“O Fundador”

Um curiosíssimo filme sobre a génese do império global de “fast food” que dá pelo nome de McDonald’s, os dois pioneiros que nos anos 50 criaram o modelo de restaurante e de negócio que está na sua base, os irmãos Dick e Mack McDonald, e o homem que primeiro foi sócio deles para a sua expansão, e depois despojou-os da marca e dos direitos de propriedade intelectual, afastou-os do mercado da “fast food” e levou os hambúrgueres a todos os EUA, e ao planeta inteiro, Ray Kroc. O realizador John Lee Hancock e o argumentista Robert Siegel contam a história tal e qual como ela se passou, pondo em cena duas ideias de negócio e duas visões do capitalismo opostas. Uma de proximidade, controlada, prudente, com ambições limitadas e pondo a qualidade e o respeito pelo cliente acima de tudo, a outra de vistas rasgadas, agressiva, optando pela massificação e a estandardização e ávida de lucros milionários.

Isto sem negarem algum mérito ao incansável fura-vidas Kroc, apesar de ficar sobejamente exposta a sua desonestidade e falta de lealdade e de ética, e a simpatia do filme estar com os McDonald. John Carroll Lynch e Nick Offerman interpretam os empreendedores e patuscos McDonald, e Michael Keaton no papel do persistente e nevrótico Kroc, é a força motriz em moto contínuo do filme, cujo título é deliberadamente tão enganador como irónico, e que tem uma irresistível componente de “americana”, ligada à década em que se passa quase toda a acção.

“Aquarius”

Em 2013, o crítico de cinema brasileiro Kleber Mendonça Filho estreou-se na realização de longas-metragens com “O Som ao Redor”, passado no seu Recife natal. É um filme subtil, elíptico, de observação, todo em meias-tintas e subentendidos, sobre o sentimento de insegurança de uma classe média que se sente cercada e ameaçada nos seus bairros, condomínios e apartamentos, e onde se divisa ainda a presença ancestral de um Brasil do interior, da violência e de grandes desigualdades sociais, onde os ódios passavam de geração em geração. “Aquarius”, o segundo filme do cineasta, também ambientado no Recife, e que passou em competição em Cannes, onde Kleber e os actores protagonizaram um muito mediatizado protesto contra a destituição da presidente Dilma Rousseff, que decorria nessa altura, não está à altura de “O Som em Redor”.

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Sónia Braga é Clara, uma jornalista reformada, sexagenária e sobrevivente de um cancro, que vive no edifício à beira-mar que dá o nome ao filme. Ela é a última inquilina do prédio, ao qual está ligada por fortes e fundos laços afectivos e familiares, recusando as ofertas da imobiliária que o quer comprar e demolir para construir um novo. Em “Aquarius”, tudo é evidente, esquemático, fácil e demonstrativo, da caracterização das personagens às situações do enredo, passando pelos odiosos de serviço e pela utilização da música como correlativo dos estados de espírito de Clara. Esperemos pelo terceiro filme de Kleber Mendonça Filho para desempatar.

“A Bela e o Monstro”

A lista de longas-metragens animadas clássicas da Walt Disney transpostas para filmes de imagem real com actores de carne e osso continua a aumentar. É agora a vez de “A Bela e o Monstro”, adaptação do filme animado de 1991 realizado por Gary Trousdale e Kirk Wise, que foi o primeiro deste estúdio a utilizar tecnologia digital (para a composição dos cenários), combinada com animação tradicional. Chamado à realização, Bill Condon manteve a banda sonora do original, da autoria de Alan Menken e do falecido Howard Ashman, acrescentando-lhe algum material novo, composto por Menken e Tim Rice. O filme tem Dan Stevens (“Downton Abbey”) no papel do Monstro e Emma Watson no de Bela, e faz abundante uso dos efeitos especiais digitais, nomeadamente para os ambientes e para os objectos animados do castelo do Monstro. “A Bela e o Monstro” foi escolhido como filme da semana pelo Observador, e pode ler a crítica aqui.