Ponto prévio: o seu a seu dono. Este domingo comemorava-se o Dia do Pai e, no mundo do futebol, aqui como em todos os pontos do mundo, a data foi assinalada sem exceção nas redes sociais. E a campanha que o FC Porto fez merece nota de destaque. Também aqui, não ficamos nada atrás dos grandes colossos da Europa.

O estado de espírito e as reações dos adeptos costumam ser um bom barómetro para o momento de uma equipa. E num instante tudo pode mudar. Alguém imaginaria que os mesmos que tinham dispensado uma enorme salva de palmas ao Benfica depois da copiosa derrota em Dortmund receberiam com alguns apupos e o lançamento de uma tocha os mesmos atletas após o nulo em Paços de Ferreira? E que os mesmos que nos primeiros meses de temporada colocavam em causa os comandados de Nuno Espírito Santo vão agora às centenas para o aeroporto receber a equipa após uma derrota em Itália com a Juventus? Tudo isto aconteceu. E aquele anúncio de lotação esgotada colocado pouco antes do empate do nulo do Benfica parecia estar a adivinhar qualquer coisa. Afinal, parece que não: tudo continua na mesma porque o FC Porto também não foi além de um empate com o V. Setúbal (1-1).

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Porque num instante tudo muda. É certo que as 13 vitórias nas últimas 14 partidas da Primeira Liga ajudavam muito, mas nada como a liderança isolada no horizonte para dar outro fôlego ao Dragão. E isso notou-se, para sermos exatos, até antes do início do jogo: Nuno Espírito Santo lançou de início Corona para o lugar de André André, castigado, numa prova de que os azuis e brancos não queriam demorar muito a chegar ao golo. Ou aos golos, como tem vindo a ser hábito nas últimas partidas. O V. Setúbal, por seu turno, não apresentou cinco defesas, como chegou a ser ventilado, mas povoou o meio-campo com cinco unidades para combater esse poder de fogo.

Ficha de jogo

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FC Porto-V. Setúbal, 1-1

26.ª jornada da Primeira Liga

Estádio do Dragão, no Porto

Árbitro: Manuel Oliveira (Porto)

FC Porto: Casillas; Layún (Otávio, 76’), Felipe, Marcano, Alex Telles; Danilo, Óliver Torres; Corona (Diogo Jota, 61’), Brahimi; André Silva (Depoitre, 89’) e Soares

Treinador: Nuno Espírito Santo

Suplentes não utilizados: José Sá, Boly, Rúben Neves e Herrera

V. Setúbal: Bruno Varela; Vasco Fernandes (Pedro Pinto, 74’), Frederico Venâncio, Fábio Cardoso, Nuno Pinto; Fábio Pacheco, Bonilla (Edinho, 68’), João Carvalho; João Amaral, Costinha e Thiago Santana (Arnold, 82’)

Treinador: José Couceiro

Suplentes não utilizados: Pedro Trigueira, Vasco Costa, Meyong e Nuno Santos

Golos: Corona (45+1’) e João Carvalho (56’)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Fábio Pacheco (14’), Bruno Varela (33’), Óliver Torres (63’), Marcano (71’), João Amaral (83’), Arnold (90+3’) e Pedro Pinto (90+3’)

Os primeiros minutos deram uma imagem totalmente errada da metade inicial da partida: os sadinos conseguiam sair em transições e tentavam mesmo visar a baliza de Casillas, com Thiago Santana a atirar em jeito de fora da área para defesa fácil do espanhol logo aos quatro minutos. Vá, até aos cinco minutos, pronto. Depois houve mais 15 minutos mais dentro da normalidade, com o FC Porto mais dominador, mas apenas a criar perigo de bola parada (Felipe, num canto; Brahimi, de livre direto). Os visitantes davam boa réplica, mas o maior adversário era mesmo a ansiedade.

Uma grande jogada entre Corona, André Silva e Brahimi, com o argelino a ver o remate para golo travado em cima da linha por Vasco Fernandes, lançou os dragões para cerca de 30 minutos infernais até ao intervalo. E houve um bocadinho de tudo, inclusivamente numa jogada onde Marcano acertou no poste, Felipe viu a recarga bater num defesa contrário perto da linha e Soares, quando só tinha de encostar, permitiu a defesa a Bruno Varela (28′). Seguiu-se um cabeceamento de André Silva daqueles que parece golo antes de acontecer, mas a bola voltou a sair por cima (32′). E mais cantos. E mais livres. Santana ainda testou os reflexos de Casillas, mas água mole em pedra dura tanto bateu até que furou: após cruzamento de Óliver na esquerda, Corona, de primeira, atirou um míssil sem hipóteses para Bruno Varela. No primeiro minuto de compensação, o jogo parecia que ia mudar. E mudou, mas ao contrário do que todos poderiam prever. O V. Setúbal pareceu outro no segundo tempo.

André Silva, com um remate de ângulo apertado, ainda esteve perto do segundo golo (53′), mas seriam mesmo os sadinos a chocar o Dragão na única grande oportunidade que tiveram ao longo do jogo: João Carvalho, jogador cedido pelo Benfica no mercado de inverno, recebeu de forma orientada um cruzamento de Nuno Pinto e, num remate cruzado, conseguiu bater Casillas, guarda-redes que é só o menos batido da Europa (56′).

Nuno Espírito Santo não demorou a reagir, tirando o desgastado Corona para lançar Diogo Jota no jogo. E sentiu-se essa reação também dentro do terreno, com André Silva a cabecear de novo ao poste da baliza de Bruno Varela (67′). Mas o passar dos minutos foi o pior conselheiro para uma equipa que estava apenas a um golo de subir à liderança isolada da Primeira Liga quase 15 meses depois. Houve menos remates, menos situações, menos clarividência. O FC Porto começou a cometer erros atrás de erros e encontrou pela frente uma muralha com outros dois rostos made in Benfica: Fábio Cardoso e Frederico Venâncio (que até é filho do antigo capitão do Sporting Pedro Venâncio). Entrou Otávio, os dragões passaram a jogar com apenas três defesas, mas nada mudou. Entrou Depoitre e foi mais do menos. Mesmo com sete minutos de jogo a mais, o empate não mais se desfez. E vai tudo igual para o clássico, com o Benfica à frente com mais um ponto do que os azuis e brancos.

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Os dias que o FC Porto já leva afastado da liderança isolada da Primeira Liga. E que vão continuar a aumentar, pelo menos mais duas semanas, até ao clássico com o Benfica a 1 de abril. De 2 de janeiro de 2016 para cá, os dragões estiveram apenas duas vezes na frente, nas duas primeiras jornadas do presente campeonato, mas em igualdade pontual com outras equipas.

Este domingo foi Dia do Pai, mas foi tudo menos dia de Espírito Santo. Mesmo que a fé no título se mantenha. Como será que os adeptos vão agora reagir também a este contratempo? A resposta será dada a 1 de abril, no clássico. Porque num instante tudo muda.