O secretário de Estado das Comunidades considera que não há uma preocupação excecional dos portugueses em relação às eleições desta quarta-feira na Holanda, país que apresenta um crescimento de partidos de direita e do discurso anti-imigratório e antieuropeu. “Não há registo de alguma preocupação excecional”, disse à Lusa José Luís Carneiro.

Menos de um ano após os britânicos terem decidido abandonar a União Europeia (UE), a Europa segue apreensiva o ‘flirt’ dos holandeses com o Partido para a Liberdade (PVV), que as sondagens apontam como possível vencedor das eleições legislativas de 15 de março. “Naturalmente, tudo que seja sinais de desvinculação relativamente à União Europeia e ao projeto europeu, e sinais também relativos a políticas imigratórias restritivas são sempre vistos com apreensão, não apenas pelos portugueses lá (na Holanda), mas também pelos portugueses cá, em Portugal”, afirmou José Luís Carneiro.

O secretário de Estado referiu que Portugal, tendo uma das maiores diásporas dos países europeus, considera estas políticas restritivas, “que colocam em causa os valores europeus, merecem sempre a preocupação” de todos os portugueses.

Num ano considerado de alto risco para a UE devido à realização de diversas eleições nacionais em Estados-membros “de peso” – designadamente as eleições legislativas e presidenciais em França (em abril e maio) e legislativas na Alemanha (setembro) -, num contexto de subida do populismo e da extrema-direita, a Holanda é a primeira a ir às urnas e o Partido para a Liberdade de Geert Wilders, eurocético e islamofóbico, é forte candidato à vitória.

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Após ter obtido nas últimas eleições nacionais, em 2012, 10% dos votos, e de nas eleições europeias de 2014 ter alcançado 17%, o PVV, que tem entre as suas “bandeiras” eleitorais a promessa de realização de um referendo sobre a saída da Holanda da UE e o “fim da islamização” do país, surge à frente em recentes sondagens, com a possibilidade de conquistar 20% dos votos. “As informações que temos vão no sentido de que os portugueses estão bem inseridos do ponto de vista social, do ponto de vista económico e não há para já alguma preocupação a registar”, afirmou o secretário de Estado.

Segundo Carneiro, na Holanda “há uma boa ideia da capacidade de trabalho dos portugueses e também da sua boa capacidade de integração nas instituições e na vida social holandesa”. “Nós temos cerca de 18 mil portugueses inscritos nos nossos serviços consulares e também inscrições confirmadas pelas autoridades holandesas”, disse.

O secretário de Estado referiu que há cerca de 18 mil portugueses inscritos nos consulados e trata-se de uma comunidade jovem, cerca de 17% desta tem menos de 20 anos, 42,7% está entre 21 e 40 anos, 30,7% tem entre 41 e 60 anos e apenas 9,6% tem mais de 61 anos.

Do ponto de vista profissional, “a comunidade encontra-se muito ligada às atividades agrícolas, nomeadamente no trabalho em estufas, no setor agroindustrial e também da construção, são as áreas mais significativas”. “Contudo, nos últimos anos, houve também uma subida no número de quadros qualificados nos domínios da investigação, das artes, das telecomunicações e nas áreas da saúde”, disse ainda o secretário de Estado.

Num sistema político complexo como o da Holanda, onde quase todos os governos resultam de coligações, dado apresentarem-se às urnas dezenas de partidos, mesmo que Geert Wilders seja o mais votado, não é certo que consiga formar um executivo. Até porque durante a campanha todos os restantes candidatos têm garantido que não farão parte de um Governo com o PVV, que necessita de aliados para obter uma maioria.

O atual Governo holandês é constituído por uma coligação formada pelo Partido Popular para a Liberdade e a Democracia (VVD/ centro-direita) do primeiro-ministro Mark Rutte – que surge nas sondagens a disputar a vitória com o PVV -, e pelos trabalhistas do Partido do Trabalho (PvdA/centro-esquerda), mas a fragmentação de votos prevista para 15 de março faz adivinhar a necessidade uma coligação de quatro ou mesmo mais partidos.