Os portugueses vivem no lado soalheiro da Europa, preferem o tomate à batata, o azeite à manteiga, o café ao chá, o vinho à cerveja ou vodka. Oscilam entre o clássico e tradicionalista e o revolucionário e eufórico, são religiosos e não têm problemas em lidar com a homossexualidade. São vistos como preguiçosos, barulhentos, têm boa comida e adoram comer à mesa, contrariando o hábito dos habitantes no norte da Europa de despachar as refeições e comer enquanto andam de um lado para o outro. Apesar da fama de “desenrascados”, a verdade é que quando a canalização dá problemas, os portugueses precisam (mesmo) de chamar um especialista. E quanto tempo trabalham num ano inteiro? 21 dias, os mesmos que o resto da Europa gasta… a viver. Talvez por isso muitos os coloquem, ainda que estranhamente, no lado europeu dos países ricos.

Este retrato é uma tentativa bem humorada, mais uma, de ilustrar a Europa pelos seus preconceitos, assinada por Yanko Tsvetkov, um designer búlgaro que se dedicou a criar mapas satíricos das nações. O ‘Atlas do Preconceito’ (Atlas of Prejudice) é um projeto que reúne vários mapas de regiões do planeta (da Europa à América Latina) e que revelam, de forma divertida e até crítica, a forma como certos povos ou países são vistas pelo resto do mundo. Ainda recentemente os seus mapas sobre o mundo na perspetiva de Trump ou de Putin tornaram-se virais.

O mundo de acordo com Trump e outros 14 mapas dos preconceitos no mundo

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A Europa, contudo, é a região a que Tsvetkov dedica maior atenção, dedicando-lhe vários mapas e critérios. Na fotogaleria que pode consultar neste artigo encontra os 20 mapas em que o designer divide o continente europeu – e os seus preconceitos -, avaliando indicadores como religião, trabalho, gastronomia, sexualidade ou mesmo nível de desenrascanço, nos quais a falta de rigor científico é compensada pela sátira que imprime às suas ilustrações.

A obsessão de Yanko Tsvetkov por mapas nasceu no período em que cresceu na Bulgária e os atlas eram dos poucos livros coloridos a que tinha acesso. Isso inspirava-o a recriar e desenhar mundos imaginários, mas ainda passaram algumas décadas até que o projeto tomasse forma. O momento-chave deu-se num acaso, em 2009, quando o conflito entre Rússia e Ucrânia levou Vladimir Putin a cortar o fornecimento de gás natural à Bulgária a meio de um inverno rigoroso.

Preocupados, os amigos de Tsvetkov que viviam fora do país mandavam-lhe e-mails e, em resposta, o designer enviava-lhes ilustrações para explicar tudo o que se passava – “com detalhes”, outra das suas obsessões. “Como a análise política raramente é divertida, decidi fazer estes mapas satíricos”, explicou mais tarde numa entrevista à revista Fast Company. “Decidi colocar uma pitada de humor em tudo isto de forma a que nos possamos rir.”

https://twitter.com/quasimordor/status/835536414498508802

Daí à criação de um livro – com 12 edições e já traduzido em sete línguas – foi um salto. E, no site, Yanko Tsvetkov vai atualizando os atlas com novas análises e formas de ver o mundo. São pequenas coleções de mapas, muito focados nos preconceitos nacionais, uma vez que o designer – que se assume como “um explorador de detalhes” – também se interessa com a forma como a nova era digital está a mudar as atitudes das comunidades.

O foco nos preconceitos para desenhar os mapas, embora não tenha pretensões científicas, é para o autor uma forma diferente de ver o mundo: ao destacar estereótipos óbvios, isso ajuda as pessoas a dar conta dos seus próprios preconceitos, justificou. “Numa sociedade global interligada, onde a informação circula mais rapidamente que os pensamentos, os preconceitos podem ser um efeito colateral da preguiça intelectual”, alerta Tsvetkov.