O ex-primeiro-ministro de Cabo Verde José Maria Neves disse esta quarta-feira que voltaria a criar o Novo Banco e que, no contexto atual, optaria pela recapitalização, não cedendo à “tentação fácil” da liquidação e à “imputação demagógica das responsabilidades”.

“Hoje, com a minha experiência e os dados disponíveis, faria o mesmo. Criaria o Novo Banco, limando, obviamente, as arestas e corrigindo alguns erros. Optaria, pois, pela recentragem do banco, pela sua recapitalização, protegendo os postos de trabalho e garantindo oportunidades de financiamento para micro e pequenas empresas e para os excluídos do sistema”, disse José Maria Neves.

Numa extensa publicação com o título “Prisma” na sua página pessoal na rede social Facebook, José Maria Neves quebra o silêncio político de quase um ano para criticar a opção do Banco Central de Cabo Verde, apoiada pelo atual executivo do Movimento para a Democracia (MpD), de resolução do Novo Banco.

O banco central cabo-verdiano (BCV) anunciou quarta-feira a resolução e venda à Caixa Económica de Cabo Verde de parte da atividade do Novo Banco, uma instituição de capitais quase exclusivamente públicos, com cerca de 13.200 depositantes e vocacionado para a economia social e o microcrédito, criada durante os governos de José Maria Neves.

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A resolução do Novo Banco é um primeiro passo para a sua extinção administrativa que representará um prejuízo estimado em cerca de 16,3 milhões de euros para os cofres do Estado e deixará cerca de 60 trabalhadores no desemprego. Fazendo um paralelo com a situação da Caixa Geral de Depósitos, o ex-primeiro-ministro lembrou os prejuízos acumulados pelo banco público português e sublinhou a união de esforços para o fazer a sua recapitalização. “Não houve a tentação fácil, nem de liquidação ou de imputação demagógica das responsabilidades a outrem”, escreveu José Maria Neves.

Passando em revista todo o processo que levou à criação do Novo Banco e posteriormente aos problemas financeiros da instituição, o ex-primeiro-ministro adiantou que ao longo do tempo foram “detetadas insuficiências e elevados custos de gestão”, que foram sendo corrigidas. “Os acionistas, nos termos legais, aprovaram, em abril de 2016, por unanimidade, a recapitalização. Desde a assunção deste novo Governo, que propõe no seu programa a criação de um banco idêntico, não houve seguimento das decisões anteriores, nem tomada de medidas alternativas, tendo decidido, agora, um ano depois, pela liquidação do Novo Banco”, assinalou Neves.

Assumindo responsabilidade, enquanto líder dos governos de então, por “tudo o que se fez, de essencial, de bom ou menos bom, a nível governativo em Cabo Verde, desde 2001 até 2016”, José Maria Neves considerou que “havendo responsabilidades, elas devem ser assacadas, sem quaisquer titubeios”.

“O país avançou muito e temos de agir diferentemente do que se fez na privatização da CV Telecom e do BCA, na liquidação da Caixa de Crédito Agrícola, na perda de 2 milhões de dólares da privatização da ENACOL ou dos 20 milhões de dólares do Tesouro aplicados nos Estados Unidos da América. E mais não digo”, adiantou, numa alusão a decisões dos executivos do Movimento para a Democracia na década de 1990.