Já percebemos e não há dúvidas: sempre que se falar de futebol e de missões impossíveis, vem logo o Barcelona ao barulho. Foi um milagre, sim, mas com tudo o que a palavra significa: facto sobrenatural oposto às leis da Natureza; portento, maravilha, prodígio (Priberam). Ou seja, não acontece todos os dias. Muito menos quando quem tenta alcançar esse marco histórico continua a pecar por erros próprios. O FC Porto perdeu, outra vez. E Portugal já não tem qualquer equipa nas competições europeias (esta frase fica para uma reflexão posterior).

O encontro começou com a Juventus rematadora. Muito rematadora. Mas a vontade, muita, estava em claro contraste com a pontaria, pouca ou nenhuma. E os três tiros nos primeiros seis minutos (Higuain, Dybala e Dyabala) não passavam de um mero número de ilusionismo – as estatísticas têm disto. O FC Porto, provavelmente por saber que não tinha nada a perder, jogava de forma descomplexada, com boa circulação e relativa profundidade. Faltava um pouco mais de último terço porque o futebol bonito sem balizas não ganha jogos.

Ficha de jogo

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Juventus-FC Porto, 1-0

2.ª mão dos oitavos da Liga dos Campeões

Juventus Stadium, em Turim

Árbitro: Ovidiu Hategan (Roménia)

Juventus: Buffon; Dani Alves, Benatia (Barzagli, 60′), Bonucci, Alex Sandro; Marchisio, Khedira; Cuadrado (Pjaca, 46′), Dybala (Rincón, 78′), Mandzukic e Higuain

Treinador: Massimilano Allegri

Suplentes não utilizados: Neto, Chiellini, Lichtsteiner e Pjanic

FC Porto: Casillas; Maxi Pereira, Felipe, Marcano, Layún; Danilo Pereira, André André, Óliver Torres (Otávio, 70′), Brahimi (Diogo Jota, 67′); André Silva (Boly, 46′) e Soares

Treinador: Nuno Espírito Santo

Suplentes não utilizados: José Sá, Rúben Neves, Herrera e Depoitre

Golo: Dybala (42′, g.p.)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Cuadrado (12′), Layún (30′) e André André (36′); cartão vermelho direto a Maxi Pereira (40′)

A capacidade de posse e a mobilidade do meio-campo conseguia, em determinados períodos, partir o jogo. Percebia-se que havia ali algo estratégico de Nuno Espírito Santo. Mas para Massimiliano, essa foi uma Allegri notícia – no seguimento de transições rápidas conduzidas por Cuadrado ou Dybala, os visitados voltaram a acercar-se (desta vez com perigo) da baliza de Casillas e Mandzukic ficou perto de inaugurar o marcador de cabeça (38′). E foi de bola parada que nasceu o lance que viria a determinar por completo a sentença dos dragões.

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Depois da expulsão de Alex Telles à meia hora na primeira mão, Maxi Pereira quis dar uma de Casillas e fez uma defesa vistosa na área a remate de Higuain, ao segundo poste, na sequência de um canto. Não houve dúvidas – cartão vermelho direto e grande penalidade (algo que a UEFA quer rever, por ser demasiado penalizador para o jogador e a equipa que comete o “delito”). Dybala, com o estilo do costume, colocou a Juventus em vantagem aos 42 minutos e decidiu o que já estava decidido, alterando por completo aquela que seria a história da etapa complementar.

Liga dos Campeões. Em 2 minutos não se ganha, em 2 minutos se perde

As substituições nas duas equipas ao intervalo (Pjaca por Cuadrado, Boly por André Silva) foram como que um cartão do Pictionary que se vira ao contrário e dá a resposta antes sequer de se começar a esboçar um desenho: a Juventus, já a pensar nos quartos-de-final, retirou de campo o único jogador que tinha cartão amarelo; o FC Porto abdicou da eliminatória e procurou equilibrar-se para sair com dignidade das competições europeias.

Ambos os conjuntos cumpriram o seu propósito, mesmo sem fazer funcionar de novo o marcador. Soares, aos 48 minutos, ainda teve a oportunidade flagrante de empatar o encontro mas atirou ao lado, isolado em frente a Buffon. Depois, foi a vez da enxurrada de ataque dos visitados, que ainda assim estiveram mais perto de marcar por Danilo (desvio imperfeito que obrigou Casillas a defender em cima da linha) do que por Pjaca ou Higuain.

Não havia muito mais a fazer. O mal já estava feito. E Portugal ficou sem representantes nas provas europeias, de novo devido a uma eliminação com muito de culpa própria. Podemos ver o histórico do FC Porto com a Juventus, que se torna cada vez pior (quatro derrotas, um empate). Mas esse foi um dos erros que levou a que Portugal, em 2018/19, tenha apenas dois representantes na Champions – dar mérito aos outros sem perceber o demérito que se tem.