Quem nunca? Primeiro, e visitando os circulares (quase labirínticos) e claustrofóbicos expositores das lojas IKEA, tudo ou quase tudo nos encanta a vista – e, nalguns casos, a carteira. O que aquela estante Billy, a cama Malm, a secretária Hemnes ou o móvel Bestå ficavam bem lá por casa, oh se ficavam. Pois. A seguir, e chegados ao piso térreo que é o do armazém, o mobiliário encolheu e cabe agora em meia dúzia de caixas e caixinhas. Isto não há-de ser nada complicado de montar, vou lá agora pagar uma batelada de dinheiro para me montarem isso, logo eu que até sou jeitoso com bricolage e tudo. Pois é.

O pior é quando, chegados a casa, e esvaziadas as embalagens uma por uma, quase sentimos que a vida se tornou um jogo de mikado, com peças e mais peças, parafusos, maiores, mais pequenos, madeirinhas, madeironas e até os “inomináveis”: A sério, o que raio é isto? E onde é que encaixa?…

As instruções ajudam? Claro… que não. Uma folha A4, dobrada em dois, com bonecada, parece-nos os intermináveis sete volumes de “Em Busca do Tempo Perdido” de Proust. O tempo médio de montagem nunca excede a meia-hora. Ao fim de umas horas bem suadas, no limite de ir tudo pela janela fora, os seres humanos dividem-se em dois tipos: 1) os que se dão por vencidos e ligam ao IKEA para enviar um “montador”, aceitando até empenhar a casa e o carro se preciso fosse para que ele chegue depressa; 2) aquelas que se dão por felizes sentando-se em cima da caixa de um sofá, com o sofá lá dentro — Epá, se pensar bem nisto, eu nem me sento tanto assim e o cartão nem se suja…

Allen, chave Allen. Sabe o que é, não sabe? É aquele pedaço de metal retorcido que tudo enrosca. E que cãibras dá até nos dedos de um dactilografo profissional. E rouba a paciência a uma monge budista de cada vez que lhe escapa das mãos.

Rufem os tambores, cá vai uma notícia boa: isso acabou. As montagem hercúleas (isto quando são realmente montagem e não sobram peças no final espalhadas pelo chão da sala) chegaram ao fim. Jesper Brodin, Range & Supply manager da Ikea, garantiu na conferência Design Indaba Conference, que decorreu na última semana na Cidade do Cabo, que a marca sueca está a testar em duas das suas linhas, a Regissör e a Stockholm, um sistema inovador de montagem de móveis que dispensa tudo: chaves, parafusos, cola, o que for. Tudo funcionará através de saliências que encaixam (com segurança, promete Brodin) umas nas outras.

Tempo médio de montagem? Três minutinhos.

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