“Tenho muita pena da situação que aconteceu, queria estar convosco, do fundo do coração.” Svetlana Alexievich, o nome maior do 7.º Festival Literário da Madeira (FLM), enviou uma mensagem ao público que esta quarta-feira se juntou no Teatro Municipal Baltazar Dias, onde a Nobel da Literatura deveria ter estado ontem. As condições climatéricas adversas impediram várias aterragens e Alexievich teve mesmo um voo mais conturbado, mas não parece ter-se assustado. “Até ao próximo ano”, disse.

Foi Francesco Valentini, organizador do evento, a ler a mensagem da escritora bielorrussa, que se viu obrigada a cancelar aquela que era a presença mais aguardada na Madeira. A organização quer Alexievich na edição de 2018 e essa vontade parece ser mútua. “Espero que nos possamos encontrar nessa Madeira tão bela e inacessível“, afirmou a Nobel da Literatura.

Mesmo sem a autora de O Fim do Homem Soviético, o público encheu o Teatro Municipal Baltazar Dias, para a nova sessão de abertura, após o cancelamento da sessão de terça-feira. Em palco, o jornalista Fernando Alves moderou uma conversa entre dois escritores angolanos, Pepetela e Ondjaki. “Nunca houve censura sobre livros em Angola”, disse o escritor, que venceu o Prémio Camões em 1997. “É diferente com os jornais, mas com os livros nunca houve censura.”

Livros, internet e medo em debate durante toda a semana na Madeira

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O presidente da Câmara do Funchal, no seu discurso de abertura, disse acreditar no potencial do Funchal de se transformar em destino turístico cultural. E salientou ser “testemunha do esforço” de trazer cá uma Prémio Nobel. “Não vamos desistir de qualificar ainda mais este Festival Literário da Madeira”, acrescentou, sublinhando o objetivo de trazer Alexievich na próxima edição.

Depois do balde de água fria de terça-feira, em que todas as conversas giravam em torno das sucessivas tentativas de chegar à ilha — alguns escritores e jornalistas que tinham presença marcada desde as nove da manhã só chegaram à meia-noite. “Nunca tivemos nada assim”, desabafou Francesco Valentini, responsável pela editora Nova Delphi.

Pedro Mexia, autor que estaria na conversa de sexta-feira, também cancelou a sua participação na 7.ª edição do FLM. No seu lugar estará o jornalista José Mário Silva.

Eimear McBride, Tatiana Salem Levy, Pepetela, Frederico Lourenço, Valter Hugo Mãe, Daniel Jonas, Marcelino Freire e o Prémio Pulitzer Adam Johnson são alguns dos nomes que vão estar até sábado na Madeira, a discutir o tema desta edição, “Literatura e a Web – entre o medo e a liberdade”. Quem não pode estar na Madeira tem a hipótese de assistir a algumas sessões através da transmissão em direto, no YouTube.