Em 2001 foi descoberta uma tábua de pedra, com uma inscrição em hebreu, que se julga ter pertencido ao Templo do rei Salomão, descrito na Bíblia. Mas as dúvidas persistem quanto à veracidade do artefacto: uns dizem ser uma falsificação brilhante, outros a evidência história de uma verdade do livro sagrado. A BBC recuperou a curiosa história em torno da descoberta.

Nesse ano, um prestigiado arqueólogo israelita recebeu uma misteriosa chamada de um desconhecido que se queria encontrar com ele. Durante o encontro, o homem mostrou-lhe uma tábua de pedra com uma inscrição em hebreu que pertenceria ao templo do rei Salomão, em Jerusalém, descrito na Bíblia.

O Templo de Salomão terá sido construído no século X a.C e simbolizava a residência pessoal de Deus — “a casa do Senhor” –, guardando a famosa Arca da Aliança, o cofre sagrado com os 10 Mandamentos. O templo foi destruído, num incêndio, pelo exército do rei Nabucodonosor, da Babilónia, pelo que o rei Joás de Judá angariou fundos para o reconstruir o templo. Por isso na tábua lê-se: “Reparei a construção e fiz reparos no templo e nos muros que o rodeiam“.

Meses depois, a pedra foi levada para o Serviço Geológico de Israel para ser autenticada. Os geólogos observaram a patine da pedra — um composto químico que se forma na sua superfície e que resulta da interação dos minerais com os químicos presentes no ar, água e terra — e concluíram que era bastante antiga, com cerca de 2.300 anos. Além disso, a sua composição química coincidia com a da região de Jerusalém e apresentava, ainda, grãos de ouro que indicava que podia ter estado num templo banhado em ouro.

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Em 2003 o Serviço Geológico declarou que a pedra era genuína e ofereceu-a ao Museu de Israel que quis descobrir a sua origem. Afinal de quem e de onde veio a tábua de pedra do rei Salomão?

Oded Golan e uma falsificação brilhante

Mas a tábua desapareceu misteriosamente, assim como a pessoa que a tinha descoberto, e a Autoridade das Antiguidades de Israel exigiu respostas. Após nove meses de investigação, as autoridades chegaram a Oded Golan, dono de uma das maiores coleções particulares de antiguidades de Israel, inclusive do ossário de Tiago.

O vínculo de Golan a tantos artefactos extraordinários despertou suspeitas, levando as autoridades a fazer buscas no seu apartamento e nos depósitos onde guardava os artefactos. Encontraram a tábua do rei Salomão e o ossário e confiscaram-nos.

Um grupo de linguistas e científicos analisou-a e as opiniões dividiram-se. Vários especialistas concluíram tratar-se de uma falsificação detetando anacronismos na inscrição, outros defenderam não se conhecer suficientemente bem o hebreu antigo para certezas.

Mais tarde o diretor do Instituto Arqueológico da Universidade de Tel Aviv, Yuval Goren, garantiu que uma equipa de sofisticados falsificadores tinha enganado os especialistas. Descobriu-se que a patine era diferente na parte da frente e detrás da pedra, com partículas de carbono e grãos de ouro acrescentados à mão. Foram ainda encontrados minúsculos fósseis marinhos na pedra que indicam que a patine se tinha formado no fundo do mar. Acontece que o Templo de Salomão (cujas ruínas são o atual muro das Lamentações) não ficava perto do mar.

Já o ossário foi considerado verdadeiro mas com a inscrição falsa: a primeira parte da frase “Tiago, Filho de José” é muito mais antiga do que a segunda parte “Irmão de Jesus”, que se julga ser bastante recente.

Em dezembro de 2014, Oded Golan foi preso e acusado de falsificação de artefactos. O julgamento durou até 2012 e terminou com a absolvição de Golan, sendo-lhe devolvidos todos os artefactos confiscados. Apesar do veredito, muitos acreditam que colecionadores do mundo inteiro pagaram milhares por artefactos falsos de Oded Golan.