Assunção Cristas garante que o partido a aceitou “completamente” e que, depois da saída de Paulo Portas, o sentimento geral foi de conclusão de “um ciclo”. Na segunda parte da entrevista ao Público, publicada esta terça-feira, a líder do CDS-PP falou ainda sobre as diferenças entre a sua liderança e a de Portas e sobre a forma como o primeiro-ministro, António Costa, a trata no Parlamento. Sobre o livro de Cavaco Silva disse apenas: “Não está no topo das minhas prioridades”.

Apesar de “as pessoas” estarem “muito gratas a Paulo Portas por tudo o que tinha dado ao CDS e ao país durante tantos anos”, Cristas explicou que, na altura da saída do antigo líder do CDS-PP, estas “não estavam propriamente chorosas”. “Não era esse o sentimento do partido na altura. Era: concluiu um ciclo, respeitamos, aceitamos e vamos para a frente”, garantiu. Questionada sobre a diferença entre o CDS de Assunção Cristas e o CDS de Paulo Portas, a líder partidária afirmou que “o que temos tentado fazer é trabalhar intensamente os temas”. Algo que, de acordo com Cristas, talvez não tenha acontecido tanto no tempo do seu antecessor.

“Não sei se fazia assim tanto. Não tanto. Teve momentos”, afirmou ao Público, acrescentando que “pensando num ano de trabalho deve ser difícil encontrar anos tão produtivos quanto este”.

Admitindo que dificilmente chegará a um acordo com António Costa, “que é quem está colado às esquerdas e a fazer uma política que, na nossa visão, está errada e não é positiva para o país, num cenário de coligação, Assunção Cristas também colocou de lado a hipótese de negociar medidas políticas com o Governo, “por duas razões” — o posicionamento à esquerda do executivo de Costa e o facto de o PS ter fechado “sistematicamente” a “porta a qualquer tipo de abertura das nossas medidas”.

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Sobre a forma como o primeiro-ministro lhe dirige no Parlamento, Assunção Cristas lembrou “um episódio” em que perguntou a António Costa “como é que o PS se posicionaria em relação” à proposta do CDS-PP em relação à natalidade e família. “E ele respondeu-me que não estava ali como secretário-geral do PS, mas como primeiro-ministro e que se quisesse conversar como secretário-geral do PS me convidava para um almoço para comermos um peixe”, contou Cristas, acrescentando: “Não sei se ele teria tido esta resposta para com um líder partidário homem”.

Questionada sobre Marcelo Rebelo de Sousa, Cristas admitiu que, quer se goste ou não da postura do Presidente da República, a verdade é que tem feito aquilo que prometeu — promover a estabilidade governativa. Em relação ao livro de Cavaco Silva, a líder do CDS disse que o tempo ainda “é curto” para perceber o seu impacto, mas que entende a “urgência pessoal” do ex-Presidente em explicar o seu mandato. Admitindo ainda não o ter lido, Assunção Cristas salientou que, neste momento, “não está no topo das suas prioridades”.

“O meu tempo livro é muito limitado e eu tenho vários livros de literatura que estão à espera de tempo. portanto, o que lhe posso dizer é que não está no topo das minhas prioridades, embora tenha ido ao lançamento e visto aquilo que veio na comunicação social.”

Autárquicas: “Para mim, é claro que não havia vontade”

Questionada sobre a candidatura à Câmara Municipal de Lisboa e sobre o acordo falhado com o PSD, Assunção Cristas afirmou que o partido de Pedro Passos Coelho sempre deixou claro que queria avançar com um candidato próprio. “Tenho alguma pena que se tenha perdido a oportunidade de ter uma candidatura forte e unida que pudesse, com mais facilidade, tirar a câmara ao PS”, afirmou, frisando que “cada um fez o seu caminho”.

Sobre os motivos que levaram o PSD a não fechar um acordo com o CDS, Cristas admitiu que, para si, “as questões nunca foram particularmente claras”. “Para mim, é claro que não havia vontade”, disse, revelando que “em final de agosto, quando falei com o Dr. Pedro Passos Coelho sobre a questão das autárquicas” o “quadro de cenário político era muito diferente”. Apesar de, já na altura, a líder do CDS-PP considerar que as autárquicas seriam o primeiro desafio para os dois partidos, Passos Coelho parecia ter uma visão diferente.

“Ele entendia que podia haver risco de eleições legislativas antes das eleições autárquicas. Ele até, enfim, me felicitou pela coragem de avançar para Lisboa, mas via aqui algum risco — de como é que faria, se houvesse eleições legislativas antes das eleições autárquicas. Mas isso, para mim, era uma questão perfeitamente arrumada na minha cabeça — achava que não ia haver”, disse ao Público.

Salientando que a agenda social em Lisboa tem sido posta “em segundo plano”, Assunção Cristas disse que é preciso olhar para os problemas sociais e tornar a cidade num lugar que “respeite e acolha os seus habitantes, sejam permanentes ou ocasionais”. “Temos a população mais envelhecida em cidades europeias, muitas pessoas idosas e isoladas, temos bairros sociais degradados que não sofreram qualquer intervenção, temos escolas em situação dramática. Temos transportes públicos caóticos, um trânsito péssimo, um estacionamento que não funciona”, afirmou.

Admitindo que, caso seja eleita, não tentará reverter a municipalização da Carris, Cristas disse que o importante é “garantir que funciona de forma articulada”. Sobre o turismo em Lisboa, “muito positivo para a cidade”, a líder do CDS-PP admitiu que devia haver “mais pontos de interesse para os turistas” e que “os habitantes não sintam isto como uma ameaça à sua atividade diária, mas como uma oportunidade para os seus negócios e para a reabilitação de Lisboa, porque a cidade estava muito morta”.

Sobre a lei das rendas, pela qual foi responsável, Assunção Cristas explicou que esta “foi feita com um cuidado muito grande em relação às pessoas idosas e às pessoas de maior carência, com objetivo muito claro de favorecer a reabilitação urbana” e que é a Câmara Municipal quem deve fazer mais por melhorar as condições de arrendamento em Lisboa. “O que creio que faz falta é ter programas de habitação para a classe média”, uma questão onde a autarquia tem falhado, frisou.

“Temos bairros sociais onde vivem 20% dos lisboetas. Temos habitação de luxo, que vai aparecendo, mas temos uma classe média que (fruto do turismo) não consegue aceder à habitação em Lisboa. Agora há propostas de renda acessível, mas estão aquém daquilo que pode ser uma dinâmica nessa área.”