A Ouishare, organização francesa que trabalha na promoção da economia colaborativa, chega a Portugal para a Ouishare Summit, um evento que vai juntar, de 16 a 19 de março, pessoas de todo o mundo. Objetivo: debaterem o consumo colaborativo e as mudanças que estão a acontecer nas grandes empresas e tecnológicas mundiais. A conferência, que é fechada aos membros da comunidade, vai arrancar com o Ouishare Fest Warm-Up Event, um evento aberto a todos os interessados em debater a resiliência nas organizações, na quinta-feira, na Fábrica de Startups.

Lisboa é hoje uma cidade que atrai pessoas de todo o mundo e toda a gente tem curiosidade em perceber o que está a acontecer por cá. E porque não trazer a Ouishare a Lisboa, reunir cerca de 70 pessoas de todo o mundo para falarem de economia colaborativa, organizações resilientes e descentralizadas”, refere Inês Santos Silva, organizadora local do evento, ao Observador.

O conceito de economia colaborativa surgiu há alguns anos com o aparecimento de plataformas como o Airbnb ou a Uber, baseadas na partilha de bens e serviços, e que têm provocado alterações na organização das próprias cidades. O evento contará com a presença de um conjunto de pessoas que têm vindo a trabalhar na construção de organizações resilientes, quer públicas, quer privadas, com o objetivo de partilhar as experiências que têm sido feitas nas suas cidades.

“Vamos falar das cidades, de como se criam cidades mais resilientes”, refere Inês Santos Silva, dando como exemplo os fab labs (laboratórios de fabricação) onde os cidadãos podem reparar ou construir novos produtos, dando-lhes autonomia para poderem responder às suas próprias necessidades.

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São esperadas cerca de 50 pessoas para o evento aberto ao público. “Queremos mostrar aos portugueses que podem fazer parte da organização e que podem aprender muito com o trabalho que a Ouishare tem feito, quer na parte da economia colaborativa, mas também ao nível das novas organizações e das cidades, de como se posicionam no século XXI”, considera.

Para a organizadora, a transformação das cidades tem passado pela criação de “novas estruturas organizacionais, e pelo employee engagement e empowerment (envolvimento e compromisso dos colaboradores)”, dando mais autonomia e responsabilidade aos colaboradores das empresas.

A economia colaborativa tem uma questão que é muito importante: a segurança dos trabalhadores. Será provavelmente o grande desafio da economia colaborativa, que é como é que as pessoas, estando a trabalhar como freelancers, conseguem manter um nível de segurança e estabilidade no seu trabalho que lhes permita ter uma boa qualidade de vida”, destaca a responsável pela organização da Ouishare Summit em Lisboa.

A dias de ser discutida no Parlamento a proposta de lei do Governo que cria regulamentação para a atividade de empresas como a Uber e a Cabify, Inês Santos Silva considera que, em Portugal, até agora, a legislação tem sido bastante “permissiva” a plataformas de economia colaborativa.

As cidades estão a ajustar-se. Berlim tem tido um papel muito interventivo, não em proibir, mas a limitar o Airbnb, por exemplo, para não se perderem as características das cidades e para as rendas não aumentarem demasiado, garantindo que os habitantes podem continuar a viver nos centros da cidade. Já Espanha tem sido muito mais agressiva na proibição de soluções que trabalham na área da economia colaborativa”, explica.

A Ouishare foi fundada em 2012 por Antonin Leonard (que estará presente no evento), e conta com cerca 6 mil membros em todo o mundo que trabalham na promoção da economia colaborativa. Em Portugal são cerca de 20.

Para Inês Santos Silva, a economia colaborativa tem ainda “muito espaço para crescer”. “Em Portugal não encontramos muitas startups a trabalhar nestas áreas. França é um bom exemplo, Estados Unidos também, mas acho que há muito espaço para desenvolver tendo em conta este desafio que é a estabilidade e a segurança dos que trabalham na economia colaborativa”, remata.