Durante a semana, mais concretamente na quarta-feira, Júlio Mendes, presidente do V. Guimarães, aproveitou uma passagem por Lisboa e foi visitar as instalações do Benfica no Seixal. Nesse mesmo dia, e como havia jogo da equipa B encarnada contra o Portimonense para a Segunda Liga, deixou-se ficar e viu o encontro ao lado de Rui Vitória, o técnico que foi buscar ao P. Ferreira e que lhe deu o grande título do reinado na presidência: a Taça de Portugal de 2013… frente ao Benfica de Jorge Jesus. O atual técnico das águias é assim: costuma manter um bom relacionamento com os clubes por onde passa. Fora de campo e lá dentro, também: em oito jogos contra castores e vimaranenses, ganhou sempre. Até este sábado, que era quando mais precisava e que não passou do nulo na Capital do Móvel. E, de forma surpreendente, o líder da Primeira Liga pode perder essa condição amanhã, caso o FC Porto vença o V. Setúbal, e em vésperas de clássico.

Mas vamos ao jogo, que é o que mais interessa agora. A primeira parte do encontro pareceu um daqueles treinos onde alguns coitados têm de acartar com uma baliza móvel para colocar na linha do meio-campo. Que nem era necessário – Ederson foi um mero espetador durante os 45 minutos iniciais.

Ficha de jogo

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P. Ferreira-Benfica, 0-0

26.ª jornada da Primeira Liga

Estádio Capital do Móvel, em Paços de Ferreira

Árbitro: João Pinheiro (Braga)

P. Ferreira: Rafael Defendi; Bruno Santos, Marco Baixinho, Gegê, Filipe Ferreira; Filipe Melo, Vasco Rocha, Pedrinho (Andrezinho, 83’); Ivo Rodrigues (Ricardo Valente, 64’), Diego Medeiros e Welthon (Luiz Phellype, 85’)

Treinador: Vasco Seabra

Suplentes não utilizados: Mário Felgueiras, João Góis, Pedro Monteiro e Christian

Benfica: Ederson; Nélson Semedo, Luisão, Lindelöf, Eliseu (Raúl Jiménez, 81’); Samaris, Pizzi, Salvio (Rafa, 60’), Zivkovic (Cervi, 73’); Jonas e Mitroglou

Treinador: Rui Vitória

Suplentes não utilizados: Júlio César, André Almeida, Jardel e André Horta

Ação disciplinar: cartão amarelo a Bruno Santos (48’), Ricardo Valente (76’), Eliseu (77’), Filipe Melo (90+1’) e Andrezinho (90+3’)

O terreno do P. Ferreira já é conhecido por ser “apertado”, daqueles mesmo à antiga onde uma baforada com mais ar é sentida no pescoço dos jogadores que andem por ali ao pé da linha. O que o Benfica não sabia, ou pelo menos não estava preparado, era para uma barreira amarela tão densa à frente da baliza de Defendi. Com sucesso.

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Aos nove minutos, Jonas lá conseguiu arranjar espaço na esquerda para cruzar com muito perigo e Salvio, de baliza aberta, atirar ao lado. Tinha a baliza à sua mercê, mas a verdade é que chegou ligeiramente atrasado para fazer o desvio ao segundo poste. E lá voltámos à toada normal, com tudo acantonado no meio-campo pacense e um homem a dar, ganhar e distribuir jogo: Pizzi. Mas a jogar mais recuado do que devia.

Vasco Seabra montou uma estratégia colocando o principal enfoque no corredor central e nas movimentações de Jonas e Mitroglou. Pizzi também estavam no plano, mas o médio fugiu para outros terrenos e, a meio da primeira parte, tinha mais passes (25) do que o resto da equipa encarnada (24). O jogo estava intenso, disputado, mas sem balizas. Até que Eliseu pensou que, se não ia a bem, ia a mal – no local onde passou mais tempo, perto da área contrária, disparou um autêntico míssil que só rebentou no poste da baliza de Defendi, completamente batido pelo remate (26’). Até ao intervalo, o Benfica continuou a ser mais em tudo, menos nos golos.

Chegou o intervalo e mudou o chip da partida: o P. Ferreira deixou a versão “cão de fila” à frente da baliza para não sofrer e começou a explorar terrenos mais adiantados para atacar. Quase mordeu, pelo suspeito do costume: Welthon, a maior revelação deste campeonato que continua a mostrar ser uma oportunidade de ouro ao nível de Soares enquanto negócio, imitou Eliseu e, também de pé esquerdo, disparou uma bomba de livre direto que embateu na trave da baliza encarnada, ainda com um ligeiro toque de Ederson.

2

Este foi apenas o segundo jogo em 60 da Primeira Liga que Rui Vitória fez no comando do Benfica onde não houve golos. O primeiro tinha sido na Madeira, frente ao União, a 15 de dezembro de 2015. Daí para cá, apenas por uma vez os encarnados não tinham marcado na prova: em Setúbal, esta temporada, na derrota por 1-0

No final do encontro, Rui Vitória reforçou a ideia de que o Benfica não tinha ganho por demérito próprio, devido à má finalização. Ainda assim, e se virmos com atenção o filme do jogo, os encarnados não tiveram assim tantas oportunidades. Poder-se-á falar, isso sim, da incapacidade de criar perigo pelos corredores laterais, mesmo com Rafa e Cervi lançados para os lugares de Salvio e Zivkovic. E da falta de lucidez no último terço para desposicionar a densa muralha adversária, como admitiu Jonas. De chances claras de golo, nem por isso. E com o passar dos minutos, não fosse a exibição exemplar dos centrais encarnados, o desfecho poderia ter sido outro. Mas lá está, também o P. Ferreira teve o mesmo problema: não falhou o último toque mas sim o desenvolvimento até essa fase.

Nos derradeiros dez minutos, com os visitados em claro défice físico depois de todo o desgaste a que foram submetidos, o Benfica arriscou tudo, passou a jogar com três defesas e lançou Jiménez para junto de Mitroglou. O maior efeito da troca foi, sobretudo, o aumento do peso de Jonas no jogo – sofreu faltas, fez remates, ligou meio-campo e ataque, sacou amarelos. E foi dele a última oportunidade de golo (esta sim, uma oportunidade), mesmo no final da compensação, mas o cabeceamento como mandam as regras saiu tão perfeito que, após embater no chão, ganhou demasiada altura e passou por cima. O nulo era mesmo um cenário inevitável.

Quando menos se esperava, e quando menos o Benfica desejaria, terminou a série de seis vitórias consecutivas na Primeira Liga frente ao P. Ferreira que também já tinha batido o pé ao FC Porto (0-0). Agora, as atenções estarão viradas para o Dragão, onde os azuis e brancos poderão assumir a liderança da prova em caso de triunfo frente ao V. Guimarães. Depois, a 1 de abril, é dia de clássico. E parece mentira, mas os atuais campeões correm o risco de entrar atrás na classificação. Só se salvou uma coisa: Pizzi voltou a não ver amarelo. Porque sem ele, seria bem pior.