto em alguns assuntos”, afirmou Mário Centeno.

O ministro defendeu ainda que nos próximos meses se deve conseguir um consenso sobre a união bancária europeia, uma peça que disse ser basilar na construção da União Económica e Monetária, e se deve também procurar consensos sobre a forma de tornar o investimento mais eficaz.

Por seu turno, o ministro francês destacou a posição igual de Portugal e França sobre o terrorismo e o seu combate, e falou dos Estados Unidos e da “imprecisão” da atual administração norte-americana quanto à União Europeia e que, na sua opinião, não deve ser motivo de uma paragem no avanço do projeto europeu.

Sobre uma Europa a duas velocidades, Michel Sapin voltou a defendê-la, salientando que nem todos os países da União Europeia podem avançar ao mesmo ritmo e que os países mais fortes não devem ser prejudicados e devem avançar a maior velocidade.

O ministro francês fez ainda questão de destacar a “grande” diferença entre Portugal e a Grécia, desfazendo “confusões” entre os dois países e defendendo que a maior diferença é a Grécia precisar da solidariedade europeia e Portugal “já ter abandonado” essa forma de ajuda.

Os ministros francês e português, questionados pelos jornalistas, reafirmaram a rejeição a medidas de protecionismo económico e defenderam uma Europa “aberta ao mundo”, tendo Michel Sapin criticado os norte-americanos ao dizer que “uma posição não se define por uma sucessão de ‘tweets'” (mensagens publicadas na rede social Twitter).

Sapin destacou a urgência de a administração norte-americana estabilizar a sua posição e esclarecer as suas direções e orientações, mas ressalvou que a Europa “não pode parar” por causa disso e, pelo contrário, deve reafirmar a sua coesão e unidade.

Na segunda-feira, o presidente francês, François Hollande, defendeu uma Europa a duas velocidades, considerando, numa entrevista a seis jornais europeus, que alguns Estados-membros têm de poder progredir mais depressa se quiserem, “senão a Europa explode”.

VP (MBA) // CSJ

Lusa/fim