O preço para comprar uma nota de dólar norte-americano nas ruas de Luanda voltou a descer, ligeiramente, na última semana, para novos mínimos do ano, perto dos 360 kwanzas (dois euros).

Esta descida, quase cinco por cento face à semana anterior, foi constatada pela Lusaesta quinta-feira, na habitual ronda semanal pelas ruas de Luanda, e confirma a tendência de quebra da cotação de moeda estrangeira no mercado informal desde os primeiros dias do ano.

Este novo mínimo contrasta com o pico de 500 kwanzas (2,85 euros) por cada dólar dos primeiros dias de janeiro, nas ruas de Luanda.

Por outro lado, persistem limitações no acesso a divisas nos bancos, mesmo nas contas em moeda estrangeira, o que torna o mercado de rua, para muitos nacionais e estrangeiros, a única forma de aceder a dólares ou euros em Angola.

Os empresários que necessitam de importar matéria-prima estão agora obrigados a dirigir uma carta ao Ministério da Indústria para solicitarem divisas nos bancos, enquanto os não residentes cambiais já não podem levantar moeda estrangeira nas próprias contas, por determinação do banco central.

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Na ronda feita esta quinta-feira pela Lusa, as ‘kinguilas’ de Luanda, como são conhecidas as mulheres que se dedicam à compra e venda de divisas, atividade ilegal, continuam a justificar a quebra com a falta de kwanzas suficientes para realizar as trocas, o que acaba por valorizar a moeda nacional.

A venda de cada dólar está esta quinta-feira fixa nos 370 kwanzas no bairro do São Paulo e nos 365 kwanzas no bairro dos Mártires de Kifangondo. Na Mutamba, a nota de dólar norte-americano é transacionada a 380 kwanzas, o mesmo preço do praticado pelas ‘kinguilas’ do Maculusso.

Angola vive desde finais de 2014 uma profunda crise financeira e económica decorrente da quebra para metade nas receitas com a exportação de petróleo, tendo desvalorizado o kwanza, face ao dólar, em 23,4% em 2015 e mais 18,4% ainda no primeiro semestre de 2016.

A taxa de câmbio oficial cifra-se atualmente em cerca de 166 kwanzas (95 cêntimos de euro) por cada dólar, quando antes do início da crise das receitas do petróleo, ainda em 2014, era de 100 kwanzas.

Face à falta de dólares nos bancos, as taxas de rua já estiveram próximas dos 600 kwanzas por cada dólar em agosto e julho, depois de máximos de 630 kwanzas em junho.

A Lusa noticiou este mês que Angola tinha em circulação, em janeiro, notas e moedas no valor de 447.718 milhões de kwanzas (2.500 milhões de euros), uma quebra de 10% no espaço de um mês que também justifica a valorização da moeda nacional no mercado paralelo.

De acordo com dados do Banco Nacional de Angola (BNA) a que a Lusa teve acesso, sobre a Base Monetária Ampla do país, entre dezembro e janeiro deixaram de estar em circulação (física) no país 48.661 milhões de kwanzas (mais de 275 milhões de euros).

O banco central angolano garantiu em dezembro que não prevê qualquer nova desvalorização do kwanza, face à “tendência de estabilidade” dos preços, e já no final de janeiro vendeu aos bancos o valor máximo de divisas desde praticamente o início da crise, em 2014: mais de 600 milhões de euros no espaço de uma semana.

Essas vendas de divisas têm vindo no entanto a descer progressivamente, para menos de 200 milhões de euros por semana já em fevereiro.

“Tendo em conta a tendência de estabilidade do nível geral dos preços e consequentemente a desaceleração da taxa de inflação mensal, o BNA reafirma o seu engajamento na preservação do valor da moeda nacional, razão pela qual não haverá desvalorização do kwanza”, lê-se no mesmo documento do banco central angolano, de dezembro.