É a resposta direta do ex-primeiro-ministro ao ex-Presidente da República. Em entrevista à Rádio Renascença, Pedro Santana Lopes garante que vai escrever um livro a “contar tudo” sobre o que levou à dissolução do Parlamento em 2004, já que tem uma versão diferente da revelada por Jorge Sampaio no segundo volume da sua biografia: para Santana, a decisão do Presidente não teve a ver com nenhuma leitura do sentimento do povo, mas resultou sim de pressão feita por empresários e pelo setor da banca. Houve uma “conspiração da corte em Lisboa”, diz Santana, que passava também por abrir caminho à eleição de Cavaco Silva no mandato presidencial que se seguiria.

Depois de Jorge Sampaio, na biografia assinada pelo jornalista José Pedro Castanheira, ter confessado que se “fartou de Santana como primeiro-ministro” por estar “a deixar o país à deriva”, Santana Lopes rejeitou essa ideia. “O povo não estava nas ruas, não havia protestos, não havia rutura social. Isto foi uma conspiração da corte em Lisboa. Porque já sabiam que eu não aceitava ordens nem sou comprável!”, diz agora Santana em entrevista à Renascença.

E explica: “Jorge Sampaio tomou essa decisão [de dissolver a Assembleia] na noite da COTEC [Associação Empresarial para a Inovação, com o alto patrocínio da Presidência da República], grupo empresarial que se reúne de quando em vez. E foi dito e redito por pressão de alguns empresários e banqueiros. Se havia uma coisa que o Governo fazia nessa altura era “cair em cima” da banca. Tenho muito respeito pelo setor financeiro, por todo o trabalho que realizam, mas sempre tive a ideia de que é o poder político que manda no económico e não o contrário. Uma semana antes, recebi os banqueiros todos em São Bento, com o ministro das Finanças, quando foram protestar contra as decisões do meu Governo de aumentar os impostos sobre a banca e de exigir mais elementos na contabilidade da banca para prestação de contas”.

Por isso, para Santana, a versão de Jorge Sampaio daquela história são “factos alternativos”. “Dizer que o país estava à deriva é tentar aproveitar o desconhecimento que o tempo gera nas pessoas. Muita gente hoje em dia sabe lá o que se passou em 2004 ou 2005! Nomeadamente gente que tem 30 anos…”, diz o atual provedor da Santa Casa da Misericórdia, acusando então Jorge Sampaio de ter sido pressionado pelos setores empresariais e da banca.

Santana aproveita ainda para avançar que vai publicar um livro com a sua versão dos factos. “Vai sair dentro de pouco tempo. Não vou demorar muito tempo a fazê-lo porque eu tenho tudo na ponta da língua. Eu sei tudo”, diz, acrescentando que tem “documentos, alguns nunca publicados, com os quais vou comprovar aquilo porque as verdades factuais não são duas, é só uma”.

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