O álbum que inclui duas novas peças do compositor António Pinho Vargas, “Magnificat” e “De Profundis”, já estreadas em palco, chega esta sexta-feira ao mercado discográfico nacional, pela Warner Music. O “Magnificat”, ao qual o compositor acrescentou dois andamentos, um a abrir e outro a fechar, foi gravado em 2013, pela Antena 2, no grande auditório da Culturgest, em Lisboa; “De Profundis” foi gravado em ambiente, sem público, por José Fortes, no auditório da Escola Superior de Música de Lisboa (ESML), em junho último, pelo Coro Gulbenkian, dirigido por Paulo Lourenço.

O salmo “De Profundis”, a primeira obra de Pinho Vargas para “coro a capella”, foi composta a pedido e dedicada ao seu amigo Paulo Lourenço, maestro do Coro Gulbenkian. O “Magnificat” também foi gravado pelo Coro Gulbenkian e pela Orquestra Metropolitana de Lisboa, sob a direção do maestro Cesário Costa.

Referindo-se ao “Magnificat”, composto por encomenda da Culturgest e estreado nesta sala lisboeta, o compositor disse à agência Lusa: “Está na peça tudo o que corresponde ao texto bíblico, mas há uma diferença, que não é no próprio Magnificat, é um antes e um depois, um acrescento meu. Compus um ‘Introitus’, que é uma pequena parte de um minuto, instrumental, e um ‘Exodus’, no final, que é a repetição e que transporta para outra tonalidade dessa passagem, mas que termina com a repetição e com a palavra ‘Gloria'”.

“O meu tratamento do texto [bíblico] conduziu-me – e não é irrelevante o facto de ter sido composto em 2013 e estreado em outubro desse ano – e anteriormente tinha composto um Requiem [estreado em novembro de 2012] correspondendo aos anos duros da crise”.

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O contexto que se vivia no país levou o compositor a não querer terminar o Magnificat “em glória”, não deixando de ter em conta o texto de São Lucas, e daí ter acrescentado outro andamento, “Exodus”, e “o caráter que está patente no fim da peça é uma ‘Gloria’ a descer do céu e a entrar na Terra, no mundo”, como referiu André Teodósio que encenou a sua ópera “Outro Fim”, do compositor. Uma intenção que foi “deliberada”, disse o compositor à Lusa, segundo o qual o último andamento, “Gloria”, não é propriamente uma “Gloria” e “traz consigo uma interrogação poderosa da música”.

“O ‘Magnificat’ tem um caráter celebrativo” realçou o compositor, referindo que, “a partir de certa altura, do ‘Fecit potentiam’, a meio da peça, sensivelmente, em que o texto sagrado muda de caráter, vai tornando-se uma narrativa daquilo que Deus pode fazer, castigar os que abusam do poder, proteger os pobres”.

O andamento “Fecit potentiam”, realçou o compositor, “é crucial” e definiu-o como “eixo de simetria da peça”.

Magnificat é um texto que faz parte do Evangelho segundo S. Lucas e relata a visita de Maria a sua prima Isabel, que está grávida, tendo já Maria recebido o anúncio do anjo Gabriel, segundo a narrativa bíblica. Quanto ao De Profundis, também um texto bíblico, trata-se de um salmo, em relação ao qual o compositor se referiu como “um texto introspetivo”, tendo optado por “não o tratar como uma única música”, fazendo “peças contrastantes entre si, que passam de uma atmosfera para outra atmosfera, nomeadamente a mudança de ritmo”.

António Pinho Vargas destacou-se na década de 1970 como músico e compositor de jazz. Depois da sua estada nos Países Baixos, entre 1987 e 1990, dedicou-se à criação musical contemporânea erudita, sendo paralelamente professor na ESML e investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Compôs a ópera “Os Dias Levantados”, encomenda da Expo98 para o Festival dos Cem Dias, tendo anteriormente composto “Monodia – Quase um Requiem” (1993), para quarteto de cordas, “Noturno/Diurno” e “Três Quadros para Almada” (1994), “Nove Canções de António Ramos Rosa” (1995), “Édipo – Tragédia de Saber” (1996), e “Acting-Out”, para piano percussão e orquestra, em 1998.

No total, Pinho Vargas compôs quatro óperas, três oratórias, 12 peças para orquestra, oito obras para ensemble, 20 obras de câmara, nove para solistas e música para cinco filmes.