“Podem esperar uma chuva de ruína vinda do ar nunca antes vista nesta terra”. Foi assim que Harry Truman, presidente dos Estados Unidos, ameaçou o Japão nos meses finais da Segunda Guerra Mundial caso não se rendesse, depois de largar a primeira bomba atómica da história sobre a cidade japonesa de Hiroshima. Mais de 70 anos depois, um físico nuclear decidiu publicar no YouTube dezenas de vídeos de testes nucleares norte-americanos para mostrar a força destas bombas e dissuadir quem pensar em as utilizar.

A 6 de Agosto de 1945, o bombardeiro da Boeing Enola Gay operado pelas forças armadas dos Estados Unidos deixou cair sobre a cidade japonesa de Hiroshima a primeira bomba atómica, o Little Boy. Pouco depois, Harry Truman, então presidente dos Estados Unidos, anunciou ao mundo o bombardeamento a partir do USS Augusta, que se encontrava a meio do Atlântico a fazer a viagem de regresso dos Estados Unidos depois de participar na Conferência de Potsdam, onde juntamente Josef Estaline, líder da União Soviética, e Winston Churchill, que viria a deixar de ser primeiro-ministro britânico, discutiram a gestão da Alemanha no pós-nazismo.

Num momento histórico, Harry Truman anunciou o bombardeamento e ameaçou o Japão com uma “chuva de ruína” caso não se rendesse. Três dias depois, foi a vez de Nagasaki ser bombardeada com o Fat Man, uma bomba atómica à base de plutónio. A devastação e o poder militar dos EUA vergaram o Japão, que acabou por se render. Nestes ataques, terão morrido entre 130 mil e 230 mil pessoas, para além das consequências durante para gerações durante décadas.

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Agora, com o espetro de uma ameaça nuclear vinda da Coreia do Norte, com um Presidente nos EUA que já abriu a porta a que outros países, como o Japão, possam construir arsenais nucleares, com o conflito com a Rússia a escalar e com um tremido acordo nuclear com o Irão, um físico nuclear norte-americano decidiu publicar no Youtube imagens de dezenas de testes nucleares realizados pelos Estados Unidos nas duas décadas que se seguiram a estes ataques.

A ideia de Greg Spriggs é precisamente dissuadir os líderes mundiais de voltarem a usar este tipo de armas. “É inacreditável quanta energia é libertada. (…) Esperemos que nunca mais tenhamos de usar uma arma nuclear. Penso que se capturarmos esta história e mostrarmos a força que estas armas tem e quanta devastação podem criar, então talvez as pessoas tenham uma maior relutância em usá-las”, disse o físico, citado pela Lawrence Livermore National Laboratory, laboratório para o qual trabalha e que apoiou este projeto.

Para que isto acontecesse, o físico nuclear, juntamente com uma equipa que entretanto foi criada, passou cinco anos à procura das gravações destes testes. A composição do filme e o formato em que foi filmado levou a grandes trabalhos. Dos cerca de 10 mil filmes que existirão dos testes 210 testes nucleares realizados entre 1945 e 1962, a equipa de Greg Spriggs terá encontrado cerca de 6500. Destes 4200 terão sido digitalizados, 400 a 500 foram reanalisados e cerca de 750 foram desclassificados. A decisão de os digitalizar deveu-se ao estado das películas. Como estas são compostas de material orgânico, já estariam a decompor-se.

Os vídeos foram entretanto publicados no Youtube. Para arquivo histórico e como dissuasor para todos os que pensem na utilização de armas nucleares. Nestes vídeos é possível ver a explosão de várias bombas nucleares.